O outro, o mesmo, em três tempos: circularidades poéticas entre Angola e Brasil
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https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i67.66785.ptMots-clés:
Circularidade poética, Memória Cultural, Angola, BrasilRésumé
Os estudos, em diversos campos do conhecimento, acerca de territórios que tiveram suas histórias atravessadas por processos coloniais frequentemente padecem de uma premissa centralizadora: a concepção de influência ou o uso de certa noção de tradição que parte do elemento colonizador. No mundo de língua portuguesa, esta centralidade é atribuída a Portugal, de onde teria saído a base cultural e a mediação entre seus territórios colonizados. Este artigo, contudo, propõe uma análise Sul-Sul entre Angola e Brasil sem a intermediação do país do Norte. Reconhecidos o imaginário acerca de algumas imagens e a tradição poética ocidental, propõe ultrapassar a noção simplória de influência, colocando em diálogo produções de três temporalidades distintas na história literária desses países, os séculos XVII, XIX e XXI, utilizando o conceito de “memória cultural”, de Jan Assmann. Apesar do percurso temporal começar no período colonial dos dois espaços, a circularidade poética é lida no eixo do Atlântico Sul, entre poemas de Antônio Dias Macedo (Angola) e Gregório de Matos (Brasil). Já no século XIX, momento de independência do Brasil e intensificação da colonização portuguesa em Angola, focaliza-se a produção de José da Silva Maia Ferreira, autor do considerado primeiro livro angolano, publicado após o retorno do Brasil a Angola e o contato com poetas como João D’Aboim e Gonçalves Dias. Por fim, no século XXI, propõe uma comparação entre poemas do angolano Ondjaki e da brasileira Ana Martins Marques, diálogo que, independente de contato efetivo entre os poetas, centra-se em um éthos compartilhado via “memória cultural”.
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