V.23, nº 50 - 2025 (janeiro-abril) ISSN: 1808-799 X
JOSÉ LUIZ ANTUNES E SEUS TRABALHO (S) NECESSÁRIO (S)1
Lia Tiriba2
Sonia Maria Rummert3
Homens e mulheres são tecidos, se tecem e se apresentam no mundo como
síntese de múltiplas determinações. Como unidade do diverso, manifestam-se de
diversas maneiras nos espaços/tempos históricos que os constituem como seres
humanos. Mediados pelo trabalho, somos seres da natureza e seres de cultura.
Somos produtos das condições históricas e, ao mesmo tempo, sujeitos-criadores de
história. Entretanto, como destaca Marx, não fazemos a história como gostaríamos,
3Doutora em Ciências Humanas - Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ) - Brasil. Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: rummert@uol.com.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9928452814893376. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1187-8786.
2Doutora em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidade Complutense de Madrid (UCM) -
Espanha. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
Fluminense (UFF), Niterói - Brasil. E-mail: liatiriba@gmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2006259738336754. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0117-4160.
1Artigo recebido em 14/03/2025. Aprovado pelos editores em 28/03/2025. Publicado em 09/04/2025.
DOI: https://doi.org/10.22409/tn.v23i50.67276.
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mas de acordo com as condições materiais, objetivas/subjetivas em que buscamos
garantir os meios de vida necessários para nossa sobrevivência imediata e para a
reprodução de nossa existência como seres humanos
Essas e outras premissas epistemológicas e sociológicas nos fazem acreditar
que, no atual contexto de barbárie, em que, com o crescimento da direita e da
extrema direita e com as políticas ultra neoliberais que ameaçam a existência de
vida no planeta, mais do que nunca é necessário trazer evidências de que
permanecem vivas as lutas da classe trabalhadora. São lutas anticapitalistas de
combate às ofensivas do capital e, simultaneamente, de construção das bases de
um novo modo de produção da vida. Nesse processo de tornar hegemônicas formas
não capitalistas de fazer, pensar, sentir e estar no mundo, como disse Bertolt Brecht,
“há homens que lutam um dia e são bons, outros que lutam um ano e são
melhores, os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda
a vida e estes são imprescindíveis.”
Em nosso entender, esses homens e mulheres deveriam ser (re)conhecidos e
homenageados, sempre! Essa seria uma maneira de guardar na memória pessoas
imprescindíveis, registrando as suas particularidades sempre imersas na
dialeticidade do processo histórico.
A partir da compreensão do valor dessas homenagens, a Revista Trabalho
Necessário inaugurou, a partir da edição da TN 37 (2020), uma nova seção
chamada “Homenagem”, inspirada no materialismo histórico-dialético, entendido
como forma de interpretar o mundo e valorizar os que lutam por um mundo
construído por homens e mulheres livres da exploração do trabalho, seres humanos
de “novo tipo”. Assim, depois de Paulo Nosella, vieram como homenageados: Osmar
Fávero, José Roberto Novaes (Beto Novaes), Eunice Trein, Maria Ciavatta,
Francisco José da Silveira Lobo Neto, Carlos Rodrigues Brandão, Carlos Walter
Porto-Gonçalves, Celso João Ferretti, Ulisses Lopes e, agora, José Luiz Cordeiro
Antunes.
Para os editores e editoras, o objetivo da seção Homenagem tem sido o de
manifestar publicamente a admiração que sentimos por alguém, em particular por
aqueles homens e mulheres que apresentam, de diferentes maneiras, contribuições
ao materialismo histórico-dialético, como ciência e projeto societário, tanto no âmbito
de subsídios aos seus fundamentos teórico-metodológicos, quanto no âmbito da
práxis política-militante.
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Homenagear é uma maneira de reconhecer o mérito de cientistas sociais,
professores e educadores em geral no campo trabalho-educação e em outros
campos do conhecimento em que se destacam. A seção Homenagem é também um
lugar onde a Revista Trabalho Necessário pode guardar a memória desses homens
e mulheres imprescindíveis que se inserem com garra na vida prática, com objetivo
de transformar diferentes espaços/tempos das relações sociais que conformam o
nosso estar no mundo.
