Ideologia Não Mobiliza?

Determinantes da Motivação para Votar nas Eleições Municipais de 2024

Autores

  • Murilo Calafati Pradella Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) https://orcid.org/0000-0001-8964-8169
  • Victor Alberto Bueno Coelho Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
  • Julia do Carmo Carbono Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
  • Cristiane Ribeiro Pires Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

DOI:

https://doi.org/10.22409/72b46f11

Palavras-chave:

abstenção eleitoral; ideologia; eleições municipais; participação política.

Resumo

Historicamente, as eleições municipais brasileiras registram elevados níveis de abstenção, com destaque para as últimas eleições municipais, em 2024, o que sugere uma possível crise de representatividade em âmbito local. Este artigo investiga os fatores que explicam a disposição autônoma do eleitor para votar – isto é, sua motivação para participar das eleições independentemente da obrigatoriedade legal. A hipótese central é que, embora a ideologia seja relevante em disputas nacionais, ela possui capacidade limitada de mobilização nas eleições municipais. Com base em dados do IPEC (2024), foi construída uma variável dependente que combina duas perguntas: a vontade subjetiva de votar e a intenção declarada de comparecer às urnas caso o voto não fosse obrigatório. Utilizou-se um modelo de regressão logística com variáveis independentes que incluem orientação ideológica, percepção da importância das eleições locais, escolaridade, renda, idade, sexo, religião e condição municipal (capital/interior). Os resultados mostram que apenas 30,9% dos entrevistados possuem alta disposição autônoma para votar, e que a percepção de importância das eleições é o principal fator associado à mobilização voluntária. A orientação ideológica, por sua vez, apresentou efeitos limitados e estatisticamente frágeis, com destaque negativo para aqueles que não sabem ou recusam se posicionar. O estudo conclui que a participação eleitoral voluntária está mais relacionada ao sentido político atribuído ao pleito do que a fatores estruturais ou identitários. A competitividade eleitoral emerge, assim, como uma variável crítica para compreender o engajamento cidadão nas urnas.

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Biografia do Autor

  • Murilo Calafati Pradella, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Doutorando e Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

  • Victor Alberto Bueno Coelho, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Doutorando e Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

  • Julia do Carmo Carbono, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduada em Ciências Sociais - Licenciatura e Bacharelado pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG).

  • Cristiane Ribeiro Pires, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

    Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Ciências Sociais (2023) com dupla ênfase em Ciência Política e Sociologia, também pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

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Publicado

2025-11-24

Como Citar

Ideologia Não Mobiliza? Determinantes da Motivação para Votar nas Eleições Municipais de 2024. (2025). ZIZ - Revista Discente De Ciência Política, 4(2), e-004. https://doi.org/10.22409/72b46f11