CARLOS WALTER PORTO-GONÇALVES, A AMAZÔNIA E UM HORIZONTE METODOLÓGICO DESCOLONIAL DO FAZER GEOGRÁFICO
DOI:
https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2024.v26i57.a63512Palavras-chave:
Carlos Walter Porto-Gonçalves, Amazônia, horizonte teórico-metodológico descolonial, Geograficidade do socialResumo
O objetivo deste artigo é analisar como, a partir dos seus estudos sobre a Amazônia, Carlos Walter Porto-Gonçalves construiu uma leitura temático-empírica sobre a região e, ao mesmo tempo, um original horizonte metodológico do fazer geográfico. Nossa hipótese de trabalho é que a experiência de pesquisa com a Amazônia deu régua e compasso para o autor construir uma renovação na Geografia brasileira. Propomos dialogar com a obra do autor sistematizando os gestos epistemológicos e as pistas analíticas que, articulados, constituem um horizonte renovado de leitura descolonial da geograficidade do social que serão apresentados ao longo deste texto no formato de: a) dois gestos epistemológicos, duas formas fundamentais de problematização da relação com o saber sobre e a partir da Amazônia: i) combater o eurocentrismo e a invenção colonial da Amazônia e ii) aprender com os horizontes amazônicos - a Amazônia como centro do mundo; b) cinco pistas analíticas que indicam a construção de uma concepção original de geografia que, ao mesmo tempo, afirmam e tensionam a tradição da disciplina: i) a Amazônia como acumulação desigual de tempos: ii) a ecologia política da relação sociedade-natureza na Amazônia; iii) a Geo-grafia como verbo: um olhar para a Amazônia desde os de baixo e das r-existências; iv) as tensões territoriais: o conflito como chave de leitura da Amazônia; v) as lutas pela vida, pela dignidade e pelo território na Amazônia.
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