Em síntese, prestar homenagem é uma forma de expressar o respeito dos
editores/as e organizadores/as de um determinado número temático, como o que
agora a Revista Trabalho Necessário (TN 50) apresenta aos leitores na sua
quinquagésima edição: Marxismo, educação e relações étnico-raciais.
Talvez, o professor José Luiz Cordeiro Antunes seja a melhor pessoa para
explicar quais os sentidos que vimos atribuindo à seção Homenagem. Afinal, entre
2018 e 2024, ele foi editor da Revista Trabalho Necessário, e até hoje, se mantém
3
ao nosso lado, na condição de colaborador (e, por que não dizer, “eterno
consultor”?). É precisamente o nosso companheiro de tantas lutas que, agora,
homenageamos no espaço desse número organizado por Jacqueline Botelho (Grupo
THESE UFF/Escola de Serviço Social) e Jane Barros Almeida (Grupo Educação,
Luta de Classes e Perspectiva Antirracista UERJ/DCSE-Edu). E, evidentemente,
contando com o apoio de pesquisadores e pesquisadoras que compõe o Núcleo de
Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho Educação (NEDDATE/UFF);
pessoas estas que apesar “das duras penas” em que vivemos em uma universidade
pública e gratuita, fazem/fazemos desse espaço/tempo de produção científica
(pesquisa, ensino, extensão), um território de muitas lutas.
Por que decidimos que, neste exato número (TN 50), iremos dedicar a seção
Homenagem a José Luiz? Não apenas porque ele foi editor da Revista Trabalho
Necessário durante 07 anos ou porque resolveu que, a partir do ano de 2025,
priorizaria sua práxis educativa em atividades culturais para além da Universidade
Federal Fluminense. (Isso não significa que está nos deixando, mas que terá menos
tempo para se dedicar a nós, do NEDDATE).
Devemos registrar que a escolha desse número para homenageá-lo, se deve
também, e principalmente, ao fato de que a ementa ser “a cara” de José Luiz
Cordeiro Antunes, conforme é possível observar abaixo:
Ementa TN 50:
Neste número da Revista Trabalho Necessário, buscaremos reunir artigos que evidenciem
as contribuições do materialismo histórico e dialético para o entendimento das lutas
antirracistas no Brasil e no mundo. Receberemos estudos que promovam o diálogo entre
autores que discutam os fundamentos teórico-metodológicos e epistemológicos das relações
étnico-raciais, considerando a questão de classe social, raça, etnia, gênero, religiosidade e
outros elementos materiais e simbólicos da formação humana. Cabem reflexões sobre as
lutas antirracistas em escolas e universidades, lutas por libertação nos países da África,
América Latina e Caribe, experiências de classe e formas de resistência em diversos
espaços/tempos históricos, inclusive nos atuais processos de resistência quilombola,
indígena, camponesa e população ribeirinha, com vistas à afirmação da etnia, defesa do
território, dos saberes ancestrais, das culturas afro-indígenas e de modos de produção da
existência distintos do modo de produção capitalista. Também serão bem-vindos estudos
sobre as relações dialéticas entre o racismo, cultura, mundo do trabalho, Estado e educação
de crianças, jovens e adultos trabalhadores.
Por um José Luiz por inteiro. Por uma educação omnilateral
José Luiz Antunes nasceu no dia 04 de agosto de 1956, um dos quatro filhos
de Celina Cordeiro Antunes e Augusto Henrique Antunes. No centro umbandista que
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a mãe frequentava, José Luiz foi indicado para Goméia, uma casa de candomblé de
matriz africana. Hoje é Sacerdote do Candomblé, após 21 anos de feitura e estudos.
Sua importante inserção nas lutas antirracistas e em defesa da liberdade religiosa,
até mesmo porque esse trabalho militante constitui a essência do texto O homem, o
irmão e o guerreiro carinhosamente escrito por Tania Tgart4 (2025) e ilustrado com
imagens também por ela selecionadas.
Desejamos, aqui, evidenciar um José Luiz Antunes por inteiro, que se coloca
na contramão do sistema do capital, que se insere nas lutas antirracistas,
anticapitalistas e em defesa da liberdade religiosa. Tais características podem ser
compreendidas como dimensões da omnilateralidade que caracterizam,
fundamentam e atravessam os processos de formação humana integral, omnilateral.
