O sexual no corpo da língua

Autores

  • Paulo Sergio de Souza Junior Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

DOI:

https://doi.org/10.22409/gragoata.v24i49.34094

Palavras-chave:

língua, tradução, gênero, psicanálise.

Resumo

No fragmento 19 dos Manuscritos de Harvard, Ferdinand de Saussure afirma que a diferença, uma vez que admite graus, consiste num termo incômodo. Nesse sentido, semelhança e diferença encontram-se emaranhadas uma à outra, confundindo os seus matizes e não escapando do fato de que, embora pareça inevitável perceber a possibilidade do discernível, também é custoso saber, estruturalmente, entre que elementos será preciso distinguir, e em que termos. Se a anatomia como destino (FREUD, 1912; 1924) se mostra mais matizada do que se gostaria – também ela admitindo seus graus –, tampouco se consegue negar categoricamente a suspeita de que as diferenças que aí se reconhecem são, antes mesmo, instituídas por uma nomeação; uma nomeação que, uma vez posta, marca os limites dos seus domínios muito mais do que simplesmente os reconhece. Se a diferença anatômica não mitiga a impossibilidade derradeira de conjugação entre os seres falantes, como pensar o trânsito/tradução entre os corpos (suas mútuas tentativas de acesso) e onde situar as diferenças que lhes cabem? Para elaborar uma resposta, este trabalho parte da hipótese de que convém desenvolver a reflexão acerca da diferença sexual alguns palmos acima da linha da cintura, recorrendo a outro órgão, a única entranha que o corpo humano deixa à vista; uma víscera que, não por acaso, curto-circuitando o dentro e o fora do corpo que ela habita, se consagra na talvez mais célebre – e também prosaica – das catacreses: a língua.

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Biografia do Autor

Paulo Sergio de Souza Junior, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Linguista e tradutor, exerce a psicanálise na cidade de São Paulo. Bacharel e doutor em linguística pelo IEL-Unicamp, realizou pós-doutoramento no Depto. de Ciência da Literatura da UFRJ. Atuou como professor-associado junto ao Depto. de Língua Romena e Linguística Geral da Universidade Alexandru Ioan Cuza (Iași, 2009) e foi tradutor residente do Instituto Cultural Romeno (Bucareste, 2013). Organiza a coletânea A psicanálise e os lestes (Ed. Annablume) e é um dos editores da Revista Lacuna (www.revistalacuna.com), bem como da plataforma Lacan – Escritos avulsos (www.escritosavulsos.com). Traduziu e coorganizou o volume Otto Gross – Por uma psicanálise revolucionária (Ed. Annablume, 2017), com textos do psicanalista vienense inéditos em português. Dentre seus artigos: “Sexual: o contemporâneo da psicanálise” (Alea, v. 16, 2014), “Miragens perimetrais: sobre o erro como limite” (Ágora, v. 17, 2014) e “Passa pela Sibéria: um relato que vem ao caso” (Terceira Margem, v. 26, 2012).

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Publicado

2019-08-27

Como Citar

de Souza Junior, P. S. (2019). O sexual no corpo da língua. Gragoatá, 24(49), 536-549. https://doi.org/10.22409/gragoata.v24i49.34094