Entre o welatparestî e o natewparestî: as formas antagônicas da autonomia curda

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a62113

Palavras-chave:

Curdos, Partido dos Trabalhadores do Curdistão, Confederalismo Democrático, Antropologia Política, Sociedades contra o Estado.

Resumo

Baseado em trabalho etnográfico no Curdistão Iraquiano e entre a diáspora curda na Europa, este artigo discorre sobre a construção curda como um povo que tem na busca pela autonomia uma das principais características de sua identidade. Essa autonomia, porém, não se constrói de forma unitária, mas toma forma em dois grandes projetos de libertação curda, um welatparest e outro natewparest: o primeiro uma autonomia contra o Estado, materializada no projeto do Confederalismo Democrático e liderada pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão, e o segundo uma autonomia dependendo do Estado, concretizada no projeto do Governo Regional Curdo no Iraque e liderada principalmente pelo clã Barzani. O artigo mostra ainda como ambos os projetos refletem interesses de classes antagônicos da sociedade curda e disputam a identidade curda em si, além dos caminhos do movimento da autodeterminação do Curdistão, tanto no território quanto na diáspora. O artigo ainda mostra como a indigenização do movimento de libertação curdo levou a uma intersecção de lutas, resultando paradoxalmente na sua internacionalização. Ao reivindicar uma autonomia que se contrapõe ao modelo estatal e ao nacionalismo convencional, o campo welatparest encontrou ressonância em movimentos indígenas, autonomistas e anticoloniais ao redor do mundo. Esse processo permitiu que o Confederalismo Democrático se tornasse não apenas uma proposta local, mas uma referência transnacional para lutas contra o Estado e o capitalismo, articulando alianças que vão além das fronteiras curdas e ampliando o escopo da sua reivindicação de autodeterminação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José Vicente Mertz, Universidade de Lisboa

Doutorando em Antropologia do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, bolsista de investigação através do Centro de Administração e Políticas Públicas.

Referências

AKKAYA, Ahmet Hamdi; JONGERDEN, Joost. Reassembling the Political: The PKK and the project of Radical Democracy. European journal of Turkish Studies, [s. l.], n. 14, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.4000/ejts.4615. Acesso em: 29 jan. 2025.

AKKAYA, Ahmet Hamdi; JONGERDEN, Joost. Confederalism and autonomy in Turkey – The Kurdistan Workers’ Party and the reinvention of democracy. In: GUNES, Cengiz; ZEYDANLIOĞLU, Welat (org.). The Kurdish Question in Turkey: New Perspectives on Violence, Representation and Reconciliation. London: Routledge, 2017. p. 186-204.

ANTEBY-YEMINI, Lisa; BERTHOMIÈRE, William. Diaspora: A Look Back on a Concept. Bulletin du Centre de recherche français à Jérusalem, Jérusalem, n. 16, p. 262-270, 2005.

ASLAN, Azize. Economía anticapitalista en Rojava – Las Contradiciones de la Revolución en la Lucha Kurda. Guadalajara: Cátedra Interinstitucional Jorge Alonso – Universidad de Guadalajara, 2020.

AYDIN, Delal. Mobilising the Kurds in Turkey: Newroz as a myth. Ancara: Middle East Technical University, 2005.

BASH, Linda; SCHILLER, Nina Glick; BLANC, Cristina Szanton. Nations unbound: Transnational projects, postcolonial predicaments, and deterritorialized nation-states. London: Routledge, 1994.

BRUINESSEN, Martin van. Between Guerrilla War and Political Murder: The Workers’ Party of Kurdistan. Middle East Report, Exeter, n. 153, p. 40, 1988.

BRUINESSEN, Martin van. Agha, Shaikh and State. London: Zed Books, 1992.

BRUINESSEN, Martin Van. Nationalisme kurde et ethnicités intra-kurdes. Peuples Méditerranéens, Paris, v. 68-69, p. 11-37, 1994.

BRUINESSEN, Martin van. The Kurds in movement: migrations, mobilisations, communications and the globalisation of the Kurdish question. Tokyo: Islamic Area Studies Project, 1999.

BRUINESSEN, Martin van. Erken 21. Yüzyılda Kürt Kimlikleri ve Kürt Milliyetçilikleri. In: AKTOPRAK, Elçin; KAYA, A. Celil (org.). 21. Yüzyılda Milliyetçilik: Teori ve Siyaset. Istanbul: İletişim, 2016. p. 349-373.