Em outras palavras, no seu particular processo histórico-ontológico de fazer-se
humano e, ao mesmo tempo, classe trabalhadora, José Luiz se permite viver o que,
genericamente, Marx defendia acerca da necessidade de se exercitar a
multidimensionalidade humana, sendo-se, por exemplo, cantor, pescador, filosófico,
crítico literário etc., sem, contudo, deixar de ser trabalhador!
Da mesma maneira que não é possível separar o homus faber do homus
sapiens, tampouco é possível dividir o ser humano em várias partes, subdividindo-as
em mais e mais em pedacinhos, até chegar às menores partículas. Isso foi (e ainda
é) aquilo que o liberalismo, a ilustração e o pensamento cartesiano querem nos fazer
acreditar. Como todo e qualquer ser humano, José Luiz é uno. Podemos dizer que,
ainda que contraditoriamente, ele é inteiro no seu modo de fazer, pensar e sentir o
conjunto das relações sociais, dentro e fora da Universidade Federal Fluminense
(UFF). Afinal, não podemos subdividi-lo em partes, procedendo como “Jack, o
estripador”5, como costuma dizer o próprio José Luiz, em seus momentos de
ludicidade.
Além do reconhecimento de sua militância contra o antirracismo estrutural e
pela defesa da liberdade religiosa, em particular as de matriz africana, queremos
destacar “seu lado professor e educador”, o qual caminha no mesmo horizonte
ético-político que dá sentido ao modo de fazer o mundo.
5 Sobre “Jack, o Estripador”, pseudônimo de um famoso assassino em série, não identificado, que
atuou na periferia de Whitechapel, distrito de Londres e arredores em 1888, ver
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jack,_o_Estripador.
4 Tânia Tgart é professora, escritora e revisora. É dirigente do terreiro Ilê Axé Omó Efon Olobé Omi
(tradução: Casa da Força Sagrada aos Filhos da Nação Efon do Dono da Faca e da Água), localizado
em Maricá, Rio de Janeiro.
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Neste texto de Homenagem da TN 50, seguido do belíssimo texto de Tania
Tgart (2025), perseguimos os mesmos caminhos da referida autora. Buscamos
articular alguns dos múltiplos “pedacinhos” da plenitude de José Luiz Cordeiro. No
entanto, por ser José um homem de seu tempo, é preciso considerá-lo em sua
plenitude, tendo em conta, também, as contradições entre trabalho e capital que nos
conformam como seres humanos, além das múltiplas contradições da existência
humana, como nos assegura Karel Kosik. E hoje, no ano de 2025 ninguém duvida, a
não ser os capitalistas e/ou terraplanistas, que não é exagero dizer que a existência
dos seres humanos, não humanos e outros elementos da natureza, está ameaçada
pelo esgotamento das relações seres humanos-natureza mediada pelo trabalho (na
sua forma mercadoria).
As vozes dos pesquisadores e pesquisadoras do NEDDATE, que edita a
Revista Trabalho Necessário - estão presentes nesse texto. São falas/depoimentos
de pessoas que com ele conviveram na sala 525 (Bloco D) e na Faculdade de
Educação, nos cursos de Graduação em Pedagogia, tanto do Campus do Gragoatá
(Niterói), como do Campus de Angra dos Reis. Como exemplo, em complemento a
este texto, poderão ser apreciados depoimentos de estudantes que tiveram a
oportunidade de ter José Luiz Cordeiro Antunes como mestre.
José Luiz: de aluno a professor. Algumas notas
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Como indica a imagem acima, nosso homenageado estudou na Escola João
Kopke, em período atravessado pelo golpe civil-empresarial-militar que derrubou
João Goulart da presidência e deu início a mais um período ditatorial no Brasil. Teria
ele recebido uma formação humanística e frequentado uma escola do trabalho
(emancipado), como Antonio Gramsci gostaria de haver testemunhado? Tendemos a
considerar que não foi assim. Entretanto, sua formação ampla, em parte por ele
mesmo forjada, não trouxe marcas dos anos de chumbo, a não ser aquelas que o
fazem lutar, até hoje, “para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”.
