“Documentos” e “procedimentos técnicos”: saberes e métodos em disputa na UHE-Tucuruí
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2019.0i46.a41923Palavras-chave:
Deslocamento Compulsório, Setor Elétrico, Documentos, Procedimentos Técnicos, Indenizações.Resumo
Neste trabalho, analisamos a construção e o manejo de documentos durante a fase inicial de intervenção da empresa hidrelétrica Eletronorte, em Tucuruí, Pará, no cerne de processos de deslocamento compulsório. A intenção é delinear as repercussões dos modos de operacionalização de um amplo leque de documentos – cadastros, inventários, planilhas, tabelas – sobre o processo organizativo dos movimentos embrionários que se aglutinaram em torno de focos de resistência à obra hidrelétrica desde o final dos anos 70 até o início dos anos 80. A revolta expressada pelos movimentos de resistência reside justamente na forma como o Setor Elétrico conduzia a gestão das pessoas e dos bens, com base em uma abordagem que padronizava os efeitos e mensurava os danos, sem considerar as condições específicas de cada um dos segmentos atingidos. São explicitadas aqui, por meio de uma abordagem etnográfica, as tentativas de travar um diálogo com a Eletronorte acerca dos critérios que guiavam a lógica das indenizações e que subsidiavam o conjunto de dispositivos metodológicos utilizados nas intervenções no campo social. Neste exercício analítico, partimos do entendimento de que os documentos produzidos – e depois re-arranjados e re-estruturados por meio de interpelações com outros atores sociais – desvelam regimes de verdade que não se cristalizam ao longo do tempo, uma vez que são passíveis de reformulações constantes. A hipótese testada e comprovada aqui nestas páginas é de que a gestão de arquivos é um processo permeável às dinâmicas que atravessam os processos sociais.
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