Chamada para o Dossiê “Conhecimentos Tradicionais e Gestão de Áreas de Interesse Ecológico: estudos de caso sobre disputas e conflitos na América Latina”

2024-08-05

Povos e comunidades tradicionais, de áreas rurais ou urbanas, têm seus modos de vida marcados por éticas e regras específicas de relação com a terra, o ambiente e outros seres viventes, as quais envolvem dispositivos de produção, divisão e delimitação de lugares e espaços. Esses modos de vida, tal como tem sido evidenciado tanto por meio de pesquisas acadêmicas como através do ativismo e de formas de ação política desses coletivos humanos e de pesquisadores(as), têm sido fortemente impactados, ao longo das últimas décadas, por modelos de gestão ambiental em sua maior parte dirigidos ou associados aos Estados Nacionais e suas burocracias. Os dissensos ou desajustes entre as práticas locais e históricas de manejo dos ecossistemas tal como entendidos pelos coletivos humanos face às regras e regulamentações oficiais, quer se trate de áreas protegidas ou não, têm gerado um conjunto complexo de conflitos entre esses grupos e os Estados, ao mesmo tempo em que produzem novas formas de ativismo e resistência. 

Neste dossiê pretendem-se discutir, a partir de estudos de caso em diferentes contextos nacionais na América Latina, como esses dispositivos produzem lugares, disputas, regulamentações locais e possibilidades de políticas públicas. O objetivo é que os trabalhos aqui reunidos evidenciem de que maneira os conflitos, tácitos ou explícitos, identificados nestes contextos produzem impactos no ambiente, na paisagem e nos modos de vida considerados tradicionais. Além disso, as pesquisas em tela visam discutir seus efeitos sobre as dinâmicas de uso e gestão dos territórios, as formas com que impactam e reconfiguram as relações entre as comunidades tradicionais, os recursos naturais e outros grupos humanos que eventualmente tenham reivindicações e/ou práticas paralelas e concorrentes de espacialização, territorialização e produção de lugares. É importante sublinhar que resultados parciais de investigações que apontam para a complexidade destes problemas tem sido discutidos intensamente em fóruns acadêmicos por pesquisadores de variadas áreas da Antropologia e das Ciências Sociais há algum tempo. Tanto pelos impactos diretos sobre um grande contingente de famílias ou de cidades inteiras – no que diz respeito às economias locais, gestão pública e formas de participação política – como em relação às suas dimensões mais abrangentes, em maiores escalas, por tratarem-se de fenômenos globais ajustados às estruturas contemporâneas de exploração de recursos naturais, seus modos de produção e administração e repartição de lucros por parte de grandes agentes sociais e mesmo por Estados. Os proponentes deste dossiê tem participado e coordenado atividades em importantes eventos e fóruns acadêmicos, tais como as Reuniões de Antropologia Brasileira (RBA) e as Reuniões de Antropologia do Mercosul (RAM) e Congressos da Latino American Studies Association (LASA), Congressos da Asociación Latino Americana de Antropologia (ALA) e Encontros da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS). Tais atividades, como simpósios, mesas redondas e grupos de trabalho, entre outras, atesta a centralidade e emergência da temática, articulando assim, com considerável sucesso, uma rede de pesquisadores nacionais e estrangeiros, possibilitando a aproximação de diferentes abordagens de investigação que, por estas razões justifica-se, também, a proposta apresentada nesta prestigiosa Revista Antropolítica. 

Considerando os critérios de avaliação imposto às revistas científicas, poderão ser selecionados 50% artigos de doutorandos, os demais artigos devem ter autoria de, ao menos, um doutor. Todos os artigos submetidos serão submetidos à avaliação às cegas de pareceristas externos, atendendo à política da revista. Para dar conta da diversidade de abordagens teóricas e metodológicas dos diferentes campos empíricos e problemáticas a serem debatidos, serão aceitos, preferencialmente, artigos das áreas de Antropologia e Ciências Sociais, observados os parâmetros de exogenia em relação à UFF.

Organizadores: José Colaço Dias Neto (UFF/Brasil), Carlos Santos Cardozo (CURE; Udelar/Uruguai), Carmen Silvia Andriolli (UFRRJ/Brasil), Luciana Loto (UNM/Argentina).

Prazo: 05/11/2024.

OBS: Como temos mais de uma chamada aberta, faz-se obrigatório indicar no campo ‘Comentários aos editores’ que a submissão é para o Dossiê “Conhecimentos Tradicionais e Gestão de Áreas de Interesse Ecológico”.

As contribuições podem ser enviadas até 05 de novembro de 2024 pelo sistema eletrônico da revista: https://periodicos.uff.br/antropolitica/about/submissions#onlineSubmissions