Trajetórias de vida de presidiários e possíveis sentidos para a reincidência

Autores

Palavras-chave:

Criminalidade, reincidência, prisão, subjetividade, psicologia social.

Resumo

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a reincidência penitenciária a partir do discurso de presidiários/as reincidentes. Utilizou-se de pesquisa qualitativa, entrevistas abertas com seis sujeitos, três homens e três mulheres, que cumpriam pena em unidades do sistema prisional da região metropolitana de Goiânia-GO. Como resultado encontrou-se que a reincidência é justificada a partir de quatro discursos. No discurso do fatalismo, a reincidência é mobilizada por afetos que levam à repetição. No discurso da vingança, é justificada pela inadequação familiar e social, que gera revolta. O discurso da institucionalização relaciona-se às marcas que o cárcere promove na construção da subjetividade. No discurso da ostentação, o crime aparece ligado ao prazer e à visibilidade. Conclui-se que a reincidência revela o fracasso das instituições prisionais no processo de ressocialização. Do ponto de vista subjetivo, revela a formação de condutas que representam diferentes formas de responder à inadequação e ao rompimento com o pacto social.

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Biografia do Autor

Anna Karollina Silva Alencar, Universidade Federal de Goiás

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília PPGPsiCC- UnB. Integrante do Grupo de Pesquisa Psicologia de grupos, instituições e coletivos sociais: intervenções psicossociais, da Universidade Federal de Goiás. Psicóloga Clínica e Professora na SME de Goiânia-GO. Brasil.

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Publicado

2021-12-07

Edição

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Artigos