Para uma discussão do lugar utópico: a Pasárgada bandeiriana habitada por cabo-verdianos e portugueses
DOI:
https://doi.org/10.22409/abriluff.v2i2.29825Palavras-chave:
Pasárgada de Manuel Bandeira, Claridade cabo-verdiana, Neo-Realismo portuguêsResumo
Ao comparar alguns aspectos do modernismo brasileiro com o movimento da Claridade em Cabo Verde, é possível reconhecer um traço comum no que concerne a definição de uma identidade enquanto nação, em contraponto com a identidade “portuguesa” que tinha sido imposta nos países-colônias. De fato, o modernismo brasileiro é visto como modelo para seu “irmão”, Cabo Verde, devido a aspectos de regionalismo, de nacionalismo e, até certo ponto, de “xenofobia”, principalmente em relação a Portugal, o “pai”. Eduardo Lourenço, em seu livro A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia (Lisboa: Gradiva,1999), afirma com uma análise psicoanalítica que o Brasil sobreviveria culturalmente somente depois de “matar” o pai: “Para o discurso cultural brasileiro, Portugal existe pouco ou nada, mas, se existe, é apreendido como pai colonizador que o Brasil teve de matar para poder existir”(150). O mesmo poderia ser referido para Cabo Verde, com a diferença de que este era ainda colônia portuguesa na primeira metade do século XX e, portanto, o processo de “matar” o pai teria de ser feito num âmbito outro, que não o psicoanalítico... O uso da imagética do famoso poema de Manuel Bandeira, “Vou-me embora pra Pasárgada”, possibilitaria poetas cabo-verdianos como Jorge Barbosa e Osvaldo Alcântara a proclamar sua liberdade, a exemplo do poeta brasileiro. Este estudo enfoca a relação transcultural e transliterária entre o modernismo brasileiro, o movimento da Claridade na literatura cabo-verdiana e também a “resposta” portuguesa, presente na revista Távola Redonda.
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