Matica: migrantes venezuelanos e redes migratórias em Boa Vista Roraima
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a58818Palavras-chave:
Migração venezuelana, Redes pessoais, Redes sociais, Redes migratórias, Trabalho informal.Resumo
Migração é um fenômeno contemporâneo no Brasil. O mais acentuado é a dos venezuelanos que entram ao território brasileiro a partir da cidade de Pacaraima que faz fronteira com a Venezuela. Esta cidade está localizada no Estado de Roraima. A maioria teve como destino em um primeiro momento a capital deste Estado A migração é um fenômeno contemporâneo no Brasil, destacando-se especialmente a dos venezuelanos que entram no território brasileiro pela cidade de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Esta cidade está localizada no Estado de Roraima, e a maioria dos migrantes tem como destino inicial a capital deste Estado. O presente artigo possui dois objetivos. Primeiramente, compreender a construção das redes migratórias em três espaços de sociabilidade dos migrantes venezuelanos. Em segundo lugar, analisar o papel dessas redes no processo migratório venezuelano em Boa Vista, Roraima. Para atingir esses objetivos, descrevemos a organização e a dinâmica de três espaços de sociabilidade chamados de maticas. Esses espaços estão localizados no perímetro urbano da capital do estado de Roraima. Os migrantes venezuelanos utilizam esses espaços para oferecer sua força de trabalho de maneira informal, uma vez que não têm interesse no trabalho formal, devido a estratégias de sobrevivência. Nossa metodologia incluiu pesquisa bibliográfica sobre a migração venezuelana e a realização de etnografia participante, na qual ouvimos as narrativas de três migrantes venezuelanos, os integrantes mais antigos de cada espaço. Seguindo a abordagem de Clifford Geertz (1989), buscamos interpretar em segunda ou terceira mão a cultura dos migrantes que interagem nesses espaços. As maticas funcionam como redes de acolhimento migratório tanto em âmbito nacional quanto internacional. Nesses espaços, são construídas redes pessoais, sociais e migratórias, permitindo que os migrantes enfrentem a exclusão a que são submetidos por meio da interiorização da Operação Acolhida, conforme relatado por nossos interlocutores.
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