DISPUTAS POLÍTICAS PELO USO DO TERRITÓRIO: A ASCENSÃO DE INVESTIDORES INSTITUCIONAIS NO SETOR DE CONCESSÕES RODOVIÁRIAS FRENTE AO ENFRAQUECIMENTO DAS GRANDES CONSTRUTORAS
DOI:
https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2022.v24i52.a50057Resumo
O presente artigo procura destacar a dimensão política da estrutura social como condicionante da evolução espacial. Em linhas gerais, entende-se que o Estado emerge como horizonte final da ação política, configurando-se como arena de disputa entre classes sociais e frações de classe, cada qual buscando fazer com que aquele encampe suas demandas. Como base empírica para o tratamento do tema, investigou-se como as disputas políticas precipitadas entre os anos de 2014 e 2016 no país tiveram como efeito colateral uma reorganização do segmento de concessões rodoviárias em São Paulo. Houve a introdução de novos agentes, os investidores institucionais, em detrimento dos agentes tradicionais atuantes no setor, as grandes construtoras nacionais. Argumentou-se que esta mudança na tipologia dos agentes atuantes implica em consequências para a dinâmica de usos do território: revela um acirramento da lógica financeira como orientadora das ações sobre estes objetos geográficos, reforçando a percepção do território como recurso voltado para o uso dos agentes hegemônicos. Por fim, sustentou-se que, diferentemente das grandes construtoras, os investidores institucionais não podem ser considerados representantes de uma fração de classe diretamente vinculada às obras de infraestrutura, por mais que sejam os agentes cuja participação mais cresce no segmento.
Palavras-chave: Estado; concessões rodoviárias; investidores institucionais.
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