Achessmosfera: considerações sobre a condição atmosférica do xadrez
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a59180Palavras-chave:
Atmosfera, Xadrez, Percepção, Atenção.Resumo
Em face do reducionismo cognitivista, que transforma a rica experiência do enxadrismo em meros cálculos frios, este artigo busca restaurar a atmosfera do xadrez. Para tanto, a partir de revisões bibliográficas, observações participantes e autoenográficas, o escrito se propõe a fornecer uma caracterização inicial da atmosfera que chamaremos de “floresta de peças”. A fim de captar as nuances atmosféricas de cada modalidade, compara-se, aqui, as condições de engajamento no xadrez físico e virtual. A seleção bibliográfica elenca nomes e obras concernentes direta (como Tim Ingold e Hans Gumbrecht) ou indiretamente (como James Gibson e Anna Tsing) ao discutir o conceito de “atmosfera”. Quanto aos exemplos de campo, os dados obtidos presencialmente foram coletados ao longo das vivências pessoais de um dos autores com a prática nos últimos anos, enquanto os dados obtidos remotamente – através de vídeos e redes sociais – foram obtidos ao longo da escrita deste texto. O escrito conclui que as condições atmosféricas da partida, longe de figurarem como mero acessório ou pano de fundo, são constitutivas da experiência enxadrista e, portanto, devem ser levadas a sério em qualquer investigação sobre a prática.
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