Entre a “judaria interna”, a “pista salgada” e o “medo de se entregar”: Uma etnografia das representações de medo entre policiais militares do Estado do Rio de Janeiro

Resumo

Neste trabalho procura-se mostrar o caráter polissêmico da categoria “medo” na Polícia Militar do Rio de Janeiro, bem como pôr sob descrição etnográfica as múltiplas representações, símbolos e valores que perpassam o temor do policial. Perceber estas impressões – a partir da observação nativa – requer a transposição de muitos obstáculos, a começar pelo difícil exercício do estranhamento do familiar. O que não quer dizer que a familiarização com o objeto de pesquisa não permita certas vantagens epistemológicas. Como resultado, este trabalho, fruto de uma etnografia entre os policiais militares fluminenses, trouxe a lume os vários medos que assombram estes profissionais da segurança pública. Revelou, também, como o medo é acionado dentro de uma rede de controle e negociação simbólica, em que o subordinado sempre está “nas mãos” do superior hierárquico. Por fim, os dilemas, disputas e tramas mostrados nesta etnografia, servem para nos apontar para como, e por que, o policial militar está institucionalmente condenado a uma relação incestuosa entre medo, erro e punição. 
Palavras-chave: Policia Militar, Medo, Punição Disciplinar, Erro.