Usar, abusar e depender de drogas

do cérebro à sociedade

Authors

  • Pamella Moura Universidade Federal Fluminense
  • Gustavo Esteves Nauter Universidade Federal Fluminense
  • Regina Kubrusly Universidade Federal Fluminense
  • Mauricio Santos Pereira Broad Institute

DOI:

https://doi.org/10.22409/nes.v1i1.64282

Keywords:

drogas de abuso, dependencia, vicio, dopamina

Abstract

O uso de drogas no Brasil, lícitas e ilícitas, é um grave problema de saúde pública. O III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas revela que 66,4% dos brasileiros entre 12 e 65 anos já consumiram álcool, e 33,5% já usaram tabaco, com alta prevalência entre adolescentes. Além disso, 15 milhões de indivíduos admitiram o uso de drogas ilícitas. Entretanto, o uso, abuso e dependência de drogas, apesar de frequentemente usados como sinônimos, têm definições distintas. O consumo abusivo pode evoluir para o Transtorno de Uso de Substâncias (TUS), que envolve a perda de controle sobre o consumo e a compulsão pela droga. Fatores genéticos, ambientais e as características da substância influenciam na vulnerabilidade ao vício. Este artigo discute a neuroquímica das drogas de abuso, destacando o papel da dopamina e do sistema de recompensa no desenvolvimento da adicção, além de discutir três das principais drogas utilizadas no Brasil, o álcool, a nicotina e a cocaína/crack. A compreensão desses mecanismos é essencial para enfrentar os desafios associados ao consumo de drogas no Brasil.

Author Biographies

Pamella Moura, Universidade Federal Fluminense

Graduada em Biomedicina (Habilitação: Bacharel, Ênfase: Neurociências) pela Universidade Federal Fluminense (2017 - 2022). Aluna de Iniciação Científica e bolsista PIBIC no Laboratório de Neurofarmacologia (2019 - 2022). Mestre em Neurociências pelo Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFF, vinculada ao Laboratório de Neurofarmacologia da Universidade Federal Fluminense (2022 - presente). Atualmente é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas (Fisiologia e Farmacologia da UFF. Atua na área de neuroquímica e drogas de abuso durante a adolescência. Participante de projetos de extensão, como o Meninas nas Ciências (2020 - 2021), a Liga Acadêmica de Neurociências Biomédica da Universidade Federal Fluminense (LiNeB - UFF), como Diretora da Comissão de Neurofarmacologia (2020 - 2022), o Programa Integrado de Neurofarmacologia e Extensão (PRINEx) e a Olimpíada de Neurociências do Rio de Janeiro (ONRJ), estes desde 2021. Além disso, atuou como monitora voluntária nas disciplinas de Fisiologia Humana e Fisiologia de Órgãos e Sistemas (2021) e foi presidente da LiNeB - UFF (2021 - 2022). 

Gustavo Esteves Nauter, Universidade Federal Fluminense

Possui graduação em Psicologia pela UNA Divinópolis(2022). Tem experiência na área de Psicologia.

Regina Kubrusly, Universidade Federal Fluminense

Graduada em Ciências Biológicas (1990), possui Mestrado, com bolsa Capes (1995) e Doutorado em Biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e Pós-Doutorado em Neurociências pela Harvard Medical School, com bolsa do CNPq (2008). Atualmente é professora Titular da Universidade Federal Fluminense, orienta alunos de graduação e pós-graduação no laboratório de Neurofarmacologia onde é líder de grupo de pesquisa, cadastrado no CNPq e bolsista de produtividade em pesquisa nível 2 (CNPq). Tem experiência na área de Biofísica e Farmacologia, atuando principalmente no seguinte tema: neuroquímica da dependência.

