O outro, o mesmo, em três tempos: circularidades poéticas entre Angola e Brasil

Auteurs

  • Roberta Guimarães Franco Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-0098-2481
  • Rodrigo Garcia Barbosa Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

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https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i67.66785.pt

Mots-clés:

Circularidade poética, Memória Cultural, Angola, Brasil

Résumé

Os estudos, em diversos campos do conhecimento, acerca de territórios que tiveram suas histórias atravessadas por processos coloniais frequentemente padecem de uma premissa centralizadora: a concepção de influência ou o uso de certa noção de tradição que parte do elemento colonizador. No mundo de língua portuguesa, esta centralidade é atribuída a Portugal, de onde teria saído a base cultural e a mediação entre seus territórios colonizados. Este artigo, contudo, propõe uma análise Sul-Sul entre Angola e Brasil sem a intermediação do país do Norte. Reconhecidos o imaginário acerca de algumas imagens e a tradição poética ocidental, propõe ultrapassar a noção simplória de influência, colocando em diálogo produções de três temporalidades distintas na história literária desses países, os séculos XVII, XIX e XXI, utilizando o conceito de “memória cultural”, de Jan Assmann. Apesar do percurso temporal começar no período colonial dos dois espaços, a circularidade poética é lida no eixo do Atlântico Sul, entre poemas de Antônio Dias Macedo (Angola) e Gregório de Matos (Brasil). Já no século XIX, momento de independência do Brasil e intensificação da colonização portuguesa em Angola, focaliza-se a produção de José da Silva Maia Ferreira, autor do considerado primeiro livro angolano, publicado após o retorno do Brasil a Angola e o contato com poetas como João D’Aboim e Gonçalves Dias. Por fim, no século XXI, propõe uma comparação entre poemas do angolano Ondjaki e da brasileira Ana Martins Marques, diálogo que, independente de contato efetivo entre os poetas, centra-se em um éthos compartilhado via “memória cultural”.

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Publiée

2025-05-28