Prorrogação da Chamada para o Dossiê “Maternidades ameaçadas: desigualdades, violência e direitos”
Nos últimos anos, uma variedade de estudos antropológicos têm registrado diferentes tipos de violência praticada contra mulheres em suas experiências de maternidade na América Latina. Essas violências consistem em intervenções institucionais e sociais, geralmente revestidas de uma retórica de proteção de direitos ou inspiradas em uma abordagem "salvacionista". Tais violência afetam as famílias e crianças específicas, mas têm como alvo principalmente as mães, que são suspeitas ou culpabilizadas por não desempenharem adequadamente um determinado papel de cuidado e proteção. Isso resulta em uma série de intervenções moralizantes que muitas vezes culminam na separação compulsória das crianças de suas famílias, no desrespeito às reivindicações de suas mães, que acabam sendo despojadas de seu papel e, em muitos casos, marginalizadas e silenciadas. Isso contribui para um processo de produção de mães vulnerabilizadas que correm o risco de perder seus filhos, tornando suas vidas burocratizadas e judicializadas.
A proposta deste dossiê é aprofundar o debate sobre a microfísica desse tipo de violência e sobre os argumentos, crenças e concepções que a suavizam ou tentam legitimá-la, bem como as formas pelas quais essas violências são questionadas e contestadas. Nesse sentido, diversos grupos de ativistas têm mobilizado argumentos e realizado ações para denunciar essas práticas, contribuindo para problematizar o assunto, destacar sua profundidade histórica e identificar novas modalidades e justificativas.
O foco escolhido para este dossiê permitirá iluminar várias facetas dos processos de reprodução da desigualdade e da criação de hierarquias sociais. Espera-se reunir artigos que sejam fruto de diferentes processos de pesquisas e militância, em especial no contexto de redes transnacionais e projetos envolvendo várias universidades e instituições em diálogo mútuo sobre o tema. Deseja-se evidenciar como tais pesquisadoras e/ou ativistas analisam as maneiras como a maternidade é gerida quando é considerada "inadequada" ou "fora de lugar", além de investigar como as contestações dessas práticas e as demandas por justiça nessas situações são construídas em termos de "direitos". Dessa forma, esse foco possibilita problematizar conceitos como justiça reprodutiva, direitos sexuais e reprodutivos, microfísica da violência estatal e também evidenciar a capacidade de organização e influência do ativismo em prol dos direitos.
Como resultados esperados, pretendemos apontar tendências e hipóteses para onde caminha o direito a ter e ser mãe, sobretudo na América Latina hoje, mas também em outros contextos. Assim, esperamos receber:
- Estudos de caso, sobretudo de caráter etnográfico, de diferentes situações que atravessam experiências de maternidades violadas, violentadas e/ou destituídas (isto é, situações envolvendo a perda de filhos pela violência estatal e/ou o encarceramento em massa e/ou pela destituição do poder familiar ou entrega compulsória e experiências de violência e racismo obstétricos, entre outros);
- Análises sobre as tecnologias e os dispositivos de governo sobre as maternidades consideradas "fora de lugar", seja por parte de agências do estado, seja de outros atores, como associações religiosas, civis, nacionais ou transnacionais, entre outros.
- Análises sobre as formas de denúncia, resistência, luta e/ou construção social de memória, sobre as violações vivenciadas pelas mulheres nas suas experiências de maternidade.
- Reflexões sobre as aprendizagens, trocas e tensões entre ativistas, gestores públicos e pesquisadores sobre a temática.
Considerando os critérios de avaliação imposto às revistas científicas, poderão ser selecionados 50% artigos de doutorandos, os demais artigos devem ter autoria de, ao menos, um doutor. Todos os artigos submetidos serão submetidos à avaliação às cegas de pareceristas externos, atendendo à política da revista. Para dar conta da diversidade de abordagens teóricas e metodológicas dos diferentes campos empíricos e problemáticas a serem debatidos, serão aceitos, preferencialmente, artigos das áreas de Antropologia e Ciências Sociais, observados os parâmetros de exogenia em relação à UFF.
Organizadoras: Natália Fazzioni (REMA-CNPq), Janaína Gomes (UFRGS), Carla Villalta (UBA/CONICET).
Prazo estendido: 15/08/2024.
OBS: Como temos mais de uma chamada aberta, faz-se obrigatório indicar no campo ‘Comentários aos editores’ que a submissão é para o Dossiê “Maternidades ameaçadas”.
As contribuições podem ser enviadas até 15 de agosto de 2024 pelo sistema eletrônico da revista: https://periodicos.uff.br/antropolitica/about/submissions#onlineSubmissions
As normas para submissão dos textos são as mesmas válidas para artigos e encontram-se disponíveis em: https://periodicos.uff.br/antropolitica/about/submissions#onlineSubmissions