"AMÉRICA”: MINA E PLANTAÇÃO. UMA PERSPECTIVA DECOLONIAL SOBRE AS ORIGENS DO "ANTROPOCENO"

Autores

Palavras-chave:

antropoceno, decolonial, América, Mina, Plantation

Resumo

Desde a sua irrupção, a voz do "Antropoceno" tem provocado um profundo abalo epistêmico e político, revelando a radicalidade crítica das ameaças à vida na Terra. Ao colocar como horizonte de reflexão o saldo devastador que o curso predominante dos eventos humanos imprimiu ao Planeta, esse conceito designa mais do que uma discussão sobre a natureza da atual era geológica. Ele abriu uma nova dimensão na compreensão dos entrelaçamentos entre o ecológico e o político; uma nova problematização sobre a natureza dos afetos entre o antropológico e o geológico.

             Nesse plano, a partir de pesquisas anteriores, este artigo tem como objetivo destacar a centralidade excludente da Natureza-América(na) como origem histórico-geográfica e princípio epistêmico-político constituinte dessa nova Era. Após uma análise da recepção crítica que o conceito suscitou no campo das Ciências Sociais, o artigo nos convida a analisar o "Antropoceno" com base em uma mudança elementar de olhar: da "natureza" para a história; das espécies para as formações sociais; das substâncias (carbono, urânio, plásticos) para as práticas, modos de vida e relações de poder. Ao investigar sua genealogia a partir do materialismo crítico decolonial da Ecologia Política do Sul, o ambiente da "conquista da América" é explorado como um ponto de inflexão geológico-político que deu origem ao surgimento de um novo regime geo-sociometabólico.

             Essa abordagem visualiza a Conquista não apenas em termos de seu impacto catastrófico imediato (Pico Orbis), mas também como um terreno geo-histórico em que foi forjada uma nova matriz de relações (habitus conquestal) entre humanos e não-humanos, entre o biológico e o político, que acabaria por perturbar a dinâmica dos fluxos e ciclos sociometabólicos da vida terrestre. Seu objetivo é destacar os efeitos ontológicos (geológicos, antropológicos e sociopolíticos) dessas práticas originais de ocupação/apropriação extrativista de territórios e populações. Postula-se que essas práticas - configuradas e sedimentadas por meio do estabelecimento, da expansão e da generalização das formas de Mina e Plantação como tecnologias de poder e novos meios de concepção e produção da existência humana e terrestre em geral - teriam sido, muito provavelmente, os gatilhos da emergência geossocial na qual a espécie humana se envolveu gravemente.

Palavras-chave: antropoceno – decolonial – América – Mina – Plantation

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Altvater, E. 2014. El Capital y el Capitaloceno. Mundo Siglo XXI, Revista del CIECAS-IPN, v. IX, n. 33, 5-15.

Angus, I. 2016. Facing the Anthropocene: Fossil Capitalism and the Crisis of the Earth System. Nova York: Monthly Review Press.

Bakewell, P. 1990. La minería en la Hispanoamérica colonial. In L. Bethell (org.), Historia de América Latina, tomo III. Madri: Crítica.

Braudel, F. 1987. El Mediterráneo y el mundo mediterráneo en la época de Felipe II. México: Fondo de Cultura Económica.

Bourdieu, P. 1980. Le sens practique. Paris: Minuit.

Bowler, P. 1998. The Fontana History of the Environmental Sciencies. Londres: Fontana Press.

Cardoso, C. e Pérez Brignoli, H. 1984. História económica da América Latina. Rio de Janeiro: Graal.

Chakrabarty, D. 2009. Clima e historia: cuatro tesis. Pasajes, Revista de Pensamiento Contemporáneo n. 31, 51-68.

Crutzen, P. e Stoermer, E. 2000. The Anthropocene. IGPB Global Change News, 41, 17-18.

Crutzen, P. 2006. The Anthropocene. In: Ehlers, E. e Kraft, T. (orgs.): Earth System Science in the Anthropocene: Emerging Issues and Problems. Springer: 13-18.

Davies, H. e Todd, Z. 2017. On the Importance of a Date, or Decolonizing the Anthropocene. International Journal for Critical Geographies, 16(4), pp. 761-780.

Deléage, J. e Hémery, D. 2021. De la eco-historia a la ecología-mundo. Relaciones Internacionales n. 47, 53-66.

