O direito à “outra” memória – sobre 'Ainda estou aqui', de Marcelo Rubens Paiva
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v23i45.33570Palavras-chave:
literatura contemporânea, memórias, democracia, arquivos.Resumo
Este texto trata do livro de memórias Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva, naquilo que permite pensar que questões acerca da tomada de posição do escritor, do uso de arquivos, da vida enquanto matéria viva da ficção, embora sejam postas, geralmente, como uma certa conformação da literatura aos ditames do presente, podem, ao contrário, ressaltar modos como o literário, na constituição de seu ter-lugar, não se isenta de apontar os limites de outros discursos, em uma espécie de altercação contra o já dito. A montagem documental do livro de Paiva, na qual são dispostos artigos de jornais, peças processuais, depoimentos, e, mesmo, fotografia, faz com que a história seja decomposta, expondo a violência com que se constrói. Sem autocomiseração, o autor expõe dois lutos: aquele que teve início com a tortura e morte de seu pai, o deputado Rubens Paiva, pela ditadura militar brasileira e o que vivencia no momento em que escreve, quando acompanha o desenvolvimento do Alzheimer em sua mãe, Eunice Paiva. Ele traça o perfil da protagonista, que, nos lampejos de lucidez, repete: “Ainda estou aqui”, apontando como o luto sem fim pelo pai e o luto por etapas da mãe são narrativas que dizem muito sobre o estado de coisas do presente. Esta leitura baseia-se, sobretudo, em reflexões de Didi-Huberman, Jacques Rancière e Jacques Derrida acerca do político, de tomadas de posição e de democracia.
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