Sobre orgulho, vergonha e superação: o impacto da corrupção na dotação de sentido ao trabalho entre os funcionários da Petrobras

Resumo

Nos últimos dois anos o Brasil vê o desenrolar de uma operação policial que atingiu em cheio a principal empresa estatal do país. Chamada de “Lava Jato”, as investigações capitaneadas pela Polícia Federal tinham como objetivo inicial desbaratar esquemas de lavagem de dinheiro envolvendo lobistas, empresários e políticos brasileiros. Não levou muito tempo até que as investigações chegassem à Petrobrás, onde foram denunciadas diversas ações fraudulentas de pagamento de propinas através de empresas fantasmas, “laranjas”, visando ao financiamento de campanhas políticas, acordos de favorecimento e enriquecimento ilícito de seus agentes. Neste cenário específico, os aspectos subjetivos relacionados ao trabalho dos funcionários da Petrobrás merecem atenção. Pesquisas acerca do significado do trabalho multiplicam-se no meio acadêmico, reforçando a relevância que a dotação de sentido à atividade profissional tem tanto no desempenho dos funcionários, como no das organizações como um todo (ROSSO, DEKAS e WRZESNIEWSKI, 2010). Esta pesquisa, através de entrevistas em profundidade com empregados da estatal, investigou o impacto da percepção da corrupção no significado do trabalho, de acordo com a definição tridimensional do modelo teórico proposto pelo MOW (1987). Pelas declarações coletadas, percebe-se que a segunda dimensão do construto - a que trata das normas sociais, sobre direitos e deveres relacionados ao trabalho do indivíduo para com a empresa e a sociedade – foi a mais impactada, principalmente no que se refere aos deveres dos profissionais para com a empresa e a sociedade. As outras dimensões – centralidade e objetivos e resultados valorizados do trabalho – foram influenciadas em menor grau.