Uma Síntese histórica das reformas da previdência social brasileira em diferentes governos
uma revisão de literatura
Resumo
A previdência social no Brasil é um tema de grande relevância sendo frequentemente debatido em função de seu impacto nas contas públicas, na economia e na justiça social. A Constituição Federal de 1988 foi um marco importante para a seguridade social, ampliando os direitos nas áreas de saúde pública, assistência social e previdência. No entanto, mesmo antes desse marco constitucional, já havia leis que visavam oferecer proteção aos trabalhadores. A origem do sistema previdenciário brasileiro remonta à Lei Eloy Chaves, de 1923 (Leite, 1972). Ao longo das décadas, o sistema evoluiu de forma fragmentada, ampliando a cobertura previdenciária até que em 1966 chegou-se à criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), centralizando a administração da previdência social no país (Rangel et al., 2009). A evolução do sistema de proteção social culminou na criação do modelo de Seguridade Social instituído pela Constituição Federal de 1988, que integrou saúde, assistência social e previdência sob um único arcabouço jurídico, caracterizado pela universalização dos benefícios e beneficiários e pela ampla fonte de financiamento composta por contribuições compulsórias de empregados, empregadores e recursos da União (CONSTITUÇÃO FEDERAL DE 1988, 2012). Após a promulgação da CF de 1988, o sistema previdenciário brasileiro passou por sete importantes reformas paramétricas, com o objetivo de garantir seu equilíbrio financeiro e atuarial. A primeira foi realizada no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), com a Emenda Constitucional nº 20/1998, que alterou as regras para o direito à aposentadoria (Rangel et al., 2009). Também nessa gestão, com o Decreto nº 3.265, FHC deu seguimento à reforma iniciada com a emenda n° 20, avançando no processo de ‘desconstitucionalização’ das regras previdenciárias (Tafner; Giambiagi, 2007). Além disso, por meio da Lei nº 9.876, criou-se o Fator Previdenciário e, de acordo com Giambiagi e Afonso (2015), o objetivo de desincentivar aposentadorias precoces. No governo Lula, a Emenda Constitucional nº 41/2003 trouxe mudanças significativas, incluindo a tentativa de igualar o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), a taxação dos inativos e a criação de um regime complementar para servidores públicos (Rangel et al., 2009). De acordo com Giambiagi e Afonso (2015), essas medidas buscavam reduzir o déficit crescente dos RPPSs. Ainda no governo Lula, por meio da Emenda Constitucional nº 47/2005, reduziu-se o limite de idade para aposentadoria e ampliou-se a previsão de cobertura (Rangel et al., 2009). Em 2012, no governo Dilma Rousseff, foi instituída a Fundação da Previdência Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP) (Porto, 2012). Ademais, foram propostas as medidas provisórias 664 e 676, convertidas nas leis 13.135/2015 e 13.183/2015. A primeira alterou regras para dependentes e o auxílio-doença e consolidou a tentativa de igualar o RPPS ao RGPS (Ibrahim, 2015a). A segunda instituiu a Regra 85/95, que ofereceu uma alternativa ao fator previdenciário, permitindo aposentadorias integrais se a soma da idade e tempo de contribuição atingisse determinada pontuação (Ibrahim, 2015b). Em 2019, a Emenda Constitucional nº 103 foi promulgada no governo Bolsonaro, fixando idade mínima para aposentadoria (65 homens e 62 mulheres), estabelecendo tempos mínimos de contribuição e alterando as regras de cálculo dos benefícios para controlar o crescimento dos gastos (G1, 2019). Concluiu-se que, entre 1998 e 2019, o equilíbrio das contas públicas e do saldo previdenciário prevaleceu, independentemente das ideologias políticas dos presidentes. Tanto nos governos de esquerda, como os de Lula e Dilma, quanto no governo de direita de Bolsonaro, observou-se que a pressão do mercado se sobrepôs às diferenças ideológicas, garantindo a prioridade do equilíbrio fiscal, inclusive na previdência social. O objetivo deste trabalho foi analisar a evolução histórica da previdência social no Brasil e descrever as reformas realizadas no período de 1998 a 2019. Como metodologia adotou-se uma revisão sistemática de literatura.
Downloads
Referências
G1. Saiba o que muda com a reforma da Previdência. In: Economia, 12 nov. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/11/12/saiba-o-que-muda-com-a-reforma-da-previdencia.ghtml. Acesso em: mai. 2020.
GIAMBIAGI, F.; AFONSO, L. E. Previdência do Setor Público e INSS: a Fotografia e o Filme. TAFNER, P.; BOTELHO, C.; ERBISTI, R. (Orgs.) Reforma da Previdência: a visita da velha senhora. Brasília: Gestão Pública, 2015. 1.ed. 304p. pp: 109-130.
IBRAHIM, F. Z. As Reformas e Contrarreformas Previdenciárias de 2015. Migalhas, Rio de Janeiro, 07 de jul. 2015a. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI222933,101048As+reformas+e+contrarreformas+previdenciarias+de+2015. Acesso em abr. 2017.
IBRAHIM, F. Z. Conversão da MP 676/15 na lei 13.183/15: Jabutis, Desaposentação e Previdência Complementar. Migalhas, Rio de Janeiro, 24 de nov. 2015b. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI230449,71043Conversao+da+MP+67615+na+lei+1318315+Jabutis+Desaposentacao+e Acesso em: abr. 2017.
LEITE, C. B. A proteção social no Brasil. São Paulo, LTR Editora, 1972. (Colaboração do Centro de Estudos de Previdência Social). 120p.
PORTO, V. A Previdência Social do Servidor Público: da promulgação da Constituição Federal de 1988 à criação da FUNPRESP. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 5, Anais... Brasília, DF, 2012. Disponível em: http://repositorio.fjp.mg.gov.br/consad/handle/123456789/593. Acesso em fev. 2017.
RANGEL, L. A.; PASINATO, M. T.; SILVEIRA, F. G.; LOPEZ, F. G.; MENDONÇA, J. L. Conquistas, desafios e perspectivas da Previdência Social no Brasil vinte anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Políticas sociais: acompanhamento e análise: vinte anos da constituição federal. Brasília: IPEA, 2. ed. Vol. 1, n. 17, 2009. 273p. p. 40-94.
TAFNER, P.; GIAMBIAGI, F. (Orgs.) Previdência no Brasil: debates, dilemas e escolhas. Rio de Janeiro: IPEA, 2007. 458p.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Sebastião Ribeiro Neto, Simone Manhães Arêas Mérida, Graciela Aparecida Profeta, Dayane Ferreira Quintanilha
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1.Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2.Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3.Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.