FRACASSO ESCOLAR E MEDICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO: A culpabilização individual e o fomento da cultura patologizante

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.43073

Palavras-chave:

Fracasso Escolar, Medicalização, Formação de professores, Educação Básica

Resumo

O presente estudo tem o objetivo de trazer uma abordagem crítica acerca do fracasso escolar e sua relação com a medicalização, apresentando, em um primeiro momento, uma discussão epistemológica do tema, seguida de uma breve perspectiva histórica do fenômeno investigado. Apresentamos também duas pesquisas de campo realizadas: a primeira com 14 alunos da educação básica pública, feita por meio de entrevistas semiestruturadas; e a segunda com 13 alunos formandos e 10 alunos egressos de um curso de Pedagogia de uma Universidade Federal, por meio de questionários on line. Buscamos conhecer a percepção deles sobre fracasso escolar, repetência e medicalização, acolhendo assim diferentes perspectivas. Os resultados mostraram que a compreensão individualizante/ biologizante/ patologizante/ medicalizante, fruto de uma educação acrítica muito conveniente aos interesses capitalistas, ainda predomina como percepção de alunos (sobre seu próprio fracasso) e de professores/ futuros professores. Assim, entendemos que cabe aos profissionais de educação não só se perceberem como agentes reprodutores de opressões e exclusões, como também direcionar esforços para a construção de políticas educacionais emancipatórias, desmedicalizantes e socialmente referenciadas.

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Biografia do Autor

Fernanda Insfran, Universidade Federal Fluminense

Psicóloga, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense no campus Santo Antônio de Pádua. Pós doutora pelo Programa de Pós Graduação em bioética, ética aplicada e saúde coletiva (PPGBIOS/UFRJ). Professora e pesquisadora credenciada ao Programa de Pós Graduação em Ensino (PPGEn/UFF), desenvolve pesquisas sobre fracasso escolar, medicalização, relações na escola, psicologia escolar e educacional, formação de professores, gênero e diversidade. É líder do Núcleo de Estudos Interseccionais em Psicologia e Educação (NEIPE/UFF). Membro do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade

Thalles Azevedo Ladeira, Universidade Federal Fluminense

Graduado em pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor do primeiro segmento do ensino fundamental no município de Bom Jesus do Itabapoana/ RJ. Desenvolve pesquisa sobre fracasso escolar, adoeciemento docente e medicalizacão na educação. Atualmente é mestrando em ensino pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde foi bolsista CAPES.  É membro do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade e dos grupos de pesquisa Núcleo de Estudos Interseccionais em Psicologia e Educação (NEIPE/UFF) e Núcleo de Pesquisa em Trabalho em Educação (NUPETE/UFF).

Samela Estéfany Francisco Faria, Universidade Federal Fluminense

Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e Pós-graduada (lato-sensu) em Cultura Patrimônio e Educação pelo Instituto Federal Fluminense (IFF). Atualmente é mestranda em Ensino pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tendo sido bolsista CAPES. É membra do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade e do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos Interseccionais em Psicologia e Educação (NEIPE/UFF)

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Publicado

2020-12-23

Como Citar

Insfran, F., Ladeira, T. A., & Faria, S. E. F. (2020). FRACASSO ESCOLAR E MEDICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO: A culpabilização individual e o fomento da cultura patologizante. Movimento-Revista De educação , 7(15). https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.43073