Dizer o indizível: histeria e heteronímia
DOI:
https://doi.org/10.22409/poiesis.1319.119-135Palavras-chave:
histeria, Fernando Pessoa, Gilles Deleuze, filosofia contemporânea, literatura portuguesaResumo
Em uma de suas últimas correspondências, Fernando Pessoa apresentou um diagnóstico de si com o intuito de explicar a gênese da heteronímia, procedimento que o tornara notável entre os poetas de sua geração. Apontando a histeria como sintoma disparador da produção de seus outros “eus”, o poeta remete a origem dos heterônimos a um impulso orgânico para a despersonalização, que o permitiria alcançar um campo de indiscernibilidade entre sua própria personalidade e as de suas simulações. A partir de sua autoclassificação como histérico, tendo em vista a intensidade de sua produção, investigamos a potência de elementos referidos à histeria para pensar a literatura e a arte em geral, aproximando sua perspectiva às análises feitas por Gilles Deleuze de Francis Bacon. Desta forma, a heteronímia poderia ser entendida como o produto da tensão imposta à unidade do sujeito, que passa a vacilar diante das forças pré-individuais que o povoam.
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