Relações de contato na Terra Indígena Mãe Maria (PA): O mito Hàkti mẽ Kuhỳ (Gavião real e Fogo)
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a58881Palavras-chave:
Mito, Território, Resistência, Povo Gavião (Kỳikatêjê, Parkatêjê e Akrãtikatêjê).Resumo
Durante a segunda metade do século XX, a Amazônia foi palco da intensificação das ditas políticas de colonização do Estado brasileiro. Esse processo teve como consequência o deslocamento compulsório do povo indígena Gavião (Kỳikatêjê, Parkatêjê e Akrãtikatêjê) para a Terra Indígena Mãe Maria, localizada no sudeste do Pará. O artigo analisa como as lideranças indígenas pensam o mito Hàkti mẽ Kuhỳ (Gavião real e Fogo) enquanto discurso cuja interpretação é mobilizada à luz das vicissitudes do contexto das tratativas das relações com a mineradora Vale S/A, situa as articulações internas das alianças intergrupais, as estratégias discursivas e certas compreensões nos usos de sua própria língua e da língua portuguesa e na defesa dos interesses territoriais. A orientação metodológica da pesquisa de campo antropológica, se situa no acompanhamento das relações entre os Gavião e a Vale S/A entre 2018 e 2022 no âmbito das políticas de renovação de convênio, no registro das reuniões, encontros dos caciques e das implicações dos saberes tradicionais em situações de conflito. A conjuntura das lutas e formas de organização Gavião nos últimos anos, sublinhando rapidamente a complexidade da vida indígena na Terra Indígena Mãe Maria são articuladas ao mito referenciado como parte do próprio processo de transformação da sociedade e da cultura, sendo, portanto, chave de leitura significativa no intento de perceber como os termos próprios do pensamento indígena Gavião são pensados a partir do contato com a presença não indígena.
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