Apropriação cultural e o apagamento da memória: o caso do “bolinho de Jesus” e do “acarajé da bênção”

Autores

  • Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
  • Fábio Sadao Nakagawa Universidade Federal da Bahia (UFBA)
  • Thaís Fernanda Salves de Brito Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

DOI:

https://doi.org/10.22409/contracampo.v43i2.62833

Resumo

Tendo por base os conceitos de memória cultural e cultura binária, tal como foram propostos pelo semioticista da cultura Iuri Lotman, este artigo discute dois casos que se tornaram emblemáticos de apropriação cultural: o “bolinho de Jesus” e o “acarajé da bênção”. Para tal, discute-se de que maneira determinados segmentos religiosos vinculados ao cristianismo evangélico ou neopetencostalismo brasileiro visam impor o apagamento da memória pelo mecanismo semiótico do esquecimento de um texto cultural vinculado ao candomblé – no caso, o acarajé –, por meio do roubo de um signo sobre outro. Com isso, intenta-se elucidar, de que maneira, o processo de apropriação cultural implica, inevitavelmente, uma disputa pela memória.

Biografia do Autor

Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

Professora no Centro de Culturas, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (Cecult) da UFRB e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (PPGCOM/UFRB) e do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Fábio Sadao Nakagawa, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Prof. permanente do PPG em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA e do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade da UFBA 

 

Thaís Fernanda Salves de Brito , Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

Profa. do Centro de Culturas, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da UFRB e do PPG em Arqueologia e Patrimônio Cultural da UFRB.

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Publicado

2024-08-30