Entre o esquecer e o lembrar: estudo acerca das memórias do quilombo Sossego/Rj
Palavras-chave:
Lugar de memória. Identidades. Quilombo Sossego/RJResumo
O Trabalho de Conclusão de Curso Entre o Esquecer e o Lembrar: Um estudo acerca das memórias do quilombo Sossego/RJ, perpassa a vivência da autora como remanescente quilombola e aluna de ensino superior no curso de Ciências Sociais, com suas angústias acerca do que é vivido e do que é ciência, dialogando com relatos de pessoas da sua comunidade e com alguns autores selecionados para análise.
Reconhecido pela Fundação Cultural Palmares no ano de 2017, o quilombo Sossego objeto dessa pesquisa, obteve a sua certificação a partir de lutas das Associações Estaduais e Federais quilombolas (ACQUILERJ e CONAQ), porém somente em 2020 a comunidade local teve conhecimento desse processo legal.
O quilombo está situado no município de Campos dos Goytacazes no estado do Rio de Janeiro. Segundo a autora, possui uma dualidade de memórias, às quais são divididas como memórias faladas e as memórias não ditas, sendo ambas consideradas lugares de memória (NORA, 2012).
Em seus alinhamentos, a autora pleiteia a alusão de suas percepções com o objeto de sua pesquisa com o olhar inicial de Malinowski (2018) ao conhecer o kula. Desse modo, ouvia e conhecia através de conversas em grupo sobre algumas memórias do quilombo, mas sem ainda compreender que já era um dado importante para as suas análises, que adiante se apoiaram no conceito de Conceição Evaristo (2017) sobre escrevivência.
Partindo de suas memórias, estudos e entrevistas, o TCC se firma nesses pilares como método de pesquisa qualitativa, usando e modo exploratório e bibliográfico, sem uso de questionário direto. O texto utiliza autores como Michel Pollack (1989) para exemplificar a construção do presente a partir da memória e o limite do que é dizível e indivisível na memória coletiva; Michael Foucault (1998) no controle do corpo e construção de disciplina; Freire (1993) na perspectiva da educação não formal, além de Pierre Nora (1993) em seus apontamentos do que é lugar de memória. Nesse sentido, foi possível dialogar com as singularidades da comunidade quilombola e compreender sobre memória, identidade social e relações de poder.
Na conclusão do texto, a hipótese inicial utilizada no trabalho de que o ensino básico teria contribuído para o apagamento da cultura no quilombo Sossego, não se confirmou em sua plenitude. Porém, o racismo religioso presente no ambiente escolar e na sociedade ajudaram para que alguns assuntos deixassem de ser falados, assim como práticas culturais deixassem de ser reproduzidas. Em contraponto, a pesquisa conclui que as Associações que apoiam as lutas dos quilombolas e as práticas de direitos foram eficazes para manutenção e retomada cultural.
Downloads
Referências
EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e terra, 1993.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder: Organização, introdução e revisão técnica de Roberto Machado. 13 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2017.
MALINOWSKI, Bronisław. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Ubu Editora, 2018.
NORA, P.; AUN KHOURY, T. Y. ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA: A PROBLEMÁTICA DOS LUGARES. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, [S. l.], v. 10, 2012. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/ article/view/12101. Acesso em: 7 dez. 2023.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro: vol. 2, nº 3, 1989.