Povo de Israel: representações sobre acolhimento, extorsão, violência e humilhação em dois presídios da região metropolitana do Rio de Janeiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i3.a57950

Palavras-chave:

Povo de Israel, “Caixinha”, Dinheiro, “Solução”, Violência.

Resumo

Este artigo objetiva apresentar as representações de ex-detentos que estiveram em dois presídios da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro acerca do surgimento, do conjunto de regras e moralidades do coletivo prisional denominado Povo de Israel (“Rael”), coletivo formado por presos que não foram aceitos pelos demais coletivos em razão dos crimes praticados (estupro, estelionato, entre outros) e/ou por aqueles que traíram e foram dissidentes de seu grupo de origem. A pesquisa se deu através de entrevistas com os interlocutores em situação de liberdade, algumas delas realizadas pelo WhatsApp, durante a pandemia. Os relatos evidenciaram diferentes representações da circulação de valores e da regulação de conflitos entre os presos do “Rael”. Assim, busca-se refletir sobre tais representações a partir da “caixinha” – que, para uns, consiste em uma espécie de fundo que aloca determinada quantia em dinheiro para ser revertida em favor dos próprios detentos, usada por novatos, por exemplo, na compra de itens de higiene pessoal e/ou produtos que serão revendidos no presídio ou mesmo com o objetivo de prover a aquisição de bens necessários ao uso comum em cada cela e, para outro, se trata de uma forma de extorsão – e a da prática da “solução” – que, para uns, seria um julgamento legítimo que ocorre entre os detentos e pode ter como pena um castigo físico e, para outro, configura “um espancamento brutal”. Por fim, esperamos produzir uma contribuição qualitativa para a discussão sobre o sistema prisional no contexto do Rio de Janeiro.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jaider dos Santos Costa, Universidade Federal Fluminense

Professor II de História na Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia de Três Rios. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense.

José Colaço Dias Neto, Universidade Federal Fluminense

Professor Associado do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense

Referências

BIONDI, Karina. Junto e misturado: Uma Etnografia do PCC. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2010.

BRASIL. Lei Federal n.º 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal – LEP). Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em: 1 mar. 2023.

CARDOSO DE OLIVEIRA, Luis Roberto. Existe Violência Sem Agressão Moral?. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, Vol. 23, n.º 67, junho/2008, p. 135-146.

CIPRIANI, Marcelli. Os coletivos criminais de Porto Alegre entre a “paz” na prisão e a guerra na rua. 2019. Dissertação (Mestrado área de Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019. Disponível em: https://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/24783/1/000503197-Texto%2bcompleto-0.pdf. Acesso em: 17 jul. 2024.

COELHO, Edmundo Campos. Oficina do Diabo e outros escritos prisionais. Rio de janeiro: Record, 2005.

DAN, Evelin Mara Cáceres. A sujeição classificatória dos criminosos: uma pesquisa em métodos mistos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2020.

DIAS, Camila Caldeira Nunes. Disciplina, controle social e punição: o entrecruzamento das redes de poder no espaço prisional. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 29, n. 85, jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/89WFQCfKPYNkgp8BLwHb8FG/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 31 dez. 2022.

DICIONÁRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS. Equipe de Editoração: Benedicto Silva et al. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1987.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.

GRILLO, Carolina Christoph. Coisas da vida no crime: tráfico e roubo em favelas cariocas. 2013. Tese (Doutorado área de Ciência Humanas – Antropologia Cultural) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://www.neip.info/upd_blob/0001/1540.pdf. Acesso em: 17 jul. de 2024.

LOURENÇO, Luiz. Facções criminosas: um balanço da produção acadêmica no Brasil (2000-2022). Revista de Ciências Sociais: RCS, Ceará, v. 53, n. 3, p. 167-197, 2022. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/revcienso/article/view/80706. Acesso em: 23 nov. 2023.

MARTINS, Isabella Mesquita. “A SEAP NÃO TEM QUE COMUNICAR NADA PRA NINGUÉM” – Fluxos de comunicação e de informação na gestão penitenciária do Rio de Janeiro. 2021. Dissertação (Mestrado em Justiça e Segurança) – Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2021. Disponível em: https://ppgjs.uff.br/dissertacoes-2021/. Acesso em: 17 jul. 2024.

MARTINS, Luana Almeida. Entre a pista e a cadeia: uma etnografia sobre a experiência da internação provisória em uma unidade socioeducativa no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Autografia, 2020.

MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a Dádiva. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosacnaify, 2003. p. 185-314.

MISSE, Michel. Trocas ilícitas e mercadorias políticas: para uma interpretação de trocas ilícitas e moralmente reprováveis cuja persistência e abrangência no Brasil nos causam incômodos também teóricos. Anuário Antropológico/2009, v. 2, p. 89-107, 2010.

PORTO, Maria Stela Grossi. Sociologia da Violência: do conceito às representações sociais. Brasília, Editora Francis, 2010.

RAMALHO, José Ricardo. Mundo do crime: a ordem pelo avesso. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/4dp27/pdf/ramalho-9788599662267.pdf. Acesso em: 23 nov. 2023.

SERRANO, Francisco José. A história das facções criminosas no estado do Rio de Janeiro (1976 a 2010). 2012. Dissertação (Mestrado em História Social do Território) – Centro de Educação e Humanidades, Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2012.

SIMMEL, Georg. Philosophie de l’argent [Filosofia do Dinheiro]. Paris: Presses Universitaires France, 2009.

Downloads

Publicado

2024-08-28

Como Citar

Costa, J. dos S., & Dias Neto, J. C. (2024). Povo de Israel: representações sobre acolhimento, extorsão, violência e humilhação em dois presídios da região metropolitana do Rio de Janeiro. Antropolítica - Revista Contemporânea De Antropologia, 56(3). https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i3.a57950

Edição

Seção

Artigos