Vencendo a morte com humor e riso
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v16i33.62725Palavras-chave:
Ironia retórica, Ironia humoresque, Paródia, Humor, RisoResumo
Observo neste texto que a ironia retórica, em sua intenção de criticar ou reforçar ideologias — com a contraposição de opostos ou por dizer algo sem realmente dizê-lo — evolui posteriormente para o que Jankélévitch chama de ironia humoresque ou de segundo grau, a partir da consciência de que o absoluto se realiza e ao mesmo tempo se destrói, num momento fugidio, em equilíbrio entre a comédia e a tragédia. Ao assumir o estatuto de código evanescente da linguagem e mostrar a impossibilidade de atingir a pretendida “verdade”, essa ironia muitas vezes provoca o riso, o qual se relaciona com o que é mais característico do ser humano. Ou seja: com a tragicidade da vida, inevitavelmente terminada na (im)previsível morte. Liga-se também com a capacidade de distanciamento: o prazer de pensar, o gosto do engano e a possibilidade de subverter provisoriamente, através do jogo, a condenação à morte e a tudo aquilo que ela representa. Com base nessas reflexões e em outras de vários estudiosos do humor e do riso (como Freud, Schopenhauer, Bergson, Hobbes, Baudelaire, Bataille, Lacan, Jacques Alain-Miller e Abrão Slavutzky), analiso textos de ficção dos portugueses Lídia Jorge, Augusto Abelaira, valter hugo mãe e António Lobo Antunes, e dos angolanos João Melo e Manuel Rui. Concluo, com Maurice Blanchot, que o riso se relaciona com o desejo maior do ser humano — o de morrer contente, tendo em vista o descontentamento da vida.
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