A colonialidade do português em Moçambique: embate no desenvolvimento das línguas bantu
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.64363.ptPalavras-chave:
Colonialidade, Eurocentrismo, Línguas Bantu, PortuguêsResumo
A Constituição da República de Moçambique defende a valorização das línguas moçambicanas de origem bantu, um cenário de planificação linguística que, apriori, mostra-se favorável ao seu desenvolvimento e ao seu ensino. Porém, o fosso entre essas línguas locais e a língua portuguesa demonstra-se maior, já que essa última é tida como língua de ensino, de unidade nacional e de caráter administrativo, o que lhe confere um estatuto forte diante das restantes. Nesse âmbito, o presente artigo objetiva discutir aspectos da política linguística instituída no país, cujos resultados mostram que, dada a hegemonia do português, a percentagem de falantes desse idioma vai aumentando ano a ano, com a implantação de instituições de controle linguístico, o que vai eternizar a colonialidade do poder, do saber e da linguagem, consubstanciada no epistemicídio e no linguicídio, e, consequentemente, na eliminação da cultura do povo local. Portanto, ensinar, promover e manter as línguas nativas dos povos é uma questão de direito humano, já que as línguas naturais são uma realidade constituída coletivamente e é na comunidade que ela está disponível para o uso individual como instrumento de unidade, identificação, comunicação e expressão criadora. Deve-se defender o direito de todas as comunidades linguísticas como iguais, independentemente do seu estatuto jurídico (UNESCO,1996).
Downloads
Referências
BAVO, Názia; NGUNGA, Armindo. Práticas linguísticas em Moçambique: avaliação da vitalidade linguística em seis distritos. Maputo: Editora da UEM, 2011.
BOFF, Frei Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis: Vozes, 1997.
BORSTEL, Clarice Nadir Von. Aspectos do bilinguismo: Alemão/português em Marechal Cândido Rondon – Paraná-SC. 1992. 195f. Dissertação (Mestrado em Letras-Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1992.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Schwarcz, 1996.
CANETTI, Elias. Massa e poder. Tradução de SergioTellaroli. São Paulo: Companhia de Bolso Editora, 2019.
CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser-SP. 2005. 339f. Tese (Doutorado em Educação) –Programa de Pós-Graduação de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Imprensa Nacional, 2004. Disponível em: https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Media/Files/Constituicao-da-Republica-PDF. Acessoem: 21 jan. 2023.
DAMKE, Ciro. Sprachgebrauch und Sprachkontakt in der deutschenSprachinsel in Sudbrasilien. Frankfurt am Main; Berlin; Bern; New York; Paris; Wien: Lang, 1997.
GÓMEZ, Miguel Buendia. Educação moçambicana – História de um processo: 1962-1984. Maputo: Livraria Universitária, 1999.
KLOSS, Henz. Research possibilities on group bilingualism: A report. International Centre for Research on Bilingualism. Quebec: ERIC, 1969.
LATOUCHE, Serge. A África pode contribuir para resolver a crise do Ocidente?Revista Espaço Plural, Paraná, vol.XIV, n. 28, p. 175-195, jan./jun. 2013. Disponível em:http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=445944241009. Acesso em:23 nov. 2022.
MIGNOLO, Walter. Histórias locais, projetos globais. Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2003.
NASCIMENTO, Elisa Larkin. Sankofa: Significados e intenções. In: NASCIMENTO, Elisa Larkin. (org.). A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008.p. 29-54.
NÚCLEO DE ESTUDO DAS LÍNGUAS MOÇAMBICANAS (NELIMO). I Seminário sobre a Padronização da Ortografia das Línguas Moçambicanas. Maputo: INDE-UEM/NELIMO, 1989.
NGUNGA, Armindo; FAQUIR, Osvaldo. Padronização da ortografia de línguas moçambicanas: Relatório do III Seminário. Maputo: Editora da CEA/UEM, 2011.
NGUNGA, Armindo. Introdução à linguística bantu. Maputo: Imprensa Universitária, 2004.
NGUNGA, Armindo. Elementos de gramática da língua yao. Maputo: Imprensa Universitária, 2002.
NGUNGA, Armindo. As línguas bantu de Moçambique. Limani, Maputo, v.2, p. 59-70, 1987.
OLIVEIRA, Gilvan Müller.Línguas de fronteira, fronteiras de línguas: do multilinguismo ao plurilinguismo nas fronteiras do Brasil.Revista GeoPantanal, Corumbá, v.11, n.21, p. 59-72, jul./dez.2016.
PRATT, Mary Louise. Artofthe Contacto Zone. Modern Language Association, p. 33-40, 1991.
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do saber, eurocentrismo e América Latina.CLACSO, Buenos Aires, 2005.Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf. Acesso em 22 de jan. 2023.
RAVETTI, Graciela. Narrativas performáticas. In: RAVETTI, Graciela; ARBEX, Márcia (org.). Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002. p. 47-68.
SITOE, Bento; NGUNGA, Armindo. Relatório do II Seminário sobre a Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas. Maputo: NELIMO, 2000.
SOARES, Luis Eustáquio. Literatura, Lacan e o Comunismo. Vitória: JEP, 2016.
TAYLOR, Diana. Encenando a memória social: Yuyachkani. In: RAVETTI, Graciela; ARBEX, Márcia (org.). Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002. p. 11-45.
UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Linguísticos. Barcelona, 1996. Disponível em: http://www.dhnet.org.br. Acessoem: 16 jul.2022.
WEINREICH, Uriel. Language in Contact. New York: Linguistic Circle & The Hague, 1953.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Gragoatá

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
AUTORIZAÇÃO
Autores que publicam em Gragoatá concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos e cedem à revista o direito à primeira publicação, simultaneamente submetido a uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento por terceiros com a devida menção ao autor e à primeira publicação pela Gragoatá.
Os autores podem entrar em acordos contratuais adicionais e separados para a distribuição não exclusiva da versão publicada da obra (por exemplo, postá-la em um repositório institucional ou publicá-la em um livro), com o reconhecimento de sua publicação inicial na Gragoatá.
A Gragoatá utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição CC BY 4.0 Internacional.