ADOECIMENTO E MEDICALIZAÇÃO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A PRECARIZAÇÃO E INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.42453

Palavras-chave:

Uso de medicamentos. Adoecimento do professor. Precarização do trabalho. Ensino superior. Psicologia histórico-cultural.

Resumo

O objetivo desse trabalho é discutir sobre o uso de medicamentos por professores, apresentando dados de uma pesquisa realizada com docentes de duas universidades públicas do Paraná e tomando como referência alguns pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural. Inicialmente, trataremos do contexto do adoecimento e finalizaremos discorrendo, mais especificamente, a respeito do uso de medicamentos, ilustrando com informações obtidas a partir do resultado de pesquisa realizada a partir aplicação de 52 questionários que foram respondidos por professores. Como resultado, constatamos que 32 (61, 54%) afirmaram que tomaram algum medicamento nos últimos 12 meses; e quanto aos motivos do adoecimento, alegaram o seguinte: estresse/desgaste emocional/tensão/pressão psicológica (17 respostas); sobrecarga de trabalho (9 respostas); relações interpessoais conflituosas na academia (6 respostas). Essas e outras respostas apresentadas levam-nos à conclusão de que os docentes estão utilizando medicamentos para conseguirem lidar com a precarização do trabalho vigente na atualidade, que conduz, entre outros fatores, ao produtivismo, à competição entre pares e ao mercantilismo da educação, por exemplo, fazendo com que haja o processo de alienação, no qual há uma ruptura entre sentido e significado da atividade pedagógica. O uso de medicamentos pelos professores precisa ser compreendido levando-se em conta a totalidade que envolve o desenvolvimento da prática docente, cuja subjetividade está atrelada a condições histórico-sociais que produzem o adoecimento docente.

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Biografia do Autor

Marilda Gonçalves Dias Facci, Universidade Estadual de Maringá Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Doutorado em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista, Campus de Araraquara. Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá-Brasil; Professora Visitante da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.  Email: marildafacci@gmail.com

Marina Beatriz Shima Barroco Esper, Universidade Estadual de Maringá

Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá e mestre em Psicologia na linha de pesquisa de Desenvolvimento Humano e Processos Educativos pela Universidade Estadual de Maringá

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Publicado

2020-12-23

Como Citar

Facci, M. G. D., & Esper, M. B. S. B. (2020). ADOECIMENTO E MEDICALIZAÇÃO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A PRECARIZAÇÃO E INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO. Movimento-Revista De educação , 7(15). https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.42453