A psicologia de David McClelland e a empreendedorização do Brasil

Autores

  • Flávia Manuella Uchôa de Oliveira Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP / Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM https://orcid.org/0000-0002-6847-8436

DOI:

https://doi.org/10.22409/eas.v9i2.61553

Palavras-chave:

Empreendedorismo, Neoliberalismo, Estado, Brasil

Resumo

Este artigo tem por objetivo discutir como as pesquisas do psicólogo estadunidense David McClelland serviram para o desenvolvimento do empreendedorismo, como racionalizado e institucionalizado no Brasil, isto é, para a empreendedorização de nossa sociedade. Baseadas em uma revisão narrativa e em análise documental, a partir de materiais produzidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae, buscamos demonstrar a presença das ideias desse psicólogo para a promoção do comportamento empreendedor em treinamentos promovidos por esse serviço paraestatal. A partir da discussão levada a cabo, indicamos como a psicologia de McClelland serviu para a disseminação de um modelo de comportamento útil para o contexto político e econômico, e para administração da força de trabalho no neoliberalismo. Compreender o papel da disciplina psicológica para promoção do empreendedorismo pelo Estado brasileiro nos permite questionar uma visão positiva, hegemônica na literatura psicológica e da administração sobre o tema, considerando também os impactos da inserção individual no mercado de trabalho para a precarização e insegurança psicossocial na vida da maioria das trabalhadoras e dos trabalhadores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Flávia Manuella Uchôa de Oliveira, Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP / Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM

É Doutora (2020) e Mestre (2016) pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de São Paulo sob orientação da Professora Leny Sato. Realizou período de doutorado sanduíche na Escola de Ciências Sociais da Universidade de Cardiff pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior da CAPES, sob co-orientação da Professora Valerie Walkerdine. Realiza estudos pós-doutorais pela Universidade de Cardiff, voltados à pobreza multidimensional e à precarização. É docente no curso de Psicologia da Universidade Nove de Julho. É Professora Substituta na Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas. É pesquisadora colaboradora do Laboratório de Estudos em Ação Clínica e Saúde da Universidade de Pernambuco (LACS-UPE). É membro do Laboratório de Estudos do Trabalho, Movimentos Sociais e Políticas Sociais (TraMPos) do Instituto de Psicologia da USP. É graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2011). Suas áreas de interesse são psicologia social do trabalho; psicologia das organizações e do trabalho; psicologia social. Além disso, tem experiência de mais de dez anos como especialista e consultora em gestão de pessoas em empresas multinacionais e nacionais.

Referências

lbuquerque Júnior, D. M. de. (2013). Raros e rotos, restos, rastros e rostos: Os arquivos e documentos como condição de possibilidade do discurso historiográfico. ArtCultura, 15(26), 7–28.

Antunes, R. (Org.). (2020). Uberização, Trabalho Digital e Indústria 4.0. Boitempo.

Antunes, R., & Praun, L. (2015). A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Serviço Social & Sociedade, 123, 407–427. https://doi.org/10.1590/0101-6628.030

Boyatzis, R. E. (2017). McClelland, David C. In V. Zeigler-Hill & T. Shackelford, Encyclopedia of Personality and Individual Differences. Springer.

Cardoso, A. M. (1998). Trabalhar, Verbo Transitivo: Trajetórias Ocupacionais de Trabalhadores da Indústria Automobilística. Dados, 41(4), 701–750. https://doi.org/10.1590/S0011-52581998000400002

Dolabela, F., & Bodian, S. (2018). Empreendedorismo na Base da Pirâmide: A História de Um Intraempreendedor Desafios e Aprendizados. Alta Books Editora.

Du Gay, P. (1996). Consumption and Identity at Work. Sage Publications Ltd.

Ferreira, M. P. V., Pinto, C. F., & Miranda, R. M. (2015). Três décadas de pesquisa em empreendedorismo: Uma revisão dos principais periódicos internacionais de empreendedorismo. REAd. Revista Eletrônica de Administração (Porto Alegre), 21(2), 406–436. https://doi.org/10.1590/1413-2311.0342014.52536

Foucault, M. (2008a). Nascimento da Biopolítica. Curso no Collège de France (1978-1979). Martins Fontes.

Foucault, M. (2008b). Segurança, Território, População. Curso no Collège de France (1977-1978). Martins Fontes.

