EDITORIAL¹


Escrevemos este Editorial com duplo propósito. O primeiro é o de apresentar, como de praxe, os trabalhos que integram o presente número, tecendo sobre eles, breves comentários. Já o segundo reveste-se de caráter especial, uma vez que ao oferecer aos leitores o número 28 de Revista Eletrônica Trabalho Necessário, nos despedimos dos leitores.

Assumimos o trabalho de editoração da revista em 2013 e, nos primeiros anos, contamos com preciosas contribuições de outros colegas que não podemos deixar de aqui mencionar: Ronaldo Rosas Reis, André Feitosa, Luciana Requião e Maria Inês Bomfim. Esses companheiros de jornada, em momentos e circunstâncias diferentes, passaram a se dedicar a outros trabalhos necessários, mas deixaram a marca de suas fundamentais contribuições. A eles agradecemos sinceramente e debitamos, também, a trajetória exitosa da TN ao longo destes cinco anos.

Embora classificada pela CAPES como B3 na última avaliação, não podemos deixar de considerar o êxito de nosso periódico que até o final de dezembro de 2017 contabilizava mais de oitenta mil visitas, registradas desde setembro de 2015. Também consideramos importante sublinhar que, de 2013 a 2017, foram publicados noventa e dois artigos escritos por autores de todas as regiões do país e do exterior. Além dos artigos, foram publicados também ensaios e, quase ininterruptamente, a Seção Memória e Documentos. Nestes cinco anos, editamos treze números, sendo que a publicação semestral de 2013 e 2014 ampliou-se, a partir de 2015, para a periodicidade quadrimestral.

Cabe-nos, ainda, assinalar que todo este trabalho editorial só foi viável com a colaboração de colegas que, integrantes do Comitê Científico, tiveram a disponibilidade de analisar os trabalhos enviados, todos eles submetidos à avaliação duplo-cega. Àqueles que atenderam às solicitações feitas ao longo destes cinco anos, o nosso fraterno e sincero obrigada. Aos muitos companheiros de jornada - autores, pareceristas e integrantes do Comitê Científico e do Conselho Editorial – bem como aos nossos mais de oitenta mil leitores, apresentamos nosso reconhecimento sob a forma dessa muito

¹ DOI: https://doi.org/10.22409/tn.15i28.p9665


TrabalhoNecessario – www.uff.br/trabalhonecessario; Ano 15, Nº 28/2017

sumária prestação de contas, passando, agora, a tratar do presente número da Trabalho Necessário.

O periódico tem início com o artigo “Sociedade do trabalho e a vida determinada pela identidade de gênero: por uma perspectiva materialista da condição socioeconômica da comunidade trans, de autoria de Eduardo Sá Barreto e Igor Lira. Nele, os autores apresentam “uma reinterpretação dos desafios socioeconômicos enfrentados pela comunidade transgênera”, valendo- se de contribuições do pensamento feminista. A argumentação se desenvolve em três dimensões complementares: “uma crítica à própria sociedade do trabalho; uma discussão quanto às possibilidades de realização das demandas da comunidade trans; e a demonstração da necessidade de que elas assumam caráter anticapitalista”. Não é demais assinalar que a opção por iniciar o presente número com este artigo decorre do fato de ser a primeira contribuição aprovada por nossos pareceristas acerca de tema de grande pertinência e atualidade, até então ausente deste periódico. Sua particularidade e interesse derivam, ainda, da interlocução estabelecida com autores polêmicos no que se refere à abordagem da centralidade da categoria trabalho. Colocá-lo, portanto, em primeiro plano representa uma forma de anunciar a importância de que novas contribuições similares venham se somar a esta em números futuros.

A seguir, William Kennedy do Amaral Souza e Lia Tiriba analisam “os nexos entre economia e cultura nos processos de produção da existência humana” no artigo “Nexos entre economia e cultura: contribuições do materialismo histórico e da antropologia marxista”. Trata-se de uma importante contribuição/desafio à necessária reflexão alargada acerca das diferentes dimensões do real, à luz do materialismo histórico dialético. Nesse sentido, deve ser ressaltada, também, a proposta de tencionar a importante contribuição da antropologia à luz do mesmo referencial teórico-metodológico.

No trabalho “As políticas públicas educacionais da ditadura empresarial- militar brasileira no bojo das disputas entre frações burguesas pelos rumos da educação”, Renata Azevedo Campos, retoma, com pertinência, o debate acerca da educação no período da ditadura civil-militar, abordando, especificamente as políticas educacionais à luz do modelo de desenvolvimento

então hegemônico, em seus diferentes aspectos das correlações de forças. A contribuição da autora avança ao evidenciar a existência de “dois projetos educacionais, correspondentes a duas frações da burguesia brasileira: da burguesia multinacional e associada, organizada no Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais e dos empresários de ensino, participantes dos Congressos Nacionais dos Estabelecimentos Particulares de Ensino”. Corroborando a tese de que o poder não é um bloco monolítico, o trabalho concorre para a reflexão sobre o período e sobre seus posteriores desdobramentos até a atualidade.

