Luandino, João Vêncio e suas memórias emprestadas
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v11i22.29984Palavras-chave:
Memória, História, Luandino, João Vêncio.Resumo
Registrar a lembrança de um fato, exatamente como ocorreu, não é uma tarefa trivial, talvez sequer possível. Mesmo quando se busca a imparcialidade, ao se narrar algo da memória é inevitável sua contaminação pelo repertório e os valores culturais pré-existentes no universo de quem narra. Mas isso não ocorre somente com as memórias individuais: a constatação de que a história oficial também é um discurso, portanto proferido por alguém de algum lugar, acaba por estabelecer uma relação entre seus estudos e aqueles que abordam a discursividade da memória. Quando se trata de ficção literária a questão ganha maior complexidade ainda. Neste artigo, a partir da narrativa João Vêncio: os seus amores, de Luandino Vieira, pretende-se abordar questões relacionadas à ficção, memória e história. O narrador conta em primeira pessoa suas memórias amorosas a um colega de prisão. As aventuras e desventuras de João Vêncio ganham uma coerência peculiar ao serem narradas do ponto de vista de um angolano mestiço, oprimido pelo colonizador. O encadeamento dos argumentos é oferecido com grande habilidade, desafiando a lógica imposta pela cultura dominante. Nas entrelinhas da história dos amores do narrador-personagem é possível entrever aspectos do projeto militante reivindicado por Luandino Vieira. Assim, nossa leitura buscará destacar elementos de resistência ao colonialismo e identificar como um determinado ponto de vista pode influenciar a discursividade da memória a partir de sua ficcionalização.
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