Escobar, A. 2007. La invención del Tercer Mundo. Construcción y deconstucción del desarrollo. Caracas: El perro y la rana.

Fernández Durán, R. 2008. El Antropoceno: la crisis ecológica se hace mundial. Disponível em: https://www.ecologistasenaccion.org/wp-content/uploads/adjuntos-spip/pdf/el_antropoceno.pdf

Florescano, E. (org.) 1975. Haciendas, latifundios y plantaciones en América Latina. México: Siglo XXI.

Flynn, D, 1984. El desarrollo del primer capitalismo a pesar de los metales preciosos del nuevo mundo: una interpretación anti-Wallerstein de la España Imperial. Revista de Historia Económica, ano II, n. 2, 29-57.

Foster, J. B. 2000. Marx’s Ecology. Materialism and Nature. Nova York: Monthly Review Press.

______ 2016: The Anthropocene Crisis. Foreward to Ian Angus, Facing the Anthropocene: Fossil Capitalism and the Crisis of the Earth System. Nova York: Monthly Review Press.

Frank, A.G. 1965. Capitalismo y subdesarrollo en América Latina. México: Era.

Fraser, N. 2021. Climates of Capital. New Left Review 127, 101-117.

Furtado, C. 1959. Formacao Econômica do Brasil. São Paulo: Fundo de Cultura.

______ 1969. Formacao Econômica da América Latina. – Rio de Janeiro: Lia Editor.

______ 1974. El mito del desarrollo y el futuro del Tercer Mundo. El Trimestre Económico, v. 41, n. 162, 407-416.

Galeano, E. 1971. Las venas abiertas de América Latina. México: Siglo XXI.

Gligo, N. e Morello, J. 1980. Notas sobre la historia ecológica de América Latina. Revista Estudios Internacionales, 13(49), 112-148.

Gómez-Barris, M. 2019. The Colonial Anthropocene: Damage, Remapping, and Resurgent Resources. Antipode Online https://antipodeonline.org/2019/03/19/thecolonial-anthropocene/

Haraway, D. 2015. Anthropocene, Capitalocene, Plantationocene, Chthulucene: Making kin. Environmental Humanities, 6, 159-165.

Harden, C., A. Chin, M. English, R. Fu, K. Galvin, A. Gerlak, P. McDowell, D. McNamara, J. Peterson, LeRoy, N. Poff, E. Rosa, W. Solecki e E. Wohl 2013. Undertanding human-Landscape interactions in the Anthropocene Environtal Management. Nova York: Springer Science.

Harvey, D. 1975. The Geography of Capitalist Accumulation. A Reconstruction of the Marxian Theory. Antipode II, 7, pp. 9-21.

Hathaway, M. e Boff, L. 2014. El Tao de la Liberación. Madri: Trotta.

IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) 2013. Climate Change 2013: The physical sciene basis. Disponível em: http://climate2013.org/. Acesso em: 15-01-2022.

Kaplan, J.: Krumhardt, K.; Ellis, E.; Ruddiman, W.; Lemmen, C. e K. Goldeijk. 2011. Holocene carbon emissions as a result of anthropogenic land cover change. The Holocene, 21, 775-791.

LaDantaLasCanta. 2021. El Faloceno: Redefinir el Antropoceno desde una mirada ecofeminista. Revista de Ecología Política N° 53, 26-33.

Land, N. 2017. Crítica del miserabilismo trascendental. In: A. Avanessian e M. Reis (orgs.) Aceleracionismo, 65-76. Buenos Aires: Caja Negra.

Lander, E. (org.) 1996. El límite de la civilización industrial. Perspectivas latinoamericanas en torno al postdesarrollo. Caracas: FACES.

______ (org.) 2000. La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Buenos Aires: CLACSO.

Laundan, R. 1987. From Mineralogy to Geology: The Fundation of the Science, 1650-1830. Chicago: Chicago University Press.

Leclerc, G. L. 1778. Les époques de la nature. París: L'imprimerie royale.

Lewis, S. e Maslin, M. 2015. Defining the Anthropocene. Nature 519(7542):171-80.

Lewis, S. and Maslin, M. 2020. Why the Anthropocene began with European colonisation, mass slavery and the ‘great dying’ of the 16th century. Disponível on line em: https://theconversation.com/why-the-anthropocene-began-with-european-colonisation-mass-slavery-and-the-great-dying-of-the-16th-century-140661, acessado em15/01/2022.

