O fino tecer de “retalhos variados” em Tocata para dois clarins, de Mário Cláudio
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v14i29.53362Palavras-chave:
Tocata para dois clarins, Mário Cláudio, Literatura portuguesa contemporânea, Literatura e outras artes, IroniaResumo
O romance Tocata para dois clarins, publicado em 1992 por Mário Cláudio, coerente com o conjunto da obra do escritor, é espaço de um profícuo diálogo entre a literatura e outras manifestações artísticas. Nele, a história do casal formado por António e Maria, que remete à biografia do próprio Mário Cláudio, revisita o período estadonovista português, contudo, lançando mão de artifícios para a tessitura de enredos que buscam subverter a dureza dos clarins do sistema salazarista. Este artigo, ao revisitar o romance da década de 1990 do século passado, pretende destacar os “retalhos variados” que o compõem, demonstrando, a partir da contemporaneidade das discussões por ele provocadas, uma reflexão sobre o papel da literatura na representação do real e nas possibilidades criativas de sua re-elaboração. Esses “retalhos”, a saber, a música, a fotografia, a escultura, a arquitetura e a própria literatura, têm destaque à luz de consagradas leituras críticas do texto marioclaudiano, como aquelas empreendidas por Maria Theresa Abelha Alves, Teresa Cerdeira e Dalva Calvão. Além disso, fundamentam esta proposta teóricos das relações dialógicas entre a literatura e outras artes, tais como Karl Erik Schøllhammer, Alberto Manguel e Aguinaldo José Gonçalves, que passam, evidentemente, pelo incontornável nome de G. E. Lessing. Renunciando ao ineditismo de seu objeto de leitura, este artigo recupera textos do passado recente para realçar o caráter metalinguístico, autorreflexivo e (auto)irônico da produção literária portuguesa do pós-74, de que Mário Cláudio é representante.
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