A cor vermelha nas embalagens e o consumo de alimentos ultraprocessados doces

Autores

  • Guilherme M.S. Coutinho Universidade Federal Fluminense
  • Thayane C. Lemos Universidade Presbiteriana Mackenzie
  • André Almo Technological University Dublin
  • Rafaela R. Campagnoli Universidade Federal Fluminense
  • Isabel Antunes David Universidade Federal Fluminense

DOI:

https://doi.org/10.22409/nes.v1i1.64278

Palavras-chave:

Saúde Pública, Psicofisiologia, Alimentos Ultraprocessados

Resumo

O consumo de alimentos ultraprocessados tem crescido vertiginosamente nas últimas décadas, trazendo consequências para a saúde humana e ambiental. Dentre as estratégias de defesa estão os modelos de rotulagem frontal como forma de reduzir o apelo positivo evocado por esses alimentos. Dentre eles, o modelo em forma de semáforo utiliza um sistema de cores para informar o consumidor sobre nutrientes críticos (como açúcares, sal, gordura) presentes em excesso no alimento. Em um estudo realizado pelo nosso grupo de pesquisa, investigamos um possível efeito contraditório do semáforo: A cor vermelha poderia realçar a percepção do sabor em alimentos doces e gerar uma maior motivação implícita a favor do seu consumo a despeito da sua associação explícita com nutrientes em excesso? Foram realizados 2 experimentos, o primeiro utilizando escalas psicométricas e o segundo utilizando a eletroencefalografia. Em ambos, códigos de cores foram associadas de forma prévia com possíveis riscos à saúde (verde: baixo risco; âmbar: médio risco e vermelho: alto risco). Um dos códigos de cores era apresentado previamente a uma imagem de alimento ultraprocessado. Os dois experimentos mostraram que a cor vermelha promoveu um aumento da reatividade emocional positiva evocada por alimentos doces (versus alimentos salgados) apesar da compreensão dos malefícios à saúde pelos participantes. Portanto, os resultados apontaram para um efeito contrário ao desejado para a cor vermelha, podendo influenciar a eficácia deste sistema de rotulagem. Pesquisas interdisciplinares podem contribuir para a promoção de ambientes alimentares mais saudáveis e sustentáveis, auxiliando na discussão de políticas de saúde baseadas em evidências.

Biografia do Autor

Guilherme M.S. Coutinho, Universidade Federal Fluminense

Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal Fluminense (2022). Atualmente é Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Biomédicas, no Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento (LABNEC) da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência em Análises psicométricas aplicadas ao consumo alimentar da população brasileira, com foco no fortalecimento de políticas públicas de controle da obesidade. Participou de projetos de extensão relacionados ao atendimento nutricional de idosos, além de ações em escolas do município de Niterói com foco na conscientização dos estudantes e responsáveis sobre o consumo de alimentos ultraprocessados.

Thayane C. Lemos, Universidade Presbiteriana Mackenzie

Graduada em nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017). Possui mestrado (2020) e doutorado (2024) em Ciências Biomédicas (Fisiologia) pela Universidade Federal Fluminense (Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas). Desenvolveu o seu projeto de mestrado e doutorado no Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento (LABNEC) sob a orientação da Profa Isabel Antunes David. A sua dissertação de mestrado intitulada: Modulação da resposta emocional evocada pela visualização de alimentos ultraprocessados doces e salgados através das cores do semáforo nutricional: implicações para os sistemas de rotulagem frontal. recebeu o prêmio de excelência UFF de melhor dissertação na área de ciências da vida em 2021. Desenvolveu parte do seu doutorado no laboratório de Psicofisiologia Humana da Universidade de Granada (Espanha) em 2024 através do programa de doutorado-sanduíche CAPES-PrInt. O seu projeto de tese de doutorado intitulado Respostas emocionais evocadas por imagens de diferentes alimentos: impacto dos ultraprocessados e implicações para políticas públicas em alimentação e nutrição. recebeu financiamento internacional do World Wildlife Fund, Inc. (WWF), como ganhadora do edital: WWF Education for Nature Trudy Fellowship (Food Systems) em 2023. Realiza pesquisas na área de psicofisiologia, nutrição, saúde pública e saúde mental, com particular interesse em processos emocionais e atencionais. Aplica medidas psicofisiológicas em seus estudos como escalas psicométricas e medidas fisiológicas, como a eletroencefalografia. Atualmente é bolsista de pós-doutoramento do CNPQ, realizando pesquisas em psicofisiologia no Social and Cognitive Neuroscience Laboratory, sob supervisão do Prof.Dr. Paulo Sérgio Boggio.