ÇAĞLAYAN, Handan. From Kawa the Blacksmith to Ishtar the Goddess: Gender Constructions in Ideological-Political Discourses of the Kurdish Movement in post-1980 Turkey. European Journal of Turkish Studies, [S. l.], v. 14, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.4000/ejts.4657. Acesso em: 29 jan. 2025.

CLASTRES, Pierre. A Sociedade Contra o Estado. Lisboa: Antígona, 2018.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2019.

FERREIRA, Andrey Cordeiro. Societies “against” and “in” the state – from exiwa to the retakings: Territory, autonomy and hierarchy in the history of the indigenous peoples of chaco-pantanal. Vibrant Virtual Brazilian Anthropology, Brasília, DF, v. 15, n. 2, 2018. Disponível em: https://journals.openedition.org/vibrant/2731?lang=pt. Acesso em: 29 jan. 2025.

GRUEBAČIĆ, Andrej; O’HEARN, Denis. Living at the edges of capitalism: Adventures in exile and mutual aid. Berkeley: University of California Press, 2016.

HUMAN RIGHTS WATCH. Genocide in Iraq: The Anfal Campaign Against the Kurds. New York: Human Rights Watch, 1993.

JONGERDEN, Joost. Colonialism, Self-Determination and Independence: The new PKK paradigm. In: GUNTER, Michael (ed.). Kurdish Issues: Essays in honor of Robert W. Olson. Costa Mesa: Mazda Publishers, 2016. p. 106-121.

KCK, Komalên Jinên Kurdistan. Carta del Movimiento de Mujeres de Kurdistán a María de Jesús Patricio Martínez, vocera del Consejo Indígena de Gobierno #CIG #CNI. Centro de Medios Libres, San Cristóbal de las Casas, 19 jun. 2017. Disponível em: https://www.centrodemedioslibres.org/2017/06/19/carta-del-movimiento-de-mujeres-de-kurdistan-a-maria-de-jesus-patricio-martinez-vocera-del-consejo-indigena-de-gobierno-cig-cni/. Acesso em: 29 jan. 2025.

KHANÎ, Ahmedê. Mem et Zîn. Paris: Editions L’Harmattan, 2002.

KHAYATI, Khalid. From victim diaspora to transborder citizenship? Diaspora formation and transnational relations among Kurds in France and Sweden. Linköping: Linköping University, 2008.

KREYENBROEK, Philip G. On the Kurdish language. In: KREYENBROEK, Philip G.; SPERL, Stefan (org.). The Kurds: A Contemporary Overview. London: Routledge, 1992. p. 53-65.

LEACH, Edmund. Political Systems of Highland Burma. New York: Routledge, 2020.

MCDOWALL, David. A Modern History of the Kurds. London: I. B. Tauris, 2021.

ÖCALAN, Abdullah. Guerra e Paz no Curdistão. Köln: International Initiative, 2008.

ÖCALAN, Abdullah. Democratic Nation. Köln: International Initiative, 2016.

ÖCALAN, Abdullah. The Sociology of Freedom: Manifesto of the Democratic Civilization, Volume III. Oakland: PM Press, 2020.

SCOTT, James C. The Art of Not Being Governed: An Anarchist History of the Upland Southeast Asia. London: Yale University Press, 2009.

SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se Negro, ou Ou As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

SRIHARAN, Sitharthan. Kurds, Stateless nations: Tamil solidarity with the Kurds. Green Left, Utrecht, n. 1085, 28 fev. 2016. Disponível em: https://www.greenleft.org.au/content/stateless-nations-tamil-solidarity-kurds. Acesso em: 29 jan. 2025.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os Involuntários da Pátria: Reprodução de Aula pública realizada durante o ato Abril Indígena, Cinelândia, Rio de Janeiro 20/04/2016. ARACÊ – Direitos Humanos em Revista, São José dos Pinhais, v. 4, n. 5, 2017. Disponível em: https://periodicos.newsciencepubl.com/arace/article/view/541. Acesso em: 29 jan. 2025.

ZACHEN, Mordechai. The Jewish communities in Kurdistan within the tribal Kurdish society. In: GUNTER, Michael (org.). Routledge Handbook on the Kurds. New York: Routledge, 2019. p. 182-201.

Downloads

Publicado

2025-05-02

Como Citar

Mertz, J. V. (2025). Entre o welatparestî e o natewparestî: as formas antagônicas da autonomia curda. Antropolítica - Revista Contemporânea De Antropologia, 57(1). https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a62113

Edição

Seção

Artigos