Intercorporeidade, interafetividade e atmosferas: por uma ciência social de “climas”, “vibes” e “danças” interacionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a59881

Palavras-chave:

Atmosfera Afetiva, Intersubjetividade, Intercorporeidade, Interafetividade, Depressão.

Resumo

Este artigo mobiliza o conceito de “atmosferas afetivas” para repensar criticamente a relação entre subjetividades individuais e situações intersubjetivas nas ciências sociais. Na esfera subjetiva, afetos são apresentados como estados experienciais cujo caráter geral e difuso dá a eles a capacidade de impregnar, com sua própria tonalidade, as transações do indivíduo com seu ambiente. Na esfera intersubjetiva, atmosferas afetivas são tomadas como capazes de atravessar e impregnar os estados de afeto dos indivíduos imersos em uma situação social. O trabalho aborda as relações entre afetos individuais e atmosferas afetivas situacionais como empiricamente variáveis, abarcando todo o continuum entre os extremos ideal-típicos da permeabilidade e da impermeabilidade absolutas do indivíduo frente a suas situações. Desenvolvendo os conceitos de “intercorporeidade” e “interafetividade” como constitutivos da ideia de “atmosfera afetiva”, o texto critica concepções demasiado intelectualistas de intersubjetividade nas ciências sociais. Finalmente, as dessintonias afetivas experimentadas por indivíduos em depressão frente às atmosferas de afetos dos seus ambientes são examinadas como um estudo de caso.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gabriel Peters, Universidade Federal de Pernambuco

Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco. Doutor em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Referências

ANDERSON, Ben. Affective atmospheres. Emotion, Space and Society, Amsterdam, v. 2, n. 2, p. 77–81, 2009.

BERGER, Peter. Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa época pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017.

BHASKAR, Roy. A realist theory of science. London: Routledge, 2008.

BÖHME, Gernot. The aesthetics of atmospheres. London: Routledge, 2017.

BOURDIEU, Pierre. Sociologia. Organizado por Renato Ortiz. São Paulo: Ática, 1983.

BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Petrópolis: Vozes, 2009.

BOUVERESSE, Jacques. Prodígios e Vertigens da Analogia: o abuso das belas-artes no pensamento. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

BRENNAN, Teresa. The transmission of affect. Ithaca: Cornell University Press, 2004.

CLOUGH, Patricia Ticineto; HALLEY, Jean (org.). The affective turn: theorizing the social. Durham: Duke University Press, 2007.

CONNOLY, William. Neuropolitics: thinking, culture, speed. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2002.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

DURKHEIM, Émile. O suicídio. São Paulo: Martin Claret, 2003.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2010.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1977.

FUCHS, Thomas. The tacit dimension. Philosophy, Psychology & Psychiatry, Baltimore, v. 8, n. 4, p. 323–326, 2001.

FUCHS, Thomas. The challenge of neuroscience: psychiatry and phenomenology today. Psychopathology, Basel, v. 35, n. 6, p. 319–326, 2002.

FUCHS, Thomas. Depression, Intercorporeality and Interaffectivity. In: RATCLIFFE, Matthew; STEPHAN, Achim (org.). Depression, emotion and the self. Exeter: Imprint Academic, 2014. p. 219-238.

GALLAGHER, Shaun. Philosophical antecedents of situated cognition. In: ROBBINS, Phillip; AYDEDE, Murat. The Cambridge Handbook of situated cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. p. 35–52.

GEERTZ, Clifford. Local knowledge: further essays in interpretive anthropology. New York: Basic Books, 1983.

GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

GOFFMAN, Erving. Behavior in public places. New York: Free Press, 1963.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1975.

GREGG, Richard Bartlett. The power of nonviolence. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. DOI: 10.1017/9781316671351

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Rio de Janeiro: PUC/Contraponto, 2014.

HOGGET, Paul; THOMPSON, Simon. Introduction. In: HOGGET, Paul; THOMPSON, Simon. Politics and the emotions: the affective turn in contemporary political studies. New York/London: Bloomsbury, 2012. p. 1–20.

HONNETH, Axel. The struggle for recognition: the moral grammar of social conflicts. Cambridge: Polity, 1995.

KING JR., Martin Luther. Foreword to the 1959 edition. In: GREGG, Richard Bartlett. The power of nonviolence. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 13–14.

LIZARDO, Omar. “Mirror Neurons,” Collective Objects and the Problem of Transmission: Reconsidering Stephen Turner’s Critique of Practice Theory. Journal for the Theory of Social Behavior, Hoboken, v. 37, n. 3, p. 319–50, 2007.

MCLUHAN, Marshall Understanding Media: The Extensions of Man. Cambridge: MIT Press, 1994.

MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1971.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

MERLEAU-PONTY, Maurice. A estrutura do comportamento. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

MEYER, Birgit. Mediation and Immediacy: Sensational Forms, Semiotic Ideologies and the Question of the Medium. Social Anthropology, Hoboken, v. 19, n. 1, p. 23–39, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1111/j.1469-8676.2010.00137.x. Acesso em: 12 jun. 2024.

MORTON, Timothy. Ecology without nature: rethinking environmental aesthetics. Cambridge: Harvard University Press, 2007.

PETERS, Gabriel. A ordem social como problema psíquico: do existencialismo sociológico à epistemologia insana. São Paulo: Annablume, 2017.

PETERS, Gabriel. A virada praxiológica. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 123, p. 167–188, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.4000/rccs.11308. Acesso em: 12 jun. 2024.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Lisboa: Dom Quixote, 1986.

PLATH, Sylvia. A redoma de vidro. São Paulo: Biblioteca Azul, 2019.

PORPORA, Douglas. Critical realism as relational sociology. In: DÉPELTEAU, François. The Palgrave Handbook of Relational Sociology. New York: Palgrave Macmillan, 2018. p. 413-430.

RECKWITZ, Andreas. Toward a theory of social practices: a development in culturalist theorizing. European Journal of Social Theory, London, v. 5, n. 2, p. 243-263, 2002.

RATCLIFFE, Matthew. Experiences of depression: a study in phenomenology. Oxford: Oxford University Press, 2015.

REINHARDT, Bruno. Atmospheric presence: reflections on “mediation” in the anthropology of religion and technology. Anthropological Quarterly, Baltimore, v. 93, n. 1, p. 1523–1554, 2020. Disponível em: https://www.doi.org/10.1353/anq.2020.0021. Acesso em: 12 jun. 2024.

RIEDEL, Friedlind. Atmosphere. In: SLABY, Jan; SCHEVE, Christian von. Affective Societies: key concepts. London: Routledge, 2019. p. 85-95.

SIMMEL, Georg. Sociology: Inquiries into the Construction of Social Forms. Leiden: Brill, 2009.

TRIGG, Dylan (org.). Atmospheres and shared emotions. London: Routledge, 2022.

VANDENBERGHE, Frédéric. Teoria social realista: um diálogo franco-britânico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

Downloads

Publicado

2024-08-01

Como Citar

Peters, G. (2024). Intercorporeidade, interafetividade e atmosferas: por uma ciência social de “climas”, “vibes” e “danças” interacionais. Antropolítica - Revista Contemporânea De Antropologia, 56(2). https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a59881

Edição

Seção

Dossiê Temático