Solidariedade em Redes
DOI:
https://doi.org/10.22409/ppgmc.v5i5.9730Resumo
O discurso da comum humanidade que vinculava sofredor e espectador na base de uma moralidade piedosa caducou frente às solicitações de uma sociedade tecnológica, multicultural e pluralista. Ao repertório do protesto e da denúncia, como instrumentos privilegiados da modernidade, prevalecem agora novos apelos à chamada “sensibilidade humanitária” (CHOULIARAKI, 2013) posta diretamente a cada sujeito social conectado. Deste modo, uma profusão de causas individuais tem se amontoado nas redes sociais (não raro, multiplicadas pelos meios de comunicação tradicionais) todos os dias. Causas que se declaram legítimas e justificáveis em tempos de uma precária e insuficiente participação do Estado e que se orientam para uma ação direta às vítimas e oprimidos. Contudo, as interações afetivas que subjazem estes apelos solidários se coadunam à lógica de um capitalismo flexível que toma a própria vida em sua vertente criativa, como núcleo de produção econômica, ou seja, como forma de capitalização da própria vida cotidiana. Neste texto buscamos desenvolver uma etapa descritiva destas convocações solidárias como uma prática baseada na lógica conexionista que tem vigorado em nossa sociedade. Alguns casos são trazidos para pensar o lugar da vítima enquanto instância privilegiada de sua própria enunciação, os mecanismos de visibilidade que são articulados na comunicação modulada pelas redes e em que medida é possível pensar tais práticas como uma espécie de atualização das ações solidárias baseadas em uma “política do conexionismo”, conforme indicam os estudos de Boltanski e Chiapello (2013).Downloads
Referências
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