Para quem conviveu com José Luiz na escola técnico-profissional do
Sindicato dos Metalúrgicos, entre 1985 e 1990, não é difícil reconhecer que sua
práxis política caminha no sentido de fortalecer as lutas da classe trabalhadora, o
que tem se materializado, cotidianamente, de diferentes maneiras. Naquela época,
na condição de Diretor do Colégio Metalúrgico, defendia uma educação
transformada e transformadora e comprometida com os interesses e necessidades
da classe trabalhadora. Para evidenciar esse compromisso, nada melhor do que a
própria a matéria publicada no jornal do sindicato, quando da implantação de novo
modelo pedagógico idealizado por José Luiz e sua equipe.
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.
Jornal O Metalúrgico (s.n.b)
Posteriormente, ingressou na Universidade Federal Fluminense, como
professor assistente de “Princípios e Métodos de Orientação Educacional”, disciplina
para a qual prestou concurso público em 1991, na Faculdade de Educação (UFF),
na qual permaneceu até 2017, quando se aposentou. Entretanto, se manteve como
pesquisador do NEDDATE Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre
Trabalho e Educação, do qual foi, também, um dos coordenadores.
Graduado em Pedagogia, é mestre em Educação pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (1995/2001), tendo cursado o doutorado na Universidade
Nacional de Buenos Aires 2004/2012), sem tese concluída devido a diversos
empecilhos de ordem pessoal.
Defensor do direito de todos e todas à escola pública, atuou nos diferentes
níveis/etapas/modalidades da educação básica, com destaque para suas diversas
experiências nos campos de Trabalho-educação e Educação Profissional,
considerando tanto a educação escolar como diferentes contextos formativos.
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José Luiz no Campus do Gragoatá
Faculdade de Educação (UFF), anos 2000
Durante os 25 anos na UFF, trabalhou nos Cursos de Graduação em
Pedagogia (Angra dos Reis e em Niterói) e no Curso de Graduação em Enfermagem
(Bacharelado e Licenciatura) da UFF, em Niterói e Rio das Ostras. Na
Pós-graduação Lato-Sensu foi professor e coordenador dos cursos: Currículo e os
Profissionais da Escola; Educação Brasileira e Movimentos Sindicais, além de
Diversidade Cultural e Interculturalidade: Matrizes indígenas e africanas na
educação brasileira.
A partir de sua prática política estudantil e sindical, José Luiz Cordeiro
Antunes se debruçou nas análises comparativas das ações educativas
desenvolvidas pelos movimentos dos trabalhadores em Educação (SEPE, ANFOPE,
UPPE), tanto no Rio de Janeiro como na Argentina (UTE, SADOP, SUTEBA e
CTERA), se aproximando das discussões sobre Trabalho, Educação e Movimento
Sindical Docente. Antes, porém, quando atuava no Sindicato dos Professores do Rio
de Janeiro - SINPRO um fato veio a marcar para sempre sua vida. Foi que
conheceu Maria do Socorro Fernandes Barcelos6, sua permanente companheira de
6 Agradecemos à querida Maria do Socorro Fernandes Barcelos, companheira de José Luiz, por ter
nos ajudado a resgatar o fio da meada das experiências que vivemos com ele.
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vida desde aquele tempo de militância no SINPRO e no Colégio Metalúrgicos Elpídio
Evaristo do Santos, do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.
Aproxima-se das discussões sobre Trabalho, Educação e Saúde, criando o
GETEPES Grupo de Estudos sobre Trabalho, Educação e Práticas Educativas em
Saúde, grupo inserido ao NEDDATE (2007-2017) do qual também foi coordenador.
Também fez parte do Conselho Consultivo da BVS - Biblioteca Virtual de Saúde. Na
EEAAC - Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da UFF lecionou a
disciplina Pesquisa e Prática de Ensino (2007-2017). Sua fecunda passagem pelos
cursos de Enfermagem, pode ser melhor conhecida pela leitura dos depoimentos de
professores e ex-estudantes, que apresentamos após nosso texto-homenagem.