André Almo, Technological University Dublin

Graduado em Biomedicina (Habilitação: Bacharel em Pesquisa Científica; Ênfase: Fisiologia e Farmacologia) pela Universidade Federal Fluminense (UFF - Niterói; 2014 - 2018). Mestre em Alimentação, Nutrição e Saúde pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ - Rio de Janeiro; 2019 - 2021). Aluno de doutorado na Technological University Dublin, financiado pela Science Foundation Ireland (SFI) Centre for Research Training in Digitally-Enhanced Reality (d-real), trabalhando no projeto de pesquisa "Happy Maths". Colaborador no Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento (LABNEC) e no Laboratório para Estudos de Interação entre Nutrição e Genética (LEING). Envolvido na linha de pesquisa "Aspectos psicofisiológicos do comportamento alimentar", atua nos projetos "Biomarcadores neurais do Transtorno de Compulsão Alimentar: Um estudo de Potenciais relacionados a eventos" e "Impacto de advertências para reduzir o consumo de alimentos não-saudáveis: um estudo psicofisiológico". Também envolvido no projeto de pesquisa "Consumo de gordura e exposição a poluentes: potencial para desenvolvimento de doenças metabólicas associadas a nutrição". Fundador e atual colaborador da LiNeB-UFF (Liga Acadêmica de Neurociências Biomédica da Universidade Federal Fluminense), na qual ocupou os cargos de Vice-Presidente, Presidente, e de Diretor da Comissão de Neurofisiologia. Colabora também em projetos relacionados às áreas de educação, comunicação e divulgação científica, neurociência, farmacologia, educação ambiental e cultura pop (Ciclo de Conscientização sobre Doenças do Sistema Nervoso Central, NuPEDEN, DescartUFF, Minuto Otaku). Interessado em comunicação científica, educação, jogos educativos, game design, artes, cultura pop, neurociência e nutrição. 

Rafaela R. Campagnoli, Universidade Federal Fluminense

Graduada em nutrição pela Universidade Federal Fluminense (2003). Possui mestrado (2005) e doutorado em Ciências Biológicas (2008) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho), ambos na área de neurofisiologia. Desenvolveu parte do seu doutorado no laboratório de psicofisiologia da Universidade de Granada (Espanha) em 2007 através do programa de doutorado-sanduíche da CAPES, mantendo colaboração com este grupo desde então. Foi bolsista de pós-doutoramento do CNPQ em 2009 realizando, neste período, projetos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB). Em 2009 foi contemplada com o Research Fellowship Training Awards oferecido pela Society for Psychophysiological Research, recebendo treinamento em eletroencefalografia através do professor Dr. Andreas Keil da Universidade da Flórida, Estados Unidos, com o qual continua mantendo colaboração. Realizou estágio de pós-doutoramento na área de inteligência artificial aplicada à neuroimagem no departamento de computação da University College London, no Reino Unido em 2019-2020. Atualmente é professora Associada da Universidade Federal Fluminense. Realiza pesquisas interdisciplinares que reúnem o conhecimento de áreas como a neurociências, psiquiatria e nutrição com o objetivo de investigar a interação entre processos atencionais, emocionais e desfechos em saúde. A técnica principal de neuroimagem aplicada é a eletroencefalografia. Orienta alunos de graduação e de pós-graduação, vinculados às pós-graduações em Neurociências, Ciências Biomédicas (Fisiologia e Farmacologia) e Ciências da Nutrição da UFF e em regime de co-tutela com a Universidade de Granada, Espanha. É coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Biomédicas (Fisiologia e Farmacologia), conceito Capes 5. Foi contemplada com o título de Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ (2014 e 2018) através dos seus projetos envolvendo a prevenção da obesidade. É membro do observatório de pesquisa em rotulagem nutricional coordenado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

Isabel Antunes David, Universidade Federal Fluminense

Graduada em nutrição pela Universidade Federal Fluminense (2003). Possui mestrado (2005) e doutorado em Ciências Biológicas (2008) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho), ambos na área de neurofisiologia. Desenvolveu parte do seu doutorado no laboratório de psicofisiologia da Universidade de Granada (Espanha) em 2007 através do programa de doutorado-sanduíche da CAPES, mantendo colaboração com este grupo desde então. Foi bolsista de pós-doutoramento do CNPQ em 2009 realizando, neste período, projetos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB). Em 2009 foi contemplada com o Research Fellowship Training Awards oferecido pela Society for Psychophysiological Research, recebendo treinamento em eletroencefalografia através do professor Dr. Andreas Keil da Universidade da Flórida, Estados Unidos, com o qual continua mantendo colaboração. Realizou estágio de pós-doutoramento na área de inteligência artificial aplicada à neuroimagem no departamento de computação da University College London, no Reino Unido em 2019-2020. Atualmente é professora Associada da Universidade Federal Fluminense. Realiza pesquisas interdisciplinares que reúnem o conhecimento de áreas como a neurociências, psiquiatria e nutrição com o objetivo de investigar a interação entre processos atencionais, emocionais e desfechos em saúde. A técnica principal de neuroimagem aplicada é a eletroencefalografia. Orienta alunos de graduação e de pós-graduação, vinculados às pós-graduações em Neurociências, Ciências Biomédicas (Fisiologia e Farmacologia) e Ciências da Nutrição da UFF e em regime de co-tutela com a Universidade de Granada, Espanha. É coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Biomédicas (Fisiologia e Farmacologia), conceito Capes 5. Foi contemplada com o título de Jovem Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ (2014 e 2018) através dos seus projetos envolvendo a prevenção da obesidade. É membro do observatório de pesquisa em rotulagem nutricional coordenado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. 

Referências

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Publicado

2024-09-02

Como Citar

COUTINHO, G. M. .; LEMOS, T. C. .; ALMO, A.; CAMPAGNOLI, R. . R. .; DAVID, I. A. A cor vermelha nas embalagens e o consumo de alimentos ultraprocessados doces. Neurociências & Sociedade, v. 1, n. 1, p. e024004, 2 set. 2024.

Edição

Seção

Artigo Livre