Gilpin, K. N., & Schmitt, E. (1986, fevereiro 26). Yankelovich Quits For New Venture. The New York Times. https://www.nytimes.com/1986/02/26/business/yankelovich-quits-for-new-venture.html

Gorgievski, M. J., & Stephan, U. (2016). Advancing the Psychology of Entrepreneurship: A Review of the Psychological Literature and an Introduction. Applied Psychology, 65(3), 437–468. https://doi.org/10.1111/apps.12073

Hoffarth, M. J. (2020). From achievement to power: David C. McClelland, McBer & Company, and the business of the Thematic Apperception Test (TAT), 1962–1985. Journal of the History of the Behavioral Sciences, 56(3), 153–168. https://doi.org/10.1002/jhbs.22015

Hollway, W. (1989). Subjectivity and Method in Psychology. Sage Publications Ltd.

Krein, J. D. (2018). O desmonte dos direitos, as novas configurações do trabalho e o esvaziamento da ação coletiva: Consequências da reforma trabalhista. Tempo Social, 30(1), 77–104. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.138082

Lemos, F. C. S., Galindo, D., Júnior, L. P. R., Moreira, M. M., & Magalhães, A. G. B. (2015). Análise documental: Algumas pistas de pesquisa em psicologia e história. Psicologia em Estudo, 20(3), 461–469. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v20i3.27417

Lemov, R. (2006). World as laboratory: Experiments with mice, mazes, and men. Farrar, Straus and Giroux.

Lopes, E. B. (2001). O SEBRAE e as relações público-privado no Brasil [Dissertação de Mestrado]. UNESP.

Marttila, T. (2018). Neoliberalism, the Knowledge-Based Economy and the Entrepreneur as Metaphor. In D. Cahill, M. Cooper, M. Konings, & D. Primerose, The SAGE Handbook of Neoliberalism. Sage Publications Ltd.

McClelland, D. C. (1965). Achievement motivation can be developed. Harvard Business Review, 43, 6–24.

McClelland, D. C. (1972). A sociedade competitiva realização e progresso social. Expressão e Cultura.

McClelland, D. C. (1984). Motives, personality, and society: Selected papers (p. x, 490). Praeger Publishers.

Melo, N. M. e. (2008). Sebrae e Empreendedorismo: Origem e desenvolvimento. [Dissertação de Mestrado]. UFSCAR.

Memorial Sebrae. (s.d.). História | Memorial—SEBRAE. Memorial Sebrae. https://memorial.sebrae.com.br/historia/

Murray, H. A. (1938). Explorations in personality. Oxford University Press.

Pickren, W. E. (2009). Indigenization and the history of psychology. Psychological Studies, 54(2), 87–95. https://doi.org/10.1007/s12646-009-0012-7

Raven, J. (2001). The McBer Competency Framework. Counterpoints, 166, 121–127.

Robin, R. T. (2003). The making of the cold war enemy: Culture and politics in the military-intellectual complex. Pricenton University Press.

Rose, N. (1990). Governing the soul: The shaping of the private self. Routledge.

Rose, N. (1996). Powers of freedom: Reframing political thought. Cambridge University Press.

Rostow, W. (1971). Etapas do desenvolvimento econômico (O. A. Velho, Trad.; 4o ed). Zahar.

Stevenson, H. H., & Jarillo, J. C. (1990). A Paradigm of Entrepreneurship: Entrepreneurial Management. Strategic Management Journal, 11, 17–27.

Thébaud-Mony, A., & Druck, M. da G. (2007). Terceirização: A erosão dos direitos dos trabalhadores na frança e no brasil. In A perda da razão social do trabalho: Terceirização e precarização (1a. ed). Boitempo Editorial.

UNCTAD. (2009). Empretec Programme: The Entrepreneur’s Guide. https://unctad.org/system/files/official-document/diaeed20093_en.pdf

UNCTAD. (2015). Empretec: Annual Report. https://empretec.unctad.org/wp-content/uploads/2015/01/EAR2015_web.pdf

Winter, D. G. (1998). “Toward a science of personality psychology”: David McClelland’s development of empirically derived TAT measures. History of Psychology, 1(2), 130–153. https://doi.org/10.1037/1093-4510.1.2.130

Winterbottom, M. R. (1973). The Relation of Childhood Training in Independence to Achievement Motivation. University Microfilms.

Downloads

Publicado

2024-12-06

Edição

v. 9 n. 2 (2024): Desafios do desenvolvimento

Seção

Estado, Organizações e Sociedade

Licença

Copyright (c) 2024 Estudos de Administração e Sociedade

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:

  1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
  2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
  3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).