Vidas que importam
a dimensão sensível e política da autorrepresentação no audiovisual
DOI:
https://doi.org/10.22409/contracampo.v41i2.51490Palabras clave:
Chacina de 2014 em Belém, Coletivo Tela Firme., Audiovisual periférico, Autorrepresentação, IntersubjetividadeResumen
O presente trabalho busca compreender de que maneira os moradores do bairro da Terra Firme, na periferia de Belém, capital do Estado do Pará apreendem a narrativa do minidocumentário “Poderia ter sido você”, produzido pelo coletivo de mídia alternativa Tela Firme, após a chacina em 2014. O vídeo tece uma contranarrativa, ao recriar uma realidade partilhada de maneira trágica pelos moradores, buscando despertar neles identificação, em contraste com a representação hegemônica e estigmatizante do bairro e de seus moradores, que circulou massivamente no discurso midiático à época da chacina. O minidocumentário se insere em um vigoroso movimento de produção audiovisual surgido nas periferias brasileiras desde a década passada, que ultrapassa a dimensão artística e assume contornos políticos, em que a autorrepresentação desponta como uma ideia central. Essas produções buscam restituir a fala historicamente negada a esta parcela da população no espaço público. A pesquisa tem como ponto de partida a dimensão intersubjetiva da experiência na produção de sentidos nesse contexto de violência urbana. De natureza qualitativa, a pesquisa alia a observação participante, sob uma perspectiva autoetnográfica e entrevistas com moradores do bairro, membros do coletivo que produziu o vídeo e mães de jovens assassinados na chacina. Investigou-se até que ponto estes sujeitos se reconhecem e veem sua realidade projetada na narrativa do minidocumentário e se ela consegue deslocar o olhar que têm de si próprios, na contramão das representações hegemônicas do discurso midiático. Logo, o que se percebeu é que a produção audiovisual do “Poderia ter sido você” se destaca como instrumento de produção e posicionamentos discursivos do Coletivo Tela Firme diante das chacinas ocorridas nas periferias de Belém em 2014, em que os moradores se reconhecem.
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