DOSSIÊ "TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIAS: mulheridades, saberes, lutas e afetos"

2025-02-14

 

A revista Gênero, vinculada ao Programa de Estudos Pós-graduados em Política Social da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), abre chamada pública de artigos para o Dossiê temático “TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIAS: mulheridades, saberes, lutas e afetos”, (vol. 26, n.2, 2025/2), organizado pelas professoras Dra. Elaine Ferreira do Nascimento (Fiocruz Piauí-PPGPP/UFPI); Dra. Maria Raimunda Penha Soares (UFF) e Doutoranda Márcia Regina Galvão de Almeida (PPGPP/UFPI)).

No Brasil, o espaço ocupado é definido a partir das desigualdades sociais, étnico-raciais e de gênero/sexo que perduram desde o período colonial. Dentro desse cenário, há um crescimento vertiginoso das denominadas lutas por territórios, nas quais comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, entre outras, reivindicam o direito de assegurar seus modos de vida e o reconhecimento legal e a demarcação de suas terras.

É na tecitura cotidiana destas lutas, dando liga ao coletivo e ao comunitário, no e pelo território, que se fortalece o protagonismo das mulheres. Estas são diversas e múltiplas e estão nas favelas, nos quilombos, nos terreiros de religiões de matriz africana, nas aldeias e nos movimentos sociais e populares. Elas têm construído e reconstruído sentidos e significados para a invenção de formas comuns, coletivas e comunitárias de estar, habitar, produzir e usar nos territórios de resistência. Soma-se a isso a feminilização dos movimentos sociais e populares com a ocupação de espaços que até então eram quase que exclusividade de homens.

Nesse contexto, as produções acadêmico-científicas sobre as lutas e saberes de mulheres em diversificados territórios de resistências têm ganhado grande relevância nas últimas décadas.

Pensando em contribuir com esse debate, este Dossiê busca estimular reflexões e análises acerca das expressões de lutas, resistência e agência coletiva de mulheridades nos territórios brasileiros e de outros países. Particular interesse recai sobre (mas não somente) trabalhos que destacam o enfrentamento de um Estado necroafrotranspolítico com seu projeto colonial racista cisheteropatriarcal capitalista que incentiva o feminicídio e epistemicídio da diversidade e pluralidade de mulheres (cis, travestis/trans, negras, indígenas, quilombolas, ciganas, brancas, amarelas), que, apesar dos desafios e obstáculos, se mantêm em pé, construindo suas lutas, no cenário urbano/rural, na academia ou nos movimentos sociais. O fazem de forma aquilombada, produzindo saberes, resistindo com afetos e lógicas circulares e defendendo águas, alimentos e pessoas.

Portanto, também são bem-vindas produções que, desde uma perspectiva histórica e crítica, deem destaque a epistemologias insurgentes - decoloniais, contra coloniais, interseccionais etc. - historicamente silenciadas no meio científico, proporcionando publicações que abordem diferentes territórios de resistências de forma que possamos construir um mosaico da diversidade das lutas dessas mulheres, com destaque para as suas particularidades, para o que as unem e para o que as separam.

Estes movimentos, que são potência para a construção de outras formas não mercantis de produzir a vida, nem sempre recebem o reconhecimento ou são vistos como tais. E estas sujeitas muitas das vezes são invisibilizadas. Assim, neste Dossiê, queremos saber delas e suas agências para a construção de uma ordem social humanizada. Ou seja, queremos saber como, individual ou coletivamente, estas mulheridades estão se movendo. Daí porque este dossiê poderá abrigar tanto “biografias” como “estudos sobre grupos voltados para a ação coletiva”  Neste fazer (e porque não nos interessa romantizar as vivências das diferentes mulheridades) gostaríamos de receber contribuições que abordem as dinâmicas concretas nas quais se inserem o seu fazer cotidiano, as quais incluem violências, violações de direitos, perdas e mortes ao mesmo tempo em que recolhem e criam  esperanças, afetos e possibilidades de outras formas possíveis de produzir vida.

Para compreendermos a luta destas mulheridades, que são nossas lutas, no e pelo território, é imprescindível que venha à tona a memória de resistência histórica que a consciência colonial buscou jogar para debaixo do tapete, como nos indica Lélia González. É imprescindível também que evidenciemos que a luta contemporânea percorre caminhos já abertos por outros e outras que vieram antes de nós. Sujeitos históricos que resistiram ao colonialismo, produzindo formas de existência contra coloniais em terrenos áridos, onde predominava a violência, exploração e opressão extrema.

Nas comunidades negras rurais do Brasil, as mulheres têm se destacado cada vez mais na organização e no desenvolvimento dos movimentos sociais. Elas partilham papéis políticos com os homens e dirigem o destino das suas comunidades, mas, muitas ainda sofrem violência doméstica. Mulheres quilombolas contemporâneas escrevem suas histórias e de suas comunidades no contexto das lutas diárias pela sobrevivência, defesa do território, cultura e religião. O mesmo pode ser dito em relação às mulheres dos povos originários? Acreditamos que sim! Por essa razão, o Dossiê acolhe não somente o protagonismo já (quase) tradicional das mulheres urbanas, mas também aquele que se manifesta em outros territórios menos visibilizados.

Considerando os elementos até aqui apresentados, convidamos pesquisadoras/es/ a submeterem artigos para o Dossiê intitulado “TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIAS: mulheridades, saberes, lutas e afetos”. Os trabalhos, que podem envolver contribuições teóricas e/ou empíricas, devem ser submetidos até 30 de agosto de 2025, através do site da revista Gênero (https://periodicos.uff.br/revistagenero/index). A seleção será baseada na adequação à temática da chamada, bem como em critérios de originalidade, atualidade, relevância científica, consistência teórica e empírica e aprofundamento analítico. Os trabalhos selecionados previamente pelas organizadoras do Dossiê serão remetidos à avaliação por pares. O prazo para o envio dos trabalhos é 8 de setembro de 2025 e o Dossiê será publicado no último quadrimestre do corrente ano.

Os trabalhos podem ser escritos em português, inglês e espanhol e devem observar as normas de publicação da revista, disponíveis em: (https://periodicos.uff.br/revistagenero/about/submissions).

 

Doutra Elaine Nascimento

Doutora Maria Raimunda Penha Soares

Doutoranda Márcia Regina Galvão de Almeida