De invisíveis a símbolo
mulheres negras a partir do imaginário futebolístico brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.22409/rcc.v1i19.60146Resumo
A proposta deste ensaio, consiste em refletir antropologicamente se a categoria Representatividade é uma possível via de compreensão da construção das identidades étnico-raciais e de gênero em Goiânia, capital de Goiás. Tendo como pano de fundo a História e a Antropologia do Esporte no Brasil (com destaque para o Futebol) e a História das Mulheres em Goiás. Por via do aparato teórico/metodológico da interseccionalidade, proposto pela teoria feminista negra. Em diálogo direto com a produção pioneira da antropóloga Simoni Lahud Guedes. Partirei da análise da representação do imaginário construído a partir da figura da torcedora símbolo do Vila Nova Futebol Clube, Nega Brechó, no documentário “A cor da liberdade é vermelho e branco - Vila Nova Futebol Clube”, de 2018[1]. Com destaque para dois pontos, que a meu ver, são fundamentais na compreensão da complexidade do que a figura da Nega Brechó representa no imaginário goianiense, no que diz respeito às relações étnico raciais e de gênero. Seu apelido e a aura de respeitabilidade construída ao seu redor.
Nega Brechó é uma mulher negra. De acordo Lélia Gonzalez, uma dessas mulheres anônimas[2] nas páginas da história, que desde a década de 70, se vincula a um time de futebol e que reflete, em larga medida, as dinâmicas de socialização da coletividade em que ela se insere e que ela representa. Perspectiva em acordo com o que propôs Guedes ao afirmar que “nestas redes de sociabilidade joga-se e negocia-se, para além do futebol, valores, ideias, informações sobre o mercado de trabalho e sobre locais de moradia". Pois, apesar da exacerbação dos atributos “masculinos de potência e virilidade” reivindicados por torcidas nos campos de futebol brasileiros ao longo de décadas, paradoxalmente o ato de torcer nasceu de gestualidades dos corpos femininos, em sua maioria esmagadora branca, do séc. XX, que mobilizaram os cronistas esportivos da época a inventarem um nome para aquelas que torciam seus lenços durante uma partida de futebol: torcedoras. Tornando a Nega Brechó, uma figura no mínimo, historicamente paradoxal.