Pessoas que usam crack e sua microterritorialidade no centro histórico de Belém (PA)
da cena de uso à geograficidade precária no espaço público
Mots-clés :
Uso de crack; Microterritorialidade; Geograficidade; Desfiliação.Résumé
Este artigo versa sobre as cenas abertas de uso de crack e/ou similares no Centro Histórico de Belém (CHB), agrupamentos e apropriações do espaço público que gravitam em torno dessas substâncias psicoativas. A partir de trabalhos de campo e entrevistas com quatro pessoas que compõe as cenas, intenta-se compreender o sentido da microterritorialidade (Holzer, 2013; Souza, 2013; Turra Neto, 2013) constituída pelos sujeitos, a partir de sua geograficidade (Dardel, 2005). As cenas de uso no CHB estão imersas em um contexto que Castel (1997) denomina de desfiliação social. A forma de sociabilidade (Simmel, 1983) é marcada pela “parceria”: frágeis relações de confiança e um limitado sistema de tipificação (Schutz, 1979). Os microterritórios constituem refúgios precários e tensionados para os que estabelecem uso prejudicial de drogas, seus limites se revelam pela presença corporal e pertences, sobretudo papelões, mas também pelo estigma que acompanha os corpos e práticas, afastando os “outros”.
Téléchargements
Références
ADORNO, R. Sobre drogas, rua e autonomia: entre razões repressivas e razões sanitárias. In: FIGUEIREDO, R.; FEFFERMANN, M.; ADORNO, R. (org.). Drogas e sociedade contemporânea: perspectivas para além do proibicionismo. São Paulo: Instituto de Saúde, 2017. p. 23-32.
ARAUJO, T. Guia sobre drogas para jornalistas. São Paulo: IBCCRIM-PBPD-Catalize-SSRC, 2017.
BASTOS, F. I.; BERTONI, N. O cenário do consumo de crack e o Inquérito Nacional sobre Crack, 2012. In: BASTOS, F. I.; BERTONI, N. (org.). Pesquisa nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? quantos são nas capitais brasileiras?. Rio de Janeiro: ICICT/FIOCRUZ, 2014. p. 131-146.
BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Editora Hucitec, 1993.
BORTOLOZZI JR., F. “Resistir para re-existir”: criminologia (d)e resistência diante do governamento necropolítico das drogas. 2018. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.
CASTEL, R. A dinâmica dos processos de marginalização: da vulnerabilidade a “desfiliação”. CADERNO CRH, Salvador, n. 26/27, p. 19-40, jan./dez. 1997.
CASTRO, I. E. Geografia e política: território, escalas de ação e instituições. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
CENTRO de Belém cede espaço para a cracolândia. Diário Online, Belém, fev. 2013. Disponível em: <http://www.diarioonline.com.br/noticiasinterna.php?nIdNoticia=236445&idrand=780. Acesso em: 15 jun. 2020.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
CRACOLÂNDIAS se espalham por ruas e bairros de Belém. ORM, Belém set. 2017. Disponível em: http://www.orm.com.br/noticias/regiaometropolitana/OTIyNg==/Cracolandias-se-espalham-por-ruas-e-bairros-de-Belem. Acesso em: 23 dez. 2017.
DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2005.
DIAS, A. P. A experiência espacial de pessoas que usam crack e/ou similares no Centro Histórico de Belém-PA: territorialidade e lugaridade no espaço público. 2021. 200 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico úmido, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2021.
DIAS, A. P.; CARVALHO, R. S. Usuários de crack e/ou similares na área central de Belém-PA: microterritorialidade e precariedade no espaço público. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, v. 14, n. 3, p. 33-48, 2022.
DREHER, J. Fenomenologia do poder. Civitas, Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 474-490, set.-dez. 2011.
FERREIRA, R. B.; MARANDOLA JR., E. Políticas de adaptação à luz do mundo-da-vida: perspectiva fenomenológica das mudanças ambientais. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 42, 2017.
FRÚGOLI JR., H.; CAVALCANTI, M. Territorialidades da(s) cracolândia(s) em São Paulo e no Rio de Janeiro. Anuário Antropológico, v. 38, n. 2, p. 73-97, 2013.
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
HOLZER, W. Um estudo fenomenológico da paisagem e do lugar: a crônica dos viajantes no Brasil do século XVI. 1998. 214 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade do Estado de São Paulo, São Paulo, 1998.
______. Sobre territórios e lugaridades. Revista Cidades, v. 10, n. 17, 2013.
LEVINAS, E. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 1988.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
PERLONGHER, N. O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Editora brasiliense, 1987.
______. Territórios marginais. Papéis avulsos, Rev. da Escola de Comunicação da UFRJ, Rio de Janeiro, n. 6, 1989.
RUA, M. G. Análise de políticas públicas: conceitos básicos. Washington, Indes/BID, 1997.
SCHUTZ, A. O cenário cognitivo do mundo da vida. In: WAGNER, H. R. (org.). Fenomenologia e relações sociais: textos escolhidos de Alfred Schütz. Rio de Janeiro: Zahar, 1979a. p. 79-122.
______. Reinos da experiência. In: WAGNER, H. R. (org.). Fenomenologia e relações sociais: textos escolhidos de Alfred Schutz. Rio de Janeiro: Zahar, 1979b. p. 241-260.
SERPA, A. Por uma geografia dos espaços vividos: geografia e fenomenologia. São Paulo: Contexto, 2019.
SIMMEL, G. Como as formas sociais se mantêm. In: MORAES FILHO, E. (org.). Georg Simmel: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 46-58.
SOUZA, M. L. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, I. E. et al. (org.): Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 77-116.
______. Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
SRUBAR, I. De onde vem “a política”? Sobre o problema da transcendência no mundo da vida. Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 11, n. 3, p. 455-473, 2011.
TRINDADE JR., S. C. C.; AMARAL, M. D. B. Reabilitação urbana na área central de Belém-Pará: concepções e tendências de políticas urbanas emergentes. Revista Paranaense de Desenvolvimento, n. 111, p. 73-103, 2006.
TUAN, Y. F. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980.
______. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1993.
TURRA NETO, N. Microterritorialidades nas cidades (apresentação). Cidades, v. 10, n. 17, 2013.
VELHO, G. O estudo do comportamento desviante: a contribuição da antropologia social. In: VIANNA, H.; KUSCHNIR, K.; CASTRO, C. Um antropólogo na cidade: ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 28-40.