Mauricio Santos Pereira, Broad Institute

Pos-doutorando pelo Broad Institute of MIT and Harvard. Atuou como Professor Colaborador III pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (USP) e pós-doutor pelo Institut du cerveau et de la Moelle Épinière (Université de Sorbonne, Paris) e pela Universidade de São Paulo (Faculdade de Odontologia de RIbeirão Preto). Atualmente trabalha com a caracterização da atividade microglial em modelos gen[eticos da esquizofrenia e do transtorno bipolar. Possui o grau de Doutor pelo Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e de Mestre pelo Programa de Neurociências da Universidade Federal Fluminense. Formação em Biomedicina, com ênfase em Pesquisa Científica na área de Fisiologia e Farmacologia. Trabalhou com modelos farmacol[ogicos de discinesia induzida por L-DOPA e modelos experimentais para transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), tendo conhecimento de técnicas como produção de cultura primária de células gliais e neuronais, técnicas de imageamento (imunohisto/citoquímica e fluorescência), ELISA, captação e liberação de neurotransmissores, ensaio de dosagem de AMPc, Western Blot e Binding de receptores, além de testes comportamentais, como labirinto em cruz elevado, campo aberto, teste do cilindro e de rotação induzida por apomorfina (para detecção de lesão da via nigroestriatal) e identificação e pontuação de movimentos involuntários anormais. Possui colaboração com o laboratório Experimental Therapeutics of Parkinson's disease (ICM, Paris), com o Instituto Superior de Investigaciones Biológicas (INSIBIO), e Instituto de Química Biológica Dr Bernabé Bloj (CONICET-UNT, Tucumán) e com grupos de pesquisa do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

References

ALARCON, S. Drogas Psicoativas: classificação e bulário das principais drogas de abuso. In: ALARCON, S., and JORGE, MAS., comps. Álcool e outras drogas: diálogos sobre um mal-estar contemporâneo [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2012, pp. 103-129. ISBN: 978-85-7541-539-9. https://doi.org/10.7476/9788575415399.0006.

BARRETO, I. F. Tabaco: a construção das políticas de controle sobre seu consumo no Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.25, n.3, jul.-set. 2018, p.797-815.

BASTOS, FRANCISCO INÁCIO PINKUSFELD MONTEIRO, VASCONCELLOS, MAURICIO TEIXEIRA LEITE DE, DE BONI, RAQUEL BRANDINI, REIS, NEILANE BERTONI DOS & COUTINHO, CAROLINA FAUSTO DE SOUZA. III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ICICT, 2017. 528 p.

BENOWITZ, N. L. (2008). Neurobiology of Nicotine Addiction: Implications for Smoking Cessation Treatment. The American Journal of Medicine, 121(4), S3–S10. doi:10.1016/j.amjmed.2008.01.015

BENOWITZ, N. L., & GOURLAY, S. G. (1997). Cardiovascular Toxicity of Nicotine: Implications for Nicotine Replacement Therapy 11All editorial decisions for this article, including selection of referees, were made by a Guest Editor. This policy applies to all articles with authors from the University of California San Francisco. Journal of the American College of Cardiology, 29(7), 1422–1431. doi:10.1016/s0735-1097(97)00079-x

CREWS, F. T., VETRENO, R. P., BROADWATER, M. A., & ROBINSON, D. L. (2016). Adolescent Alcohol Exposure Persistently Impacts Adult Neurobiology and Behavior. Pharmacological Reviews, 68(4), 1074–1109. doi:10.1124/pr.115.012138

GOERIG, M., BACON, D., & VAN ZUNDERT, A. (2012). Carl Koller, Cocaine, and Local Anesthesia. Regional Anesthesia and Pain Medicine, 37(3), 318–324. doi:10.1097/aap.0b013e31825051f3

GURFINKEL, D. (2008). O episódio de Freud com a cocaína: o médico e o monstro. Revista Latinoamericana De Psicopatologia Fundamental, 11(3), 420–436. https://doi.org/10.1590/S1415-47142008000300006

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2022. Pesquisa nacional de saúde do escolar : análise de indicadores comparáveis dos escolares do 9º ano do ensino fundamental : municípios das capitais : 2009/2019.

