Passageiros que não pagam passagem: reflexões sobre conexões entre circulação urbana e privação de liberdade
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i3.a57938Palavras-chave:
Unidade socioeducativa, Adolescentes, Ônibus, Cidade, Segurança pública.Resumo
Os espaços de privação de liberdade têm sido pensados cada vez mais não só como instituições totais apartadas da vida urbana, mas também através de seus fluxos, da circulação ou da porosidade. Essas reflexões vão desde as relações entre pessoas que circulam entre o dentro e o fora da prisão até a maneira como a administração das unidades de privação de liberdade funciona. A partir de uma pesquisa etnográfica realizada em uma unidade socioeducativa de internação provisória, pude observar como essa porosidade pode ser pensada não só por suas dimensões estáticas, mas também pelo foco na circulação urbana, mais especificamente a partir do trajeto de um transporte público coletivo. Nesse sentido, neste artigo busco refletir sobre a relação entre a circulação urbana, a segurança pública e o sistema socioeducativo a partir de relatos de meus interlocutores sobre uma linha de ônibus específica que conecta a Zona Sul e a Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e por vezes acaba por criar outros pontos de conexão: a prisão para esses adolescentes que se representam como passageiros que não pagam a passagem. Assim, tratarei de questões que se relacionam não só com o controle social e o crime, mas também da circulação de determinados grupos pela cidade e sua relação com a privação de liberdade.
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