Pintando o medo, escrevendo o tempo: Goya e Mário Cláudio
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v9i19.29937Palavras-chave:
Mário Cláudio, Relações interartes, Ekphrasis.Resumo
Para além do círculo estrito da crítica de arte, a fase tardia da pintura de Goya, que corresponde aos últimos anos de vida do pintor, já despertou o interesse de biógrafos, romancistas e cineastas. Em flagrante contraste com os retratos de nobres, festas galantes e amenos motivos de tapeçaria que produziu ao longo de sua carreira, a sua obra incorporaria, na velhice, a fantasmagoria, o grotesco, o insólito. Recolhido à Quinta del Sordo, o pintor cobriria as paredes de casa com figuras monstruosas, demônios e bruxas, projetando no espaço familiar uma autêntica iconografia do horror. A partir dessas imagens e em torno delas, Mário Cláudio recria em ficção o final da vida de Goya, transfigurado em D. Francisco no romance Gémeos, de 2004. Por intermédio de uma personagem nossa contemporânea, um estudioso da arte de Goya por ela afetado de modo inesperado, vai-se revelando aí o drama íntimo de um homem em seu enfrentamento com o tempo e a finitude, encenado sobretudo na relação ambígua que se estabelece entre D. Francisco e Rosarito, sua enteada: jovem, perversa e sedutora – reflexo ou inspiração dos vultos nas paredes, a provocar simultâneos desejo e frustração, amor e ódio, fascínio e medo. É o modo de representação dessas dualidades o que nos interessa investigar, em texto e imagem, neste trabalho.
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