A Cidade Baixa é de quem a pratica: apropriações juvenis de um bairro boêmio a partir das ruas
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a60099Palavras-chave:
Jovens, Rua, Ocupação, Festa, Funk.Resumo
Este texto trata de pesquisa etnográfica em que observei como o encontro de corpos juvenis com a dança, com bebidas alcoólicas e com o ritmo do funk compõe uma versão particular do espaço urbano, mais particularmente da Cidade Baixa, um bairro em Porto Alegre/RS, Brasil, conhecido por sua intensa vida noturna. Analisei a ocupação das ruas do bairro por jovens a partir da combinação de dois contextos: da pesquisa realizada entre 2019 e 2021, que culminou em minha dissertação, e da observação da continuidade das dinâmicas rueiras no período posterior à pandemia de covid-19. Inspirada em Certeau (2014), parto da noção de que a Cidade Baixa é praticada a partir das sociabilidades que imprimem uma lógica específica em seu cotidiano, em que os deslocamentos são uma dimensão fundamental. Mais do que isso, argumento que a ocupação das ruas do bairro por esses jovens transcende o caráter do entretenimento, fazendo da festa um mecanismo de reivindicação política da cidade e de seus lugares.
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