Um Brasil mulato. Dionísio, Futebol e a Copa do Mundo da FIFA 2014
Abstract
O futebol desempenha um papel central como cimento social no Brasil, unindo a nação por meio do orgulho e do fanatismo esportivo. Contudo, como aponta Roland Barthes, mitos, como o do “futebol-arte”, podem ser utilizados para justificar narrativas de excepcionalidade cultural que nem sempre refletem a realidade. A alegoria de Gilberto Freyre, que associa o futebol brasileiro a uma ontologia nacional imaginada, consolidou-se como pilar acadêmico e cultural, promovendo a ideia de um “futebol-arte mulato” esteticamente distinto do europeu. Essa narrativa, enraizada na dualidade Apolo/Dionísio, transcende os círculos acadêmicos e molda percepções sociais, distinguindo o futebol “verdadeiramente brasileiro” de outras práticas, inclusive dentro do próprio país. Em 2014, a representação de um Brasil dionisíaco, vibrante e festivo, serviu para projetar o país como uma utopia tropical ideal para sediar o evento, atraindo turistas e justificando os altos custos envolvidos.