“Corpos como territórios de sofrimento”: experiências de dor das mulheres ribeirinhas vítimas de escalpelamento na Amazônia brasileira
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica.i.a56323Palavras-chave:
Escalpelamento, Gênero, Emoções, Sofrimento social, Amazônia.Resumo
Para produzir esta etnografia, busquei compreender narrativas e experiências em contexto de dor e sofrimento de mulheres pescadoras e ribeirinhas vítimas de escalpelamento nas regiões de rios da Amazônia. O escalpelamento é um termo do campo biomédico que se refere ao arrancamento do couro cabeludo. No contexto em que investiguei, o “acidente” ocorre através do enrolamento dos cabelos das mulheres no eixo dos motores de pequenas embarcações confeccionadas por mestres carpinteiros. As mulheres vitimadas por esse “acidente”, que frequentemente ocorre quando elas são crianças ou adolescentes, têm suas vidas alteradas drasticamente: são privadas do meio social, abandonam os estudos os cônjuges e até mesmo a família. A vida laboral também sofre enormes efeitos, já que a pesca se torna impraticável devido às dores de cabeça e às altas temperaturas da Região Norte, que agravam as condições de saúde das vítimas. As trajetórias dessas mulheres são marcadas por itinerários terapêuticos, incluindo cirurgias plásticas, enxertos e inserção de próteses, como orelhas (que também são frequentemente afetadas), além do uso de perucas, uma vez que o escalpelamento impossibilita o crescimento natural dos cabelos. Desse modo, observou-se que as mulheres vitimadas buscam, através desses meios, reconstruírem seus corpos e se tornarem o que chamam de “mulheres de verdade”. No presente trabalho, pretendo refletir sobre essas questões na interseção entre corpo, saúde e emoções, sob a perspectiva da antropologia social.
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