THE A ciência da Ayahuasca no contexto urbano

Entre psicanálise e perspectivismo

Autores

Palavras-chave:

Ayahuasca, Psicanálise, Pragmatismo pulsional, Perspectivismo Ameríndio

Resumo

A Ayahuasca é uma bebida psicoativa utilizada originalmente pelos indígenas da região amazônica. Tornou-se conhecida pelo uso não-indígena realizado principalmente por três grupos religiosos: Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha. O hibridismo ayahuasqueiro revela uma série de fluxos históricos em torno da bebida, que enceta desde processos de transformação pessoal até novas maneiras de compreender a natureza e tudo o que nela habita. O presente artigo, tem como objetivo analisar a transmissão de saberes da ayahuasca no contexto urbano, levando em consideração seu caráter científico, que, diferente do proposto pela ciência do século XIX, cria diferentes fluxos e conexões. Tomamos como ponto de partida, o contexto originário da ayahuasca, permeado pelo perspectivismo ameríndio, onde humanos e não humanos estão conectados por diferentes mundos e perspectivas. Nos contextos em que é utilizada, o fundo antropofágico da ayahuasca permite que esta possa se hibridizar com o contexto não-indígena, cristão e urbano. Assim, no presente contexto analisamos as proximidades entre o saber de si, presente no uso ritual da ayahuasca, como experiência visionária, e o saber do inconsciente, particularmente presente na experiência onírica, tal como estudada pela psicanálise. Dessa forma, a ayahuasca se apresenta próxima à uma ciência da vida, bem como do conceito de pulsão, como uma prática imanente além das dicotomias propostas pela ciência moderna, possibilitando ao sujeito animar, dar vida ao seu mundo, gerando múltiplos processos de subjetivação.

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Biografia do Autor

Marina Batista de Souza, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Graduada em Psicologia pela Universidade Ceuma (2017), pós graduada em Teoria Psicanalítica pela Universidade Laboro (2022) e mestre em Psicologia no Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Maranhão (2023). Atualmente trabalha no Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Possui experiência em Psicologia Social no âmbito dos equipamentos sociais do SUAS (CRAS, CREAS e Serviço de Acolhimento) e experiência clínica com trabalho voltado para infância e parentalidade.

Marcio José de Araújo Costa, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE-MG). Especialista em Filosofia Geral (Faculdade São Bento - RJ). Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Psicanalista com Pós-Doutorado: em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) sob supervisão de Suely Rolnik; em Teoria Psicanalítica na UFRJ, sob supervisão de Joel Birman. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMA. Organizador junto com Heliana de Barros Conde Rodrigues, do livro "Foucault e os modos de vida" (EDUFMA, 2017).

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Publicado

2024-04-27

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Artigos