No quarto artigo, “A implementação do PRONATEC no IFPE”, o tenso e polêmico entrelaçamento dos Institutos Federais com o PRONATEC é analisado por André Luís Gonçalves Pereira. Fundamentado em análise documental e na “realização de entrevistas semiestruturadas junto a gestores, docentes e egressos do Programa”, o autor evidencia “os efeitos da oferta de cursos muitas vezes desconectados com a história de diferentes campi”. Do mesmo modo, ressalta “dificuldades relacionadas a uma estrutura deficiente” e a ausência de uma “concreta assistência estudantil”.

Em sequência, o artigo “A formação humana no Ensino Médio Integrado: o que dizem as pesquisas”, Crislaine Cassiano Drago analisa a produção acadêmica acerca do tema, disponível no “Repositório da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) entre os anos 2000 e 2015”. Fundamentada em seu detido trabalho de análise, a autora conclui que, efetivamente, o “Ensino Médio Integrado é marcado pela dualidade estrutural e que sua materialidade, embasada numa concepção de educação politécnica, ainda não se efetivou na sociedade brasileira”. Defende, entretanto, a tese de que apesar dos múltiplos entraves, o EMI constitui uma possibilidade de formação emancipatória da classe trabalhadora, contribuindo para o desenvolvimento de sua autonomia e participação cidadã na busca por uma sociedade “mais democrática”.

É de autoria de Elisabeth de Fátima da Silva Lopes e de Carmen Lucia Bezerra Machado o sexto artigo deste número da Trabalho Necessário: “Concepções teórico-práticas da formação inicial e continuada de preceptores e residentes do programa de residência multiprofissional em saúde de um hospital público da Região Sul”. Nele, as autoras, a partir de pesquisa

qualitativa, analisam as concepções de profissionais da área da saúde em um hospital público, constatando que as mesmas são pouco permeáveis a transformações tanto no que concerne às ações de caráter predominantemente formativo quanto àquelas mais diretamente voltadas para o trabalho de atendimento. Por outro lado, destacam também que “a residência tem estimulado os profissionais a repensarem práticas que expressem a realização do trabalho integrado em saúde”.

Finalizamos a apresentação dos artigos com o trabalho “A lógica do sistema capitalista e a práxis dos pescadores artesanais da Colônia Z-16 de Cametá/PA, de autoria de Raimundo Nonato Gaia Correa e Fred Junior Costa Alfaia. Os autores nos apresentam reflexões acerca de como as “determinações do sistema capitalista se expressam na práxis dos pescadores artesanais da Colônia de Z-16 de Cametá/PA”. Trabalhando com revisões bibliográficas e entrevistas semiestruturadas, os autores concluem que os pescadores artesanais, ao constatarem os negativos impactos gerados pela construção da Hidrelétrica de Tucuruí, desenvolvem uma práxis de reação e se organizam politicamente a partir da Colônia Z-16, embora, contraditoriamente, também afirmem interesses do sistema capitalista”.

Finalizamos este número com a seção Memória e Documentos, na qual as editoras trazem uma homenagem ao importante intelectual brasileiro Ciro Flamarion Cardoso, que nos deixou no mesmo ano em que assumimos a editoria. Na ocasião, no Editorial da Trabalho Necessário número 16, primeiro assinado por nós, então juntamente com Maria Inês Bonfim e Ronaldo Rosas Reis, registrávamos assim o impacto da perda: “O presente número da Revista Eletrônica Trabalho Necessário é dedicado à memória do professor Ciro Flamarion Cardoso, falecido em junho último, cuja rica e densa obra permanecerá viva entre nós”.

Durante este período, procuramos seguir, modestamente, um de seus ensinamentos transmitidos na vida cotidiana: acolher o novo sem se deixar levar pelos entusiasmos frágeis em relação aos modismos e aos arroubos novidadeiros e produtivistas. Esperamos ter conseguido.

Desejamos, aos colegas do NEDDATE Lia Tiriba, Maria Cristina Rodrigues e José Luiz Antunes sucesso na tarefa que agora assumem, com grande entusiasmo, como novos editores.

Que continuemos todos, cada um em seus espaços, realizando, cotidianamente, nosso trabalho necessário.

Editoras

Sonia Maria Rummert Jaqueline Ventura


Assistente de Edição Camila Azevedo Souza


Equipe Editorial

Taynara Bastos Teodoro


Publicado em: 31 de janeiro de 2018