Machado Aráoz, H. 2014. Potosí, el origen. Genealogía de la minería contemporánea. Buenos Aires: Mardulce.

_______ 2015. Marx, (los) marxismo(s) y la ecología. Revista GEOgraphia, V. 17, n. 34, 09-38.

_______ 2016ª. Sobre la Naturaleza realmente existente, la entidad ‘América’ y los orígenes del capitaloceno. Revista Actuel Marx Intervenciones n. 20, 205-230.

______ 2016b. Marx, Marxismen und politische Ökologie. In: Aaron Tauss (Hrsg.) Sozial-ökologische Transformationen. Hamburgo: Verlag.

______ 2018. ‘América Latina’ y la Ecología Política del Sur. Luchas de re-existencia, revolución epistémica y migración civilizatoria. In: H. Alimonda, C. Toro Pérez & F. Martín (orgs.) Ecología política latinoamericana. Pensamiento crítico y horizontes emancipatorios en clave sur, Vol. II, 193-224. Buenos Aires: CLACSO.

______ 2020. La minería colonial y las raíces del Capitaloceno: Habitus extractivista y mineralización de la condición humana. Ambientes, Revista de Geografia e Ecologia Política, V. 2, n. 1, 65-97.

Malm, A. 2015. The Anthropocene Myth. Jacobin. Disponível on line em: https://www.jacobinmag.com/2015/03/anthropocene-capitalism-climate-change/ . Acessado em: 15-01-2022.

______ 2016. Fossil Capital. The Rise of Steam Power and the Roots of Global Warming. Londres: Verso.

______ 2018. The Progress of this Storm: Nature and Society in a Warming World. Londres: Verso.

Marini, R. 1973. Dialéctica de la dependencia. México: Era.

Marx, K. 1867. Das Kapital. Hamburgo: Erster Band.

Marx, K. e Engels, F. 1959 (1846). La ideología alemana. Montevidéu: Pueblos Unidos.

Maslin, M. e Lewis, S. 2015. Anthropocene: Earth System, geological, philosophical and political paradigm shifts. The Anthropocene Review I-9.

Maslin, M. e Lewis, S. 2020. Why the Anthropocene began with European colonisation, mass slavery and the ‘great dying’ of the 16th century. Disponível em: https://theconversation.com/why-the-anthropocene-began-with-european-colonisation-mass-slavery-and-the-great-dying-of-the-16th-century-140661 / acessado em 15/01/2022.

Moore, J. 2000. Sugar and the Expantion of the Early Modern World-Econmy: Commodity Frontiers, Ecological Transformation, and Industrialization. Review Fernand Braudel Center, 23 (3), 409-433.

______ 2003. Nature and the Transition from Feudalism to Capitalism- Review, XXVI, 2, 97-172.

______ 2010. This lofty mountain of silver could conquer the whole world’: Potosí and the political ecology of underdevelopment, 1545-1800. The Journal of Philosophical Economics, IV:1, 58-103.

_______ 2013. El auge de la ecología-mundo capitalista. (I). Laberinto N° 38, 09-26.

______ 2021. El Capitalismo en la trama de la vida. Ecología y acumulación de Capital. Madrid: Traficantes de sueños.

Moore, J. (org.) 2016. Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Oakland: Kairos-PM Press.

Nordhaus, T. e Shellemberger, M. 2007. Break Through: From the Death of Environmentalism to the Politics of Possibility. Boston: Houghton Mifflin.

Palacio, G., A. Vargas, E. Hennessy 2018. Antropoceno o Capitaloceno en fricción. Des-encuentros entre Geociencias y Historia. In: H. Alimonda, C. Toro Pérez e F. Martín (orgs.) Ecología política latinoamericana. Pensamiento crítico y horizontes emancipatorios en clave sur, Vol. II, 255-288. Buenos Aires: CLACSO.

Polanyi, K. 1944. The Great Transformation. The Political and Economic Origins of Our Time. Boston: Beacon Press.

Porto-Goncalves, C. W. 2002. Da geografia às geo-grafias: um mundo em busca de novas territorialidades. In: Ceceña, A. e Sader, E. (orgs.) La Guerra Infinita: Hegemonía y terror mundial. Buenos Aires: CLACSO.

______ 2017: Amazônia: Encruzilhada civilizatória. Rio de Janeiro: Consequência.

Posey, D. 2002. Kayapó etnoecology and culture. London: Routledge.

Quijano, A. 2000: Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In E. Lander (Comp.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. – Buenos Aires: CLACSO.

