A colonialidade do português em Moçambique: embate no desenvolvimento das línguas bantu

Autores

  • Luis Ausse Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.
  • Águeda Cristóvão Simão Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS, Brasil.
  • João Claudio Arendt Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.64363.pt

Palavras-chave:

Colonialidade, Eurocentrismo, Línguas Bantu, Português

Resumo

A Constituição da República de Moçambique defende a valorização das línguas moçambicanas de origem bantu, um cenário de planificação linguística que, apriori, mostra-se favorável ao seu desenvolvimento e ao seu ensino. Porém, o fosso entre essas línguas locais e a língua portuguesa demonstra-se maior, já que essa última é tida como língua de ensino, de unidade nacional e de caráter administrativo, o que lhe confere um estatuto forte diante das restantes. Nesse âmbito, o presente artigo objetiva discutir aspectos da política linguística instituída no país, cujos resultados mostram que, dada a hegemonia do português, a percentagem de falantes desse idioma vai aumentando ano a ano, com a implantação de instituições de controle linguístico, o que vai eternizar a colonialidade do poder, do saber e da linguagem, consubstanciada no epistemicídio e no linguicídio, e, consequentemente, na eliminação da cultura do povo local. Portanto, ensinar, promover e manter as línguas nativas dos povos é uma questão de direito humano, já que as línguas naturais são uma realidade constituída coletivamente e é na comunidade que ela está disponível para o uso individual como instrumento de unidade, identificação, comunicação e expressão criadora. Deve-se defender o direito de todas as comunidades linguísticas como iguais, independentemente do seu estatuto jurídico (UNESCO,1996).

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Publicado

2025-03-21

Como Citar

Ausse, L. ., Simão , Águeda C. ., & Arendt, . J. C. . (2025). A colonialidade do português em Moçambique: embate no desenvolvimento das línguas bantu. Gragoatá, 30(66), e64363. https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.64363.pt

Edição

Seção

(v.30, n.66) - Políticas Linguísticas e Ensino de Línguas