O território, as redes e suas (im)potências: o cuidado aos usuários de álcool e outras drogas em um CAPSad
DOI:
https://doi.org/10.22409/1984-0292/2022/v34/5992Palavras-chave:
álcool e outras drogas, CAPS ad, rede, cartografiaResumo
No presente trabalho, buscamos realizar uma análise das potencialidades e possibilidades do CAPS ad como oferta de cuidado às pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas e sua atuação junto à rede, a partir do relato de uma experiência em um CAPS ad de um município localizado no interior do estado de São Paulo. Trata-se de um recorte de uma pesquisa de mestrado, na qual utilizamos a Cartografia como opção metodológica. Como principal desafio encontrado, apresentamos os desencontros da rede, tanto em seus protocolos quanto no olhar para o uso de álcool e outras drogas. Evidenciamos, também, as potencialidades e inventividades que possibilitam a criação de redes/rizomas autônomas das redes dominantes, as quais operam intensificando os efeitos do modo capitalista de produção. Compreendemos, portanto, o CAPS ad como um arranjo institucional provisório, ou como uma estratégia, que, em suas ofertas, pode tornar-se/fazer-se rede de emancipação, assim como um rizoma, suscetível a modificações constantes. A potência da Atenção Psicossocial está, assim, na dimensão inventiva presente nas relações e nos encontros e no rompimento com os processos fragmentadores do cuidado, de modo a garantir a ampliação do acesso aos serviços para as pessoas que tanto sofrem com os efeitos de uma sociedade como a nossa.
Downloads
Referências
BASTOS, Francisco Inácio P. Monteiro; BERTONI, Neilane. Pesquisa nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Rio de Janeiro: ICICT/FIOCRUZ, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Estabelece que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional. 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html. Acesso em: 17 ago. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). 2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html. Acesso em: 12 out. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017. Altera as Portarias de Consolidação nº 3 e nº 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre a Rede de Atenção Psicossocial, e dá outras providências. 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt3588_22_12_2017.html. Acesso em: 13 jul. 2018.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 9.761, de 11 de abril de 2019. Aprova a Política Nacional sobre Drogas. 2019a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/D9761.htm. Acesso em: 22 out. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, as condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e o financiamento das políticas sobre drogas. 2019b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm. Acesso em: 5 fev. 2020.
COSTA-ROSA, Abílio da. Atenção psicossocial além da Reforma Psiquiátrica: contribuições a uma clínica crítica dos processos de subjetivação na Saúde Coletiva. São Paulo: Unesp, 2013.
DELEUZE, Gilles. Duas questões (1991). In: ______. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016. p. 158-62.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1995. v. 1.
GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1986.
FARINA, Cynthia. Arte e formação: uma cartografia da experiência estética atual. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 31, 2008. Anais... Caxambu, MG, 2008. p. 1-16.
FERRUGEM, Daniela. A guerra às drogas e a manutenção da hierarquia racial. Belo Horizonte: Letramento, 2019.
FRANCO, Túlio; ZURBA, Magda do Canto (Org.). Atenção psicossocial e cuidado: curso de atualização em álcool e outras drogas, da coerção à coesão. Florianópolis: Departamento de Saúde Pública/UFSC, 2014.
KASTRUP, Virgínia. O funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo. Psicologia & Sociedade, Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 15-22, 2007. https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000100003
LANCETTI, Antonio. Contrafissura e plasticidade psíquica. São Paulo: Hucitec, 2015.
LEPECKI, André. Coreo-política e coreo-polícia. Ilha: Revista de Antropologia [online], v. 13, n. 1, p. 41-60, jan./jun., 2011. https://doi.org/10.5007/2175-8034.2011v13n1-2p41
LIMA, Elizabeth Maria Freire de Araújo; YASUI, Silvio. Territórios e sentidos: espaço, cultura, subjetividade e cuidado na atenção psicossocial. Saúde em debate [online], v. 38, n. 102, p. 593-606, 2014. https://doi.org/10.5935/0103-1104.20140055
NERY FILHO, Antônio et al (Org.). As drogas na contemporaneidade: perspectivas clínicas e culturais. Salvador: EDUFBA, 2012.
PASSOS, Eduardo Henrique; SOUZA, Tadeu Paula. Redução de danos e saúde pública: construções alternativas à política global de “guerra às drogas”. Psicologia & Sociedade [online], v. 23, n. 1, p. 154-162. https://doi.org/10.1590/S0102-71822011000100017
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da. Pistas do método da cartografia: pesquisa intervenção e produção da subjetividade. Porto Alegre. Sulina, 2009.
PELBART, Peter Pál. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.
PETUCO, Denis Roberto da Silva. Redução de Danos. In: Conselho Regional de Psicologia 6ª Região (Org.). Álcool e outras drogas. São Paulo: CRP, 2011. p. 127-138. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/livro-alcool-drogas/crpsp-alcool-e-outras-drogas.pdf
RODRIGO, Alvarenga; ROSANELI, Caroline Filla; FERREIRA, Ramon Andrade; LIMA, Cezar Bueno de. Violência, guerra às drogas e racismo de estado no Brasil. Polis: Revista Latinoamericana, v. 20, n. 60, p. 130-148, 2021. http://dx.doi.org/10.32735/S0718-6568/2021-n60-1505
RODRIGUES, Igor de Souza. Crack, a noia da mídia. In: SOUZA, Jessé (Org.). Crack e exclusão social. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, 2016. p. 287-304.
ROMAGNOLI, Roberta Carvalho. A cartografia e a relação pesquisa e vida. Psicologia & Sociedade [online], v. 21, n. 2, p. 166-173, 2009. https://doi.org/10.1590/S0102-71822009000200003
SANTOS, Milton. O território do dinheiro e da fragmentação. In: ______. Por uma outra globalização. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 79-116.
SANTOS, Clayton E. dos; YASUI, Silvio. Muito além do CAPS ad: o cuidado no território e na vida. In: SOUZA, Andrea Cardoso de et al. (Org.). Entre pedras e fissuras: a construção da atenção psicossocial de usuários de drogas no Brasil. São Paulo: Hucitec Editora, 2016. p. 70-87.
SOARES, Luiz Eduardo. Contra a drogafobia e o proibicionismo: dissipação, diferença e o curto-circuito da experiência. Palestra: abertura da conferência que celebra os 58 anos da Fiocruz. 10 de setembro de 2012. Disponível em: https://www.luizeduardosoares.com/contra-a-drogafobia-e-o-proibicionismo-dissipacao-diferenca-e-o-curto-circuito-da-experiencia/. Acesso em: 27 nov. 2019.
VASCONCELOS, Michele de Freitas Faria; PAULON, Simone Manieri. Instituição militância em análise: a (sobre)implicação de trabalhadores na Reforma Psiquiátrica brasileira. Psicologia & Sociedade [online], v. 26, n. spe, p. 222-234, 2014. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000500023
ZAMBEDENETTI, Gustavo; SILVA, Rosane Azevedo Neves da. Cartografia e Genealogia: aproximações possíveis para a pesquisa em psicologia social. Psicologia & Sociedade [online], v. 23, n. 3, p. 454-463, 2011. https://doi.org/10.1590/S0102-71822011000300002
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Fractal: Revista de Psicologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Na medida do possível segundo a lei, a Fractal: Revista de Psicologia renunciou a todos os direitos autorais e direitos conexos às Listas de referência em artigos de pesquisa. Este trabalho é publicado em: Brasil.
To the extent possible under law, Fractal: Revista de Psicologia has waived all copyright and related or neighboring rights to Reference lists in research articles. This work is published from: Brasil.