Geosofia e experiência em um terreiro de candomblé

Autores

  • Maglandyo da Silva Santos Universidade Estadual do Ceará
  • Otávio José Lemos Costa Universidade Estadual do Ceará

Palavras-chave:

Imaginação, Geograficidade, Religião

Resumo

Pensando nas provocações feitas por Wright (2014), acerca das terrae incognitae e a imaginação geográfica, bem como nas proposições de Marandola Jr. (2016, 2018), referentes às atuais aberturas para as geografias com “g” minúsculo e de olhar encarnado, surge a questão: que geografias são praticadas na terra incógnita de um terreiro? Por meio da indagação, refletimos fenomenologicamente sobre as manifestações espaciais do candomblé, considerando relatos etnogeográficos produzidos a partir do convívio em um terreiro localizado na cidade de Cajazeiras, Paraíba. Vimo-nos imersos no cotidiano dos membros de uma religião de resistência afrodiaspórica que tem uma geosofia própria. Portanto, o conhecimento e a cultura dessa comunidade se expressam no espaço do terreiro enquanto geossímbolos e também na corporeidade dos sujeitos que vivem o sagrado, atestando assim, uma pujante experiência identitária do ser–no–mundo que evoca um olhar geográfico na perspectiva do movimento de abertura.

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Biografia do Autor

  • Maglandyo da Silva Santos, Universidade Estadual do Ceará

    Doutorando em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará, onde é bolsista pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Possui Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará e Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Campina Grande. Integra o Laboratório de Estudos em Geografia Cultural (LEGEC/UECE) desde o ano de 2019, onde desenvolve pesquisas em Geografia da Religião, com ênfase nas espacialidades das religiões brasileiras de matriz africana. Dedica-se aos estudos sobre: Cultura, Fenomenologia, Etnografia e Afrocentricidade.

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Publicado

2024-04-30

Como Citar

Geosofia e experiência em um terreiro de candomblé. (2024). Geograficidade, 14(Especial), 18-35. https://periodicos.uff.br/geograficidade/article/view/60676