Quijano, A. e Wallerstein, I. 1992: La americanidad como concepto, o América en el moderno sistema mundial. Revista Internacional de Ciencias Sociales, América: 1492-1992. Trayectorias históricas y elementos del desarrollo, Vol. XLIV, n. 4, 583-592.

Kuhn, T. 1962. The estructure of scientific revolutions. Chicago: Chicago University Press.

Santos, M. 1996. De la Totalidad al Lugar. Barcelona: Oikos-Tau.

Schumpeter, J. 1942. Capitalism, Socialism and Democracy. Nova York: Routledge.

Segato, R. 2018. Contra-pedagogías de la crueldad. Buenos Aires: Prometeo.

Shellenberger, M., & Nordhaus, T. 2011. Love your monsters: postenvironmentalism and theanthropocene. Oakland: Breakthrough Institute.

Steffen, W.; Sanderson A.; Tyson, P.D.; Jäger, J.; Matson, P.; Moore, B.; Oldfield, F.; Richardson, R.; Schellnhuber, H. J.; Turner, B. L. e Wasson, R. J. 2004. Global Change and the Earth System: A Planet under pressure. Nova York e Berlim: Springer-Verlag.

Steffen, W.,Crutzen, P., McNeill, J. R. 2007: The Anthropocene: Are humans now overwhelming the great forces of Nature? Ambio, 36, 614-621.

Steffen, W.; Grinevald, J.; Crutzen, P. e McNeill, J. R. 2011: The Anthropocene: conceptual and historical perspectives. Philosophical Transactions of the Royal Society A: Mathematical, Physical and Engineering Sciences, 369 (1938), 842-867.

Svampa, M. 2018. El Antropoceno como diagnóstico y paradigma. Lecturas globales desde el Sur. Utopía y Praxis Latinoamericana, Año 24, N° 84.

Taussig, M. 1987. Shamanism, Colonialism and the Wild Man. Chicago: Chicago University Press.

Thompson, E. 1980. Notes on Exterminism, the last Stage of Civilization. New Left Review I/121, 3-31.

Tilly, C. 1990. Coerción, capital y los estados europeos 990-1990. Madrid: Alianza.

Tsing, A. 2015. The Mushroom at the end of the world: on the possibility of life in capitalist ruins. Princeton: Princeton University Press.

______ 2018. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasilia: Mil Folhas.

Varese, S.; Apffel-Marglin, F. e Rumrrill, R. 2013. Selva Vida. De la destrucción de la Amazonia al paradigma de la regeneración. Lima: IWGIA.

Vergès, F. 2017. Racial Capitalocene. Is the Anthropocene racial? In: https://www.versobooks.com/blogs/3376-racial-capitalocene

Vernadsky, V. 2007. Biósfera y Noosfera, cinco ensayos. Caracas: IVIC.

Wallerstein, I. 1974. The Modern World-System, I: Capitalist Agriculture and the Origin of the European World-Economy in the Sixteenth Century. Cambridge: Academic Press.

Whyte, K. 2016b. Is it Déjà Vu? Indigenous Peoples and Climate Injustice. In: J. Adamson, M. Davis e H. Huang (orgs). Humanities for the Environment: Integrating Knowledges, Forging New Constellations of Practice. pp. 88-104. Londres: Routledge.

Williams, A. e Srnicek, N. 2017. Manifiesto por una política aceleracionista. In: A. Avanessian e M. Reis (orgs.) Aceleracionismo, pp. 33-48. Buenos Aires: Caja Negra.

Wolf, E. 1987. Europa y la gente sin historia. México: Fondo de Cultura Económica.

Yusoff, K. 2016. Anthropogenesis: Origins and Endings in the Anthropocene. Theory, Culture & Society. Vol. 33, pp. 3-28.

______ 2018. A Billion Black Anthropocenes or None. Minneapolis: University of Minnesota Press.

Zalasiewicz, J. et al. 2008. Are we now living in the Antrhropocene?. Geological Society of America Today, 18 (2), pp. 4-8.

Downloads

Publicado

2023-08-10

Como Citar

Machado Aráoz, H. (2023). "AMÉRICA”: MINA E PLANTAÇÃO. UMA PERSPECTIVA DECOLONIAL SOBRE AS ORIGENS DO "ANTROPOCENO". GEOgraphia, 25(55). Recuperado de https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/59523

Edição

Seção

Traduções