Entre o Golpe e a Bala
Violência Contra as Mulheres na Política nos Casos de Dilma e Marielle e Participação de Mulheres nas Eleições do Rio de Janeiro - RJ
DOI:
https://doi.org/10.22409/5hvgmd27Palavras-chave:
Eleições municipais, gênero, raça, violência política contra as mulheresResumo
A sub-representação feminina na política tem sido um tema central na Ciência Política, com ênfase crescente na análise interseccional de gênero, raça e classe (Davis, 1983; Crenshaw, s.d.; Biroli e Miguel, 2015). No Brasil, os episódios do impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e do assassinato de Marielle Franco (PSOL), em 2018, evidenciam a violência política contra mulheres como um dos principais obstáculos à participação política feminina (Krook e Sanín, 2016; Matos, 2022). Este artigo analisa a participação de mulheres de esquerda nas eleições municipais e gerais na cidade do Rio de Janeiro entre 2002 e 2024, observando os reflexos desses episódios. A partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral, cruzamos as variáveis gênero, raça e filiação partidária. Observa-se uma retração nas candidaturas femininas em 2016, seguida por um crescimento expressivo em 2020, especialmente entre mulheres negras com perfil semelhante ao de Marielle. Embora não se estabeleça uma relação causal direta, os dados sugerem que episódios de violência política podem operar tanto como formas de silenciamento quanto como catalisadores de resistência. Os resultados indicam que, mesmo diante de estruturas excludentes, a atuação de mulheres negras na política institucional reconfigura os sentidos da democracia e aponta para novos horizontes de representação.
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