IKEMOTO, S., & PANKSEPP, J. (1999). The role of nucleus accumbens dopamine in motivated behavior: a unifying interpretation with special reference to reward-seeking. Brain Research Reviews, 31(1), 6–41. doi:10.1016/s0165-0173(99)00023-5

KALIVAS, P. W., & VOLKOW, N. D. (2007). The Neural Basis of Addiction: A Pathology of Motivation and Choice. FOCUS, 5(2), 208–219. doi:10.1176/foc.5.2.foc208

KIM, S., & PARK, T. (2019). Acute and Chronic Effects of Cocaine on Cardiovascular Health. International Journal of Molecular Sciences, 20(3), 584. doi:10.3390/ijms20030584

KREBS, C.; AKESSON, E. J.; WEINBERG, J. Neurociências Ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2012.

MANUAL MSD. Considerações gerais sobre transtornos por uso de substâncias, 2022. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/distúrbios-de-saúde-mental/transtornos-por-uso-de-substâncias/considerações-gerais-sobre-transtornos-por-uso-de-substâncias. Acesso em: 16 de junho de 2024.

MEDEIROS, K. T., MACIEL, S. C., SOUSA, P. F. de, TENÓRIO-SOUZA, F. M., & Dias, C. C. V. (2013). Representações sociais do uso e abuso de drogas entre familiares de usuários. Psicologia Em Estudo, 18(2), 269–279. doi:10.1590/s1413-73722013000200008

OPALEYE, E. S., NOTO, A. R., LOCATELLI, D. P., AMATO, T. C. & BEDENDO, A. II Relatório Brasileiro Sobre Drogas – Brasilia: Ministério da Justiça e Segurança Pública, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2021.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Neurociência do uso e da dependência de substâncias psicoativas. [tradução Fábio Corregiari] – São Paulo: Roca, 2006.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2019. Tabaco. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/tabaco. Acesso em: 10 de agosto de 2024.

SENAD. Efeitos de substâncias psicoativas: módulo 2. – 7. ed. – Brasília, 2014. Disponível em: www.supera.senad.gov.br

SORGE, J. T., YOUNG, M., MALONEY-HALL, B., SHERK, A., KENT, P., ZHAO, J., … FERGUSON, B. (2019). Estimation of the impacts of substance use on workplace productivity: a hybrid human capital and prevalence-based approach applied to Canada. Canadian Journal of Public Health. doi:10.17269/s41997-019-00271-8

SOUZA, M. S., CARVALHO, M., VAZ, C. A. L. A relação entre as drogas e a criminalidade: do ponto de vista jurídico e crimiológico. Revista FT, [s.l.], [v. 1], n. 1, p. 1-15, [2023]. Disponível em: https://revistaft.com.br/a-relacao-entre-as-drogas-e-a-criminalidade-do-ponto-de-vista-juridico-e-crimiologico/. Acesso em: 10 de junho de 2024.

TALHOUT, R., SCHULZ, T., FLOREK, E., VAN BENTHEM, J., WESTER, P., & OPPERHUIZEN, A. (2011). Hazardous Compounds in Tobacco Smoke. International Journal of Environmental Research and Public Health, 8(2), 613–628. doi:10.3390/ijerph8020613

VOLKOW, N. D., KOOB, G. F., & MCLELLAN, A. T. (2016). Neurobiologic Advances from the Brain Disease Model of Addiction. New England Journal of Medicine, 374(4), 363–371. doi:10.1056/nejmra1511480

WISE, R. A., & ROBBLE, M. A. (2020). Dopamine and Addiction. Annual Review of Psychology, 71(1), 79–106. doi:10.1146/annurev-psych-010418-103337

WORLD DRUG REPORT 2021 (United Nations publication, Sales no. E.21.XI.8)

Published

2024-09-02

How to Cite

MOURA, P.; NAUTER, G. E. .; KUBRUSLY, R.; PEREIRA, M. S. . Usar, abusar e depender de drogas: do cérebro à sociedade. Neurociências & Sociedade, v. 1, n. 1, p. e024006, 2 Sep. 2024.

Issue

Section

Artigos de Revisão