Sob e sobre o autoritarismo do silêncio: marcas da narrativa portuguesa no pós-1974
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v10i20.29954Palavras-chave:
Pós-1974, segredos, paixões.Resumo
No livro Exortação aos crocodilos, de António Lobo Antunes, eixos de forças pressionam um grupo de quatro mulheres, no final da década de 70, no período pós-Salazar; por conseguinte, reações de mal-estar fecundam no romance, em que vozes femininas expressam organicamente – pelo corpo, no corpo – reações a tempos de tamanha apreensão e instabilidade. Embora o livro represente o período pós-ditadura, o peso e a simbologia da censura e da repressão expressam-se sensivelmente no presente das quatro mulheres, à semelhança de uma presença secreta, não revelada, indizível, e manifestam-se como uma ainda autoridade. Um silêncio perpassa a obra no sentido de traduzir tempos de uma democracia ineficiente, em que prevalece a manutenção dos segredos. Não obstante, a obra revela instantes em que o segredo, impulsionado pelas paixões, verte a lei do silêncio, de modo a provocar discursivamente o efeito da desobediência, da desautorização da lei e da ordem. Este artigo projeta sua discussão em torno do potencial de revelação dos segredos, cujas aparições instantâneas merecem ser iluminadas no intuito de acolher testemunhos em tempos de amnésia e anistia.
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