Indo ao encontro do número temático sobre Marxismo, educação e relações
étnico-raciais (TN 50 - jan-abr 2025), é importante destacar sua atuação junto aos
movimentos sociais que lidam com a educação dos trabalhadores jovens e adultos
afrodescendentes, pautando sua atuação nos fundamentos das relações entre
Trabalho, Educação e Relações Étnico-raciais. Essas questões tornaram-se,
também, objeto de estudo e de aprendizado em disciplinas como “Mitologia africana:
as cosmologias Sudanesas e Bantus na população brasileira” (2009) e “Raça,
currículo e práxis pedagógicas (Enfermagem e Serviço Social /UFF, entre 2009 e
2017). Não podemos deixar de destacar sua atuação como professor de “Pesquisa
em educação e as questões étnico-raciais” em um curso de pós-graduação lato
sensu.
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No campo político-administrativo participou de diversas gestões, quer seja na
universidade, na ANFOPE, nos Sindicatos, na composição de comissões como
organizador de eventos político-educativos, em comissões de atividades culturais
etc. Participou do Fórum Negros e Negras em Movimento de Angra dos Reis e do
PENESB- Programa de Educação do Negro na Sociedade Brasileira e do LABOEP
Laboratório de Educação Patrimonial, aproximando -se das discussões sobre
Trabalho, Educação e Cultura.
Sobre sua atuação específica em Angra dos Reis, não tivemos a possibilidade
de recolher, em um breve espaço de tempo, os depoimentos de estudantes de
graduação do Curso de Pedagogia de Angra dos Reis (UFF), mas sabemos de sua
importância como professor e em particular sobre seu “estar à frente, coletivamente”
no Grupo de Pesquisa Trabalho-Educação e presente em diversos NEAPs – Núcleo
de Estudos e Atividades Pedagógicas, que percorriam e atravessavam todo o
currículo de formação de professores/educadores. Também devemos registrar que
sobre a experiência de formação de pesquisadores/as em trabalho-educação em
Angra dos Reis, existe um número do Boletim do NEDDATE, que não tivemos a
oportunidade de reproduzir aqui.
NEDDATE: “o pouso do guerreiro”
Embora sua militância percorra diversos espaços/tempos da Universidade
Federal Fluminense (UFF), José Luiz não se perde nos corredores, estradas e
caminhos que o levam a Niterói, Angra e Rio das Ostras. Na Faculdade de
Educação, Campus do Gragoatá, o “pouso do guerreiro" é na sala 525, do bloco D.
Devemos salientar sua atuação como membro do NEDDATE, onde participou
como editor dos Informativos e Boletins do NEDDATE, em conjunto com a
professora Maria Ciavatta. Sendo, também, como afirmado anteriormente, um dos
editores da Revista Trabalho Necessário (2018-2024). Até hoje, além de permanecer
como membro de seu Comitê Científico, permanece na condição de colaborador
como assistente de edição. Na verdade, como também dito, é nosso “eterno
consultor” para assuntos de edição de periódicos eletrônicos.
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A atuação de José Luiz na Faculdade de Educação da UFF e, em particular
no NEDDATE, possui marcas indeléveis. Como deixar de mencionar sua dedicação,
sua capacidade de organização do espaço físico e do acervo documental, a atenção
aos mínimos detalhes, o cuidado com as plantas, o carinho e a delicadeza para com
os companheiros e companheiras do Núcleo. Para ele, a toalha de chita deveria
estar sempre bem-posta para receber professores e estudantes em dias de reuniões
e de festas. Mas, ele sabe que desde a pandemia (e dos pandemônios), tudo ficou
mais difícil. Até hoje, o insiste sobre a necessidade de retomar, ativamente,
nossas atividades presenciais na Universidade, o que também é estimulado pela
ADUFF.
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Com não destacar, também, o desvelo com que se dedicou, e se dedica, às
tantas edições da Trabalho Necessário e, ainda, a capacidade de compartilhar seus
conhecimentos e a alegria com que sempre faz isso. Poderíamos continuar, em
outros parágrafos, ressaltando suas qualidades como profissional e ser humano
raro. Entretanto, consideramos mais adequado, dar voz aos integrantes do
NEDDATE que, com prazer, escreveram para José Luiz, mensagens cheias de
consideração e afeto, ao sabê-lo o homenageado da TN quando se comemora a
publicação de seu quinquagésimo número7.
Angela Rabello Maciel de Barros Tamberlini
Nosso companheiro José Luiz Antunes, durante muitos anos, se dedicou
integralmente ao NEDDATE. Extremamente comprometido com o nosso Núcleo,
cuidava, desde as questões do cotidiano, como funcionamento, manutenção e
patrimônio de computadores e bens do NEDDATE, rega e atenção às plantinhas,
7 Pedimos desculpas a diversas pessoas do NEDDATE e dos diversos espaços da UFF, pelo pouco
tempo hábil para solicitar depoimentos sobre nosso homenageado.
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cuidado e organização de acervos e artigos, até a editoração da Revista Trabalho
Necessário, selecionando artigos, solicitando pareceres e zelando, cuidadosamente,
pelo pagamento de Landhor, de suma importância para a correta inserção e
adequação à plataforma OJS, de nossa revista no site.
Lembro-me de quando entrei no NEDDATE, em 2013, da amistosa acolhida
de José Luiz, com seu jeito amável, me presenteando com um colar e me desejando
um caloroso axé de boas-vindas. Neste momento em que ele se afasta para cuidar
da saúde e curtir a vida, lhe desejamos toda a felicidade do mundo e agradecemos a
sua competente, duradora e fundamental contribuição ao bom funcionamento do
NEDDATE e às afetuosas relações humanas com as quais nos brindou.
Domingos Leite Lima Filho
Desde setembro de 2023, por ocasião de minha chegada como professor
visitante no PPGEd/UFF, passei a integrar a equipe do NEDDATE e da Revista
Trabalho Necessário. Neste curto, porém intenso período, tive a felicidade de
conhecer e desfrutar do convívio e trabalho conjunto com o colega Zé Luiz Antunes,
especialmente nos encaminhamentos da TN.
Propositivo, solidário, polêmico, sobretudo aberto ao diálogo construtivo e
sempre comprometido com o coletivo, eis as melhores qualidades deste colega de
lutas e caminhadas. Minha admiração e agradecimento ao nosso grande amigo e
companheiro.
Jacqueline Botelho
José Luiz me acolheu na Revista. Antes de se tornar o amigo carinhoso que
é, o colega do NEDDATE, o professor José Luiz Antunes, ao se apresentar, sempre
lembrou da importância da formação de décadas no NEDDATE, no candomblé e do
compromisso com sua companheira de vida. Assim, mostrou-se claramente, de
forma franca, direta e aberta, como diz Gonzaguinha, algo raro na Universidade.
Para mim, é marcante a figura do zelador, o pai que cuida do seu povo.
José Luiz nos ensina que não precisamos deixar quem somos fora da
universidade para estar nela. Mostra que os saberes ancestrais merecem mais
respeito. Que vestir o branco é um direito do povo de santo, que deve ser respeitado
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como sua cultura, em todos os espaços, inclusive na Universidade. Ao lembrar de
José Luiz, lembrarei de Angola.
Cuidar é uma das tarefas mais difíceis, e José Luiz a enfrenta com maestria
nesse mundo ao cuidar do NEDDATE, de sua família, de seus amigos.
Que África e a ancestralidade dos orixás possam caminhar com você sempre.
Obrigada, meu amigo! Gratidão!
Jaqueline Ventura
Estimado companheiro José,
Seu próprio e-mail, lutajose, diz muito sobre você: um professor da
luta—das lutas essenciais e incansáveis nos campos da educação, da cultura e da
saúde, sempre ancorado na perspectiva epistemológica de Trabalho-Educação. Sua
atuação interligando essas áreas de maneira orgânica e comprometida com a
transformação social certamente marcou gerações de estudantes, de colegas de
trabalho e de irmãos/filhos de santo.
Nosso espaço de convívio e aprendizado foi o NEDDATE, onde, por muitos
anos, testemunhei sua dedicação ao Núcleo e às suas demandas, sempre com
seriedade e compromisso. Esta homenagem é um reconhecimento de sua trajetória
e, ao mesmo tempo, um apelo para que sua face de luta jamais se aposente—o país
precisa de você, Luta, José!
Receba este abraço imenso, carregado de afeto e gratidão.
Maria Ciavatta
Conheço José Luiz Antunes muito tempo, desde quando ele fazia
doutorado na Argentina e conversava sempre com Gaudêncio.
José Luiz, em todas as minhas lembranças, é uma pessoa simples no trato,
mas firme nas convicções políticas e espirituais. Além disso, marcou presença no
NEDDATE com atribuição definida.
Tanto quanto me lembro, a aparência meio bagunçada da sala mudou.
Tornou-se um ambiente com lugar para as coisas. Foi um movimento silencioso de
decoração com cartazes, de exposição dos Boletins que antecederam a Revista
Trabalho Necessário, de definição dos armários, de organização do acervo de
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documentos. Foi a sensação de entrar em uma sala agradável para a convivência e
o trabalho acadêmico.
José Luiz, dividiu os espaços para os materiais de cada pesquisador do
Núcleo. Acho que coincide com a chegada de computadores, com a Coordenação
de Lia e o descarte progressivo de teses e dissertações que tinham cópia digital no
Catálogo da Capes.
Sua presença na Revista Trabalho Necessário fez-se sentir pela atuação
silenciosa e eficiente, pelos avanços conjuntos com Lia na editoração e manutenção
da Revista.
Meu sentimento, com o colega, é de agradecimento por sua presença firme,
amável, em todos os anos de vida que ele dedicou ao trabalho com os colegas
professores e estudantes do NEDDATE. José Luiz mora em meu coração.
Maria Cristina de Paulo Rodrigues
Não deveria, mas sempre acho difícil começar um texto sobre alguém
querido. Fico pensando no que pode faltar, no que pode ser interpretado de maneira
diversa da que eu havia pensado! Então, vim adiando a escrita sobre meu caro
amigo Luiz, buscando, nestes dias, inspiração para colocar no papel as histórias
e memórias que dividimos neste tempo juntos no NEDDATE e na editoria da revista
Trabalho Necessário.
Em 2016, após a defesa da minha tese de doutorado, me tornei membro
permanente do núcleo e, a partir de 2018, compus a equipe editorial da TN, junto
com Lia e José. Foram quatro anos intensos, até 2021, em que nos reuníamos
quase que semanalmente, para produzir os três números anuais da revista. E como
aprendemos juntos! Não apenas sobre as temáticas publicadas, os meandros
técnicos e políticos para colocar a revista no ar, mas também sobre as relações de
trabalho, de afeto e compromisso que nos levaram à editoria e mesmo à
universidade.
Eu era a novata naquele trio, que e Lia como várias vezes ouvi dos
dois eram amigos mais de trinta anos. Mas nunca me senti “café com leite”
entre eles. Pelo contrário, fui trazida para aquela intimidade com muita abertura,
liberdade e também confusão! De nós três, Zé Luiz era e ainda é o mais emocional e
emotivo, defendendo o NEDDATE e a revista como a um filho/filha, um amigo/amiga,
um amor. E digo isso com admiração e respeito, pois, apesar das nossas inúmeras
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discussões teóricas, políticas, existenciais tivemos sempre a certeza de que
éramos uma equipe e, como tal, contávamos um com o outro. Quantas vezes nos
telefonamos e “choramos as pitangas” um com o outro? Quantas vezes saímos prá
almoçar juntos, os três (lembram daquele chocolatinho tomado na fila prá pagar?)!
Quantos pequenos – e grandes – presentes ganhamos de você! Uma plantinha, uma
árvore! O meu pé de manacá está bem crescido lá em Camboinhas.
Também conversamos muito sobre ficar e/ou deixar ir. Papos difíceis e
profundos, porque diziam sobre nossos ideais e compromissos, estes que fomos
construindo na nossa trajetória na universidade a sua, muito mais longa que a
minha -, mas também sobre o desejo de descobrir novas possibilidades. Fico feliz
que você tenha se permitido, agora, experimentar outros horizontes. E tenha certeza
de que todo seu trabalho, todo o seu amor pelo NEDDATE e pela revista, as
sementes que você, generosamente, plantou, germinarão.
Te amo, amigo!
Cristina (05 de fevereiro de 2025).
Regis Arguelles
O prof. José Luiz foi fundamental para que eu pudesse entender como
funciona uma revista acadêmica em suas minúcias, quando trabalhei ao seu lado na
Revista Trabalho Necessário. Através de sua dedicação incansável, José Luiz
contribuiu por muitos anos em todos os processos de edição. Em outras palavras, é
possível afirmar que as impressões de seu cuidadoso trabalho estão por muitos
números dessa importante publicação. Agradeço a ele pela generosidade e
disposição para ensinar e dialogar, nos mais diversos momentos. A sua falta na
revista será sentida por todo o NEDDATE.
Sandra Morais
Querido José Luíz
Falar sobre o colega, Professor José Luiz é falar sobre amor e
companheirismo. Convivemos durante muitos anos no NEDDATE e ele era uma
espécie de “xerife” do local. Mas não um “xerife” do mal, mas sim do bem. Cuidava
de tudo. Tanto da parte material do nosso Núcleo, quanto da parte de organização
do mesmo.
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Organizou as pastas, com todas as documentações necessárias. Quando
tivemos que modificar o Estatuto do Núcleo, era a ele que recorríamos, pois
conhecia o Estatuto em todos os detalhes. Sempre foi uma pessoa muito carinhosa
e dedicada em tudo que fez e faz.
Lembro bem de um festejo de fim de ano, comemorado no NEDDATE, ele
chegou com presentes para cada um de nós, membros do Núcleo. Não esqueceu de
ninguém. Fiquei muito impactada, pois não sabia como retribuir o carinho.
Houve uma vez, na Pandemia da COVID, quando a Universidade ficou
fechada, na volta, ele reclamou comigo, na época então vice coordenadora do
Núcleo: “essa sala está muito suja”. Fiquei chateada e logo ele notou e se
desculpou. Afinal, a culpa não era nossa.
Tivemos uma relação mais estreita quando fizemos a tabela de pagamentos,
entre os professores do Núcleo, para o Lândhor, nosso técnico de informática (TI) da
Revista Trabalho Necessário (TN). Todo o mês, nos falávamos antes do dia 5, para
verificar os responsáveis pelo pagamento. Foram alguns anos assim. Nunca deu
errado. Quando acontecia algum problema, eu ou ele cobríamos o devedor.
Tudo que ele fez para a Revista Trabalho Necessário é de grande valor. Foi
um revisor atento e preocupado. Portanto, falar do Professor José Luíz é falar de
amor, carinho, dedicação, responsabilidade e amizade. Te desejo tudo de bom e
melhor companheiro. Você merece! Beijos.
Por fim…
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A homenagem da Revista Trabalho Necessário ao companheiro José Luiz
Cordeiro Antunes foi tecida por muitas e muitas mãos, e organizada pelas editoras
na TN 50 da seguinte maneira : a) texto “O homem, o irmão e o guerreiro” , de Tania
Tgart (professora, escritora, revisora e dirigente do terreiro Ilê Axé Omó Efon Olobé
Omi localizado em Maricá, Rio de Janeiro; b) o texto, que ora apresentamos,
intitulado “José Luiz Antunes e seus trabalho(s) necessários”, de autoria de Lia Tiriba
e Sonia Rummert. A seguir, a terceira parte, como leitores e leitoras poderão
conferir, trata-se do texto “Oito cartas a José Luiz Antunes de professores de
ex-alunos do Curso de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense.
Vale ressaltar que os textos e imagens que compõem a homenagem,
foram possíveis graças à participação/contribuição dos membros do NEDDATE,
além de Sandra Butschkau (ex-bolsista de Iniciação Científica do CNPq/Lia Tiriba,
que atuou na Revista Trabalho Necessário), Tânia Tgart (terreiro Ilê Axé Omó Efon
Olobé Omi), Rafael Rodrigues Polakiewicz (ex-estudantes de Enfermagem), além de
Maria do Socorro Fernandes Barcelos (companheira de José Luiz).
Para finalizar, queremos dizer que, para nós autoras deste segundo texto que
compõe a merecida homenagem a este ser humano multidimensional, foi um prazer
imenso reunir alguns dados, embora os consideremos insuficientes para dar conta
de tantos anos de convivência no NEDDATE e em outros espaços da vida8.
Com carinho, Lia Tiriba e Sonia Rummert.
Rio de Janeiro, no calor do carnaval de
2025.
8 Lia Tiriba convive com José Luiz Antunes desde 1983. Entre 1985 e 1990 estiveram juntos na
escola técnica do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, ele como diretor da escola, e ela
como Assessora Pedagógica da diretoria do referido sindicato. Como sindicalistas, militaram no
Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro - SIMPRO, participando de diversas mobilizações e
greves. Desde 1991, ano de seu ingresso na UFF, a convivência tem prosseguido até